Um sintoma aqui, outro ali, uma morte suspeita acolá. Sem dados oficiais de contaminação pelo coronavírus na comunidade, moradores do morro do Borel, na zona norte carioca, se veem no meio de uma luta contra um inimigo que invisibiliza suas vítimas e leva incertezas à favela. Para contornar a falta de notificações, o LeB (Laboratório de Estudos do Borel) lançou, no sábado (16), o CoronaZap, um serviço para monitorar casos suspeitos da Covid-19 na comunidade.
A ideia de fazer o levantamento surgiu quando os pesquisadores perceberam um aumento no número de mortes e de relatos de pessoas com sintomas do novo coronavírus na favela, que acompanhava o aumento dos casos de infectados na capital fluminense.
A Tijuca, onde fica o Borel, é um bairro carioca rodeado por comunidades, com 350 notificações do coronavírus e 49 mortes. Nenhuma das favelas da região registra casos da Covid-19, segundo o painel Rio Covid-19, da prefeitura, que agrupa os dados apenas por bairro.
"O CoronaZap é um projeto relevante, em primeiro lugar, porque se propõe a trazer à tona uma realidade ignorada pelo poder público, que é o número de possíveis contaminados em territórios de favela, nesse caso, o Borel", afirma a cientista social Sara Graziela Santos, que coordena a pesquisa. "E, a partir desse levantamento, reivindicar ações de políticas públicas que garantam a essa população seu direito básico à saúde, de forma preventiva, ou a partir da detecção da Covid-19, por meio do acesso aos testes rápidos e do tratamento correspondente."
O estudo é feito por uma equipe de voluntários e conta com consultores da área da saúde. Para fazer o levantamento, o projeto recebe informações de quem vive na favela por um número de WhatsaApp (21 98685-2496). A partir do relato dos sintomas, as informações são checadas com um familiar de quem entrou em contato com o CoronaZap. Após a verificação, as informações são armazenadas em um banco de dados para análise.
A coordenação do projeto afirma que pretende ampliar a ação para outras favelas do bairro, que tem 12 comunidades, de acordo com o Sabren (Sistema de Assentamentos de Baixa Renda), sistema de monitoramento do IPP (Instituto Pereira Passos).
Com equipe reduzida e com limitações de equipamentos, a plataforma aposta na divulgação pelas redes sociais, que rendeu mensagens desde seu primeiro dia de funcionamento. "Gostaríamos de ampliar essa ação para a maior quantidade de favelas que for possível. Mas, para expandir, vai depender dos resultados e desdobramentos que obtivermos aqui no Borel", diz Santos.
Um exemplo da falta de notificação no Borel ocorreu com Shirley Ambrósio de Souza, 35. A moradora trabalha como assistente administrativo em uma rede hospitalar, o que facilitou o diagnóstico rápido de Covid-19 e os cuidados para evitar a transmissão. Ela começou a apresentar os sintomas no início de abril e buscou isolamento em um cômodo da casa onde vive com o pai. Mesmo assim, o Borel continua, no sistema da prefeitura, sem constar como uma das comunidades afetadas pelo vírus.
"Ter informações estatísticas ajuda a dizer a situação para a comunidade, para que as pessoas respeitem o distanciamento, não fazendo aglomeração, o que não é visto", diz Souza. Para ela, sem que a população tenha dimensão do número de casos reais, fica mais difícil promover o uso de máscara e outras formas de segurança.
O CoronaZap não dispõe de teleateatendimento, mas segue as recomendações das autoridades de saúde para orientar moradores a buscar ajuda médica caso apresentem febre, tosse ou falta de ar.
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