Em entrevista ao jornal O Globo, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) admitiu que Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio, pagava suas contas pessoais.
Mas, segundo o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a origem desse dinheiro é lícita, sem nenhuma ligação com possíveis desvios investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em esquema de "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia.
Queiroz, que é policial militar aposentado e ex-assessor do atual senador, foi preso no dia 18 de junho em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de Flávio e do presidente, em Atibaia (interior de São Paulo).
Queiroz e Jair Bolsonaro se conheceram no Exército e são amigos há mais de 30 anos. Foi por meio de Jair que o ex-assessor ingressou no gabinete de Flávio.
No dia 10 de julho, Queiroz deixou o Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro, para cumprir prisão domiciliar. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, concedeu o benefício a pedido da defesa.
Questionado pelo jornal sobre ter despesas pessoais pagas por Queiroz, Flávio disse: "Pode ser que, porventura, eu tenha mandado, sim, o Queiroz pagar uma conta minha. Eu pego dinheiro meu, dou para ele, ele vai ao banco e paga para mim. Querer vincular isso a alguma espécie de esquema que eu tenha com o Queiroz é como criminalizar qualquer secretário que vá pagar a conta de um patrão no banco. Não posso mandar ninguém pagar uma conta para mim no banco?
O Ministério Público suspeita que o ex-assessor operava um esquema de "rachadinha" -em que funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários- no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. O filho de Bolsonaro foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.
No pedido de prisão de Queiroz, a Promotoria indica que o dinheiro em espécie obtido com o suposto esquema teria sido utilizado em benefício pessoal de Flávio Bolsonaro, para quitar contas de plano de saúde e mensalidade da escola das filhas.
Os possíveis crimes apontados pelo MP-RJ são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.
Também indagado pelo jornal por que tantos assessores de seu gabinete deram dinheiro a Queiroz, o senador afirmou: "Ele fez um posicionamento junto ao MP (do Rio) esclarecendo essas questões. Disse que as pessoas que faziam os depósitos na conta dele eram da chamada equipe de rua. Queiroz afirma que pegava o dinheiro para fazer a subcontratação de outras pessoas para trabalharem em redutos onde ele tinha força. Sempre fui bem votado nesses locais. Talvez tenha sido um pouco relaxado de não olhar isso mais de perto, deixei muito a cargo dele".
"Mas é obvio que, se soubesse que ele fazia isso, jamais concordaria. Até porque não precisava, meu gabinete sempre foi muito enxuto, e na Assembleia existia a possibilidade de desmembrar cargos. Outra coisa importante: mais de 80% dos recursos que passaram pelo Queiroz são de familiares dele. Então, qual o crime que tem de o cara ter um acordo com a mulher, com a filha, para administrar o dinheiro?"
Segundo o Ministério Público do Rio, 11 assessores vinculados ao então deputado estadual Flávio Bolsonaro repassaram ao menos R$ 2 milhões a Queiroz, no período de 2007 a 2018, sendo a maior parte por meio de depósitos em espécie. A Promotoria aponta o ex-assessor como o operador do esquema da "rachadinha".
No mesmo período, no entanto, Queiroz sacou R$ 2,9 milhões, o que indica que o volume entregue a ele pode ter sido maior. Por isso, o MP-RJ ressalta que o esquema pode não ter se limitado aos 11 assessores identificados pelos registros bancários.
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