No dia em que se completam dois anos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), familiares de vítimas fazem protestos na cidade onde ocorreu o desastre, em São Paulo e em outros locais atingidos em Minas Gerais e reforçam um número que vem sendo repetido há tempos por eles: 272.
Apesar de as contagens oficiais falarem em 270 mortos, 11 deles ainda não localizados, as famílias contam também os dois bebês que estavam nas barrigas de mães mortas no desastre.
"Eu assisti ao exame morfológico do Lorenzo no dia 21 de janeiro. Ouvi o coração batendo, vi ele se mexendo na barriga da Fernanda", conta Helena Taliberti, falando da nora Fernanda, 30, casada com seu filho Luiz, 31, e que estava grávida de cinco meses. Todos eles morreram no desastre.
"Era toda uma alegria porque a família estava crescendo, era meu primeiro neto... Eu não tenho mais filhos, não vou ter mais nada, a minha família acabou."
Além do filho, Helena perdeu a filha Camila, 33, que viajava com o irmão, a cunhada, o pai, Adriano da Silva, 61, e a esposa dele, Maria Lurdes Bueno, 58 – a madrasta é uma das 11 vítimas ainda não localizadas. A família se hospedou na Pousada Nova Estância, que foi soterrada pela lama. Hoje, Helena preside o instituto que leva o nome dos filhos: Instituto Camila e Luiz Taliberti.
Para marcar os dois anos do desastre, durante o dia, estão sendo realizados eventos em São Paulo, organizados pelo instituto, e em Brumadinho, coordenados por outras famílias, além de protestos contra a Vale em municípios atingidos.
A programação em Brumadinho teve transmissão nas redes sociais da Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Minas Córrego do Feijão Brumadinho) como tem ocorrido nos dias 25 de todo mês, seguindo protocolos de segurança por causa da pandemia de Covid-19.
A associação é presidida por Josiane Melo, irmã de Eliane de Oliveira Melo, que, assim como Fernanda estava grávida, quando morreu no desastre. Eliane esperava por Maria Elisa e também estava perto do quinto mês de gestação.
A Vale diz que trata os casos dos nascituros individualmente, respeitando a privacidade das famílias envolvidas.
Em São Paulo, o Instituto Camila e Luiz Taliberti organizou eventos na avenida Paulista. Foram coladas fotos entre as ruas Ministro Rocha Azevedo e Pamplona, além de faixas com os dizeres: "Tragédia de Brumadinho 25.01.19 - 272 vidas interrompidas". Pelas redes sociais, o instituto mostrou o plantio de 272 árvores junto à Fundação SOS Mata Atlântica, em Itu (SP), e lançou a campanha "#PlanteiPorBrumadinho", na qual convida as pessoas a plantarem mudas em homenagem às vítimas.
O instituto foi uma ideia de amigos dos irmãos, com propósito de ações em defesa do meio ambiente e de pessoas vulneráveis, especialmente em questões de gênero.
"O instituto traz o legado da Camila e do Luiz. A Camila era uma advogada que tinha atuação pro bono defendendo mulheres vítimas de violência, e o Luiz era um arquiteto que morava na Austrália havia quase cinco anos, que trabalhava com perspectiva de defesa do meio ambiente sobre ser possível construir sem destruir", diz Vagner Diniz, padrasto dos dois e diretor administrativo do instituto.
"A tragédia não aconteceu em 25 de janeiro de 2019. Ela começou em 25 de janeiro e não terminou. A gente fica sabendo todos os dias de fatos, de estudos, que mostram claramente que isso não poderia ter acontecido", diz ele.
Na manhã desta segunda-feira (25), atingidos interromperam o trânsito na MG-155, em Betim, em protesto por reparações por parte da Vale. Em São Joaquim de Bicas, vias de acesso de caminhões da Vale foram fechadas em protestos contra a falta d'água e reivindicando acesso à saúde, segundo informações do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).
No discurso durante o evento que marcou um ano do rompimento, em 2020, o governador Romeu Zema (Novo) também adotou a conta dos familiares, citando 272 vítimas. Zema se reuniria com as famílias e na tarde desta segunda, em Brumadinho.
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