Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniram há alguns dias no apartamento do ex-ministro do STF e ex-ministro da Justiça e da Defesa Nelson Jobim.
O encontro, no dia 12 de maio, pode ser considerado histórico: os dois estiveram em lados opostos nas últimas sete eleições presidenciais, ou em um embate direto ou apoiando diferentes candidatos.
Depois da reunião, o tucano e o petista começaram a trocar amabilidades por meio da imprensa. Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista à TV Globo, que votará em Lula em 2022 caso o segundo turno fique entre o petista e Jair Bolsonaro (sem partido).
Lula retribuiu a gentileza e disse que faria o mesmo caso a disputa ficasse entre o tucano (que não é candidato) e Bolsonaro."Fico feliz que ele tenha dito que votaria em mim e eu faria o mesmo se fosse o contrário. Ele [FHC] sempre foi um intelectual e sabe que não dá para inventar uma candidatura", escreveu o petista em suas redes sociais.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, os dois conversaram sobre os problemas do Brasil e os desafios diante da crise econômica e da pandemia do novo coronavírus. E concordaram nas críticas em relação a Bolsonaro.
Os perfis oficiais de Lula no Instagram e no Twitter também registraram o encontro. Disse que o almoço oferecido por Jobim aos dois teve "muita democracia no cardápio": "Os ex-presidentes tiveram uma longa conversa sobre o Brasil, sobre nossa democracia, e o descaso do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia".
Jobim foi ministro da Justiça no governo de FHC e da Defesa nos governos de Lula e Dilma Rousseff.
A declaração de voto de FHC em Lula irritou Jair Bolsonaro.
Em live na quinta (20), o presidente afirmou que "esse cara de pau do FHC dizendo agora que vai votar no Lula. Dá vontade de soltar um dinheirinho para o MST da região da fazenda do FHC para o pessoal invadir de novo lá. Quem sabe ele aprenda". Em setembro de 2000, quando o tucano ainda era presidente, um grupo de sem-terra ligado ao MST invadiu uma fazenda no Pontal do Paranapanema que tinha como herdeiro um ex-sócio de FHC.
Nesta sexta (21), em viagem ao Maranhão, Bolsonaro disse, depois da revelação do encontro: "Falando em política, para o ano que vem, já tem uma chapa formada: um ladrão candidato a presidente e um vagabundo como vice".
O encontro de FHC e Lula repercutiu amplamente no meio político. O PSDB revelou incômodo e, por meio de nota, disse que ele "não faz bem a um potencial candidato do PSDB", já que envia "sinais trocados a nossos eleitores".
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que defende uma conversa dos ex-presidentes "há alguns anos": "Trata-se de proteger a democracia ameaçada pela extrema-direita bolsonarista", escreveu ele em redes sociais.
Em um debate on-line promovido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, Fernando Henrique Cardoso voltou a dizer, na quinta (20), que quer uma terceira via para 2022. Mas que, se ela não se viabilizar, votará em Lula no segundo turno.
"Vou lutar para que haja um candidato. Se for do PSDB, bom. Se não for, também não tem importância. Mas vou votar contra Bolsonaro", disse o tucano.
Disse também que conhece Lula "razoavelmente bem" há muitos anos e que o petista sente o momento político.
"Não sou lulista. Se tiver terceira solução, melhor. Mas ele [Lula] sente o momento. O presidente atual do Brasil não sente o momento, não sente nada. O outro [Lula] tem suficiente esperteza para sentir". E seguiu: "Acho melhor terceira via, mas, se não houver, quem não tem cão caça com gato. E, no caso, o gato não é tão feroz, não é uma onça. É um gato pacificado, já tem experiência. A vida ensina. Pelo menos alguns aprendem. É melhor apostar".
Uma pesquisa do Datafolha divulgada em 12 de maio mostrou que Lula lidera a corrida eleitoral e que polariza com Bolsonaro. Nomes que seriam da terceira via ficam bem atrás dos dois na disputa.
De acordo com o instituto, Lula teria hoje 41% dos votos, contra 23% de Bolsonaro. Sergio Moro teria 7%, Ciro Gomes, 6%, Luciano Huck, 4%, João Doria, 3%, Luiz Henrique Mandetta, 2%, e João Amoedo, 2%.
No segundo turno, Lula bateria Bolsonaro por 55% a 32%.
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