AGÊNCIA FOLHAPRESS - Ana Maria Arruda ainda tem medo de ir à região atingida pelo rompimento da barragem de dejetos que ocorreu na terça-feira (1) na área da mineradora VM, há cinco quilômetros de sua casa. Ela vive com o neto e o marido em uma pequena propriedade rural na comunidade de Capão Bonito, em Nossa Senhora do Livramento, em Mato Grosso.
"Não quero ir lá olhar, vai que acontece como com as pessoas lá de Minas Gerais. Desaba tudo e ficamos todos presos na lama", diz a senhora de 49 anos que vive de agricultura de subsistência como grande parte dos moradores locais, que também atuam na fabricação caseira de queijos e doces.
Na área vizinha a mineradora de ouro estão quatro comunidades tracionais do Pantanal: Tanque Belo, Capão Bonito, Cedral e Brejal, com cerca de 54 famílias.
"Todos os moradores das comunidades ficaram sem luz por três dias e muitos perderam os alimentos que estocavam. A maioria ficou sem água depois do acidente por não ter acesso aos poços artesianos que abastecem as casas", afirma a vice-presidente da associação de moradores de Cedral de cima e região, Sonia Monteiro Maciel.
Parte do município de Poconé também foi atingido pela falta de luz causada pelo rompimento da rede elétrica durante o acidente. Na tarde de quinta-feira (3), a luz foi religada. A barragem que rompeu guardava restos de mineração, proveniente de lavra de ouro, com 15 metros de altura, tinha volume armazenado de 582.171,51 metros cúbicos.
Dois funcionários da VM tiveram ferimentos leves. O operador de máquinas Fernando da Silva, 33, e o motorista Luciano Nascimento, 42, se feriram ao tentar escapar.
A barragem da mineradora foi uma das primeiras entre as 190 de Mato Grosso a serem inseridas no SNISB (Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens). Entre as 22 barragens do município, o tanque da VM foi o único a ser considerada de baixo risco; outras cinco estão apontadas como de médio risco.
O proprietário da empresa diz ainda não saber qual seria a causa do rompimento. "Antes mesmo do acidente de Brumadinho, recebemos uma fiscalização e fizemos varias medidas de contenção somatórias aos cuidados que já tomávamos.
No momento minha preocupação era isolar a área. Agora é limpar todos os danos. Apenas o laudo da causa do acidente poderá revelar o que aconteceu", afirma Marcelo Takahashi, proprietário da VM que arrendava a área onde aconteceu o rompimento da barragem.
O laudo deverá ser publicado em trinta dias. O prefeito de Nossa Senhora do Livramento, Silmar Souza, visitou a área do acidente na quinta (3) e diz ainda estar apreensivo com a situação de uma possível contaminação dos rios.
"A nossa preocupação é que o Ribeirão Bento Gomes, que está próximo da região, seja atingido pelos dejetos. A secretaria municipal de saúde coletou amostras de contaminação das águas das comunidades. O resultado deve ser divulgado na próxima semana", diz o prefeito. Ribeirão Bento Gomes é a principal fonte de abastecimento de Poconé, com 32 mil habitantes.
A contaminação da água é um dos possíveis danos ambientais do rompimento da barragem. Como grande parte da população local utiliza poços artesianos, caso exista contaminação poderá prejudicar a saúde dos moradores das comunidades locais.
O proprietário da empresa VM afirma que os dejetos da barragem não continham nenhum matéria poluente. "Eram rejeitos de mineração inerte. Explicando de forma leiga, minério extraído da mina, britado e com adição de água".
Em janeiro, o ribeirão apresentou mudança de coloração em suas águas, e a VM foi uma das empresas fiscalizadas como possível causadora do dano.
Um laudo de fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso atestou não haver conexão com a mineradora, uma barragem de Poconé foi autuada como a causadora da poluição.
"Desde essa época fazemos a medição dos corpos de água próximo a nossa região de atuação e dos poços artesianos de nosso vizinhos. Nunca apareceu nenhum traço de contaminação da água", diz o responsável pela VM.
Segundo a mineradora, nesta sexta (4) toda a área atingida pelos dejetos da barragem foi isolada. Mesmo com chuva, não há mais riscos de que o dano se espalhe.
Os cálculos sobre os prejuízos das propriedades atingidas ainda não foram estimados e não há previsão da liberação da estrada que era usada como acesso às quatro comunidades.
"Faremos uma reunião com a associação local para conversamos com os moradores locais que tiveram danos e vamos ressarcir todos", diz Takahashi.
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