Candidatos a ministro do Supremo Tribunal Federal, sujeitos a sabatina e voto no Senado para terem seus nomes confirmados, sempre contaram com o apoio do Palácio do Planalto para facilitar seu caminho.
Não é bem o que está acontecendo com o "terrivelmente evangélico" pastor André Mendonça, advogado-geral da União que Jair Bolsonaro quer ver na corte.
Pelo menos quatro senadores relataram o mesmo: Mendonça, com quem nunca haviam trocado uma palavra, os procurou pessoalmente, pelo telefone, para marcar encontros e se apresentar. Ele tem ido inclusive aos estados de quem não está em Brasília.
A queixa poderia se encaixar à perfeição ao clima de insatisfação geral do centrão com o presidente devido ao imbróglio do fundão partidário para 2022 –o grupo busca agora ocupar a Casa Civil. Mas os políticos aqui citados são de outros partidos.
Se a tática busca mostrar humildade, especialmente ante a oposição a Mendonça comandada pelo presidente da Comissão e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o tiro parece ter saído pela culatra.
Esses senadores afirmam que o movimento inusual sugere falta de articulação do Planalto, que preferiu um método mais heterodoxo para fazer valer sua vontade: reconduzir o procurador-geral da República, Augusto Aras.
Aliado de Bolsonaro, Aras ainda alimentava esperança de ganhar a vaga para o Supremo caso a resistência a Mendonça crescesse a ponto de insinuar uma rejeição inédita em tempos modernos -seu histórico de defesa cega do chefe incomoda, além de que Alcolumbre e outros veem uma chance de espicaçar o Planalto.
Apesar de sua fidelidade ao Planalto, Aras é visto como um nome mais preparado do que Mendonça por parte dos senadores.
Ao reconduzi-lo, o presidente oferece um prato feito. Nem todos gostaram: outros dois senadores, que não foram ainda procurados por Mendonça, disseram que o movimento de Bolsonaro fará aumentar a resistência ao advogado-geral.
Ainda há tempo, com o recesso do Congresso, para costurar os acordos. A sabatina de Mendonça pode ficar só para setembro, a depender do passo das negociações. Ao fim, creem alguns senadores mais experientes, as ameaças de rejeição a seu nome devem ficar só nisso.
O indicado ao Supremo precisa de 41 de 81 votos, em sufrágio secreto, na Casa. Estima-se que já tenha por volta de 30 garantidos, o que torna sua missão não tão espinhosa -ainda que significativa da dificuldade de o governo Bolsonaro fazer política.
Em tempos mais normais, a articulação no Planalto conversaria primeiramente com os senadores, daria ouvidos a suas posições e demandas, buscaria retirar temores sobre as posições do candidato e amaciaria o caminho para que Mendonça se apresentasse.
Ocorre que há um curto-circuito desde a reforma ministerial de abril no setor. A responsável pelo trabalho, Flávia Arruda (Secretaria de Governo), é vista como de mãos amarradas pela cozinha militar do Planalto. Seu antecessor, general Luiz Eduardo Ramos, agora na Casa Civil, busca avalizar ele mesmo acordos.
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