A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, disse hoje (16) que a decisão de alguns países europeus de suspender temporariamente o uso da vacina da Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca deve ser vista com cautela. A vacina é fabricada no Brasil pela Fiocruz. Segundo Nísia, não há evidência de que o imunizante tenha elevado o risco de efeitos colaterais, conforme casos relatados no continente europeu.
Durante reunião virtual da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha as medidas de enfrentamento da covid-19, Nísia disse que a suspensão faz parte dos procedimentos de cautela adotados na avaliação das vacinas.
“É importantíssimo dizer que faz parte da cautela essa avaliação de todas as vacinas. Nós, na Fiocruz, temos ampla experiência com esse tipo de farmacovigilância e frisamos que tanto a agência europeia EMA quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendaram a interrupção da vacinação”, ressaltou. “São cautelas dos países que, naturalmente, têm que ser não só respeitadas, mas observadas”, acrescentou.
A suspensão da vacina em países do continente europeu teve início após o relato de trombose venosa profunda e embolia pulmonar, na Dinamarca e na Áustria. Após esses casos, países como Alemanha, França, Itália, Espanha e Portugal suspenderam a aplicação do imunizante. Os países argumentam agir por precaução para verificar se os casos têm relação com a vacina. Apesar disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende a continuidade da aplicação da vacina.
Na reunião, Nísia explicou que 17 milhões de pessoas foram vacinadas na União Europeia e no Reino Unido, das quais 7 milhões com a vacina da Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca e que, até o momento, não há evidência de risco do surgimento de coágulos no sangue tenha aumentado.
Nísia disse ainda que foram registrados na Europa 15 eventos de trombose venosa profunda e 22 de embolia pulmonar. Testes adicionais também estão sendo conduzidos pela AstraZeneca e por autoridades de saúde europeias.
“Os eventos são em número menor do que seria observado na população ou em outros grupos que têm esses eventos independente da vacinação”, afirmou. “Nos ensaios clínicos [da vacina], o número de eventos tromboembólicos foi menor no grupo vacinado; e sem evidência de sangramento em mais de 60 mil participantes dos estudos”, acrescentou.
A presidente da Friocruz ressaltou ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou um comunicado reforçando a eficácia da segurança da vacina. Ela também tratou da eficácia da vacina em relação à variante brasileira do coronavírus, a P.1 e ressaltou que há um estudo sendo desenvolvido entre a fundação e a Universidade de Oxford, na Inglaterra, para verificar se a atual vacina é eficaz contra essa variante.
Segundo Nísia, é importante reforçar a necessidade de vacinação no país. Ela afirmou que, caso a vacinação tivesse iniciado mais cedo, haveria uma probabilidade menor de aparecimentos dessas variantes do vírus.
“Quanto mais vacinarmos, menos risco de desenvolvimento de novas variantes, mais proteção nós teremos inclusive em relação a esse aspecto que é comum aos vírus”, disse.
A presidente da Fiocruz disse ainda que 1,08 milhão de doses da vacina devem ser entregues pelo instituto ainda esta semana. Pelo cronograma apresentado na reunião, a Fiocruz deve entregar ao Ministério da Saúde, até o mês de julho, 100 milhões de doses da vacina.
Serão 3,8 milhões de doses em março; 21,15 milhões de doses a partir de abril; 26,810 milhões em maio; 27,4 milhões em junho e 21,24 milhões em julho, totalizando 100,440 milhões de doses, fabricadas a partir do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) importado.
“É uma vacina com uma nova tecnologia, na qual não fazemos apenas o envase, mas o processo de formulação que envolve o rigor e um processo tecnológico bem diferenciado de outras vacinas. Não é um processo simples, mas posso afirmar que está sendo bem desenvolvido. Nossa perspectiva é escalonar essa produção usando duas linhas de produção, mas cuidando para não desabastecer outras vacinas fabricada pelo instituto”, disse.
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