O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) gravou um vídeo no qual pede voto para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Meus amigos e minhas amigas, você que melhorou de vida com o Real e acredita no Brasil, nessas eleições, não tem dúvida: vote no 13, vote no Lula. Porque ele vai melhorar mais ainda a sua vida", diz o tucano no filmete.
O vídeo foi compartilhado na manhã desta quinta-feira (27) no perfil de Lula no Instagram.
O tucano já havia declarado apoio a Lula na corrida eleitoral em publicação nas redes sociais no último dia 5. "Neste segundo turno voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva", escreveu naquele momento no Twitter.
Dois dias depois, os dois ex-presidentes se reuniram na casa do tucano e posaram para foto. "Um reencontro democrático com @presidentefhc", escreveu Lula na legenda da foto compartilhada em seu perfil no Instagram.
No dia 8 deste mês, antes de participar de caminhada com apoiadores em Campinas, São Paulo, o petista comentou a reunião com FHC dizendo que "foi extraordinária", e disse que achou o tucano, de 91 anos, muito "alegre e risonho".
A declaração de apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao também ex-presidente e concorrente ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no segundo turno do pleito deste ano, foi um aceno do principal expoente da ala histórica tucana em favor do petista contra Jair Bolsonaro (PL).
Em 1994, Lula e FHC concorreram à Presidência, e o tucano saiu vitorioso, reeleito em 1998 em outra disputa contra o petista. Ele venceu os dois pleitos em primeiro turno.
Lula e FHC trocaram críticas durante a implementação do Plano Real. O petista foi contrário ao projeto, afirmando que a nova moeda causaria perda salarial aos trabalhadores, e desaprovou a URV (Unidade Real de Valor), que indexou o real ao dólar para converter os preços sem acelerar a inflação.
O tucano chegou a afirmar que Lula e o PT atrapalharam a implementação da nova unidade monetária, que ao fim conseguiu diminuir a inflação e estabilizar as finanças do país apesar das altas taxas de juros.
A relação entre eles, porém, é mais antiga do que a transferência da faixa presidencial em 2003, com momentos de afagos e de críticas desde a década de 1970, quando estiveram juntos em oposição à então decadente ditadura militar.
Os ex-presidentes se conheceram em 1973, no Cebrap (Centro Brasileiro de Política), fundado por FHC após voltar do exílio no Chile. Em 1978, com a efervescência dos movimentos democráticos na elite política e a perda de poder dos militares, Lula, com 33 anos e à época líder sindical no ABC paulista, apoiou a candidatura de FHC, ainda pelo MDB, ao Senado, participando de comícios e panfletagens.
Lula e FHC também estiveram juntos nas manifestações que impulsionaram as Diretas Já. Apesar de estarem em planos diferentes — Lula cuidava da fundação do PT, e FHC se enveredava em uma ala social-democrata do MDB —, subiram juntos em palanques nas campanhas pelo voto direto a presidente já em 1985.
A campanha saiu derrotada no Congresso Nacional, o que levou à eleição de Tancredo Neves e de José Sarney ao Planalto. Tancredo morreu antes de assumir a Presidência.
Em 1989, no segundo turno entre Fernando Collor de Mello e Lula, na primeira eleição direta para a Chefia do Executivo após a ditadura militar, FHC e outros líderes históricos do PSDB, como Mário Covas, declararam apoio ao petista, subindo em palanques e fazendo comícios para o ex-sindicalista.
Lula terminou o pleito derrotado por Collor, que subiu a rampa do Planalto com 53% dos votos.
Outro momento protagonizado pelos dois ex-presidentes foi a sucessão — FHC transferiu o cargo a Lula em 2003. O tucano afirmou que transmitir a faixa presidencial foi um dos momentos mais emocionantes da cerimônia de posse e que quase chorou pela história que tinham juntos.
Mesmo assim, FHC foi crítico às gestões do petista e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ainda que tenha mantido a cordialidade e a comunicação com seus sucessores.
Em 2006, FHC disse à revista IstoÉ que "a ética do PT é roubar". Logo depois, no programa de entrevistas Roda Viva, justificou a declaração afirmando que o partido de Lula agiu de forma sistemática no esquema do "mensalão".
"Fala-se em prática generalizada de caixa dois, o que já é questionável. O que está em discussão é outra coisa. Trata-se de um fluxo de recursos muito grande, de várias fontes, entre as quais fontes oficiais -dinheiro que saiu do governo e foi utilizado fora da campanha. Isso é o coletivo, é em nome da transformação do Brasil. A ética é essa: fazem isso pois, no fundo, acham que vão mudar o país."
Em resposta, Lula anunciou um pedido para interpelar o tucano judicialmente. Segundo os registros de conversas reservadas à época, o petista, contrariado com as críticas, disse que FHC fazia jogo sujo para fortalecer o PSDB nas eleições daquele ano e não se comportava como um ex-presidente.
Lula recebeu o diagnóstico de câncer na laringe em 2011 e precisou passar por sessões de quimioterapia e radioterapia. FHC o visitou durante o tratamento, concluído no ano seguinte.
Lula e FHC mantiveram a cordialidade após seus mandatos, apesar do contato menor. Um exemplo é a participação do petista no velório da antropóloga Ruth Cardoso, mulher de FHC, que morreu em 2008. Nove anos depois, o tucano procurou Lula quando Marisa Letícia, esposa do petista, morreu.
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