O ano de 2020 foi especialmente duro para Corumbá, município de Mato Grosso do Sul que concentra quase metade do Pantanal.
Primeiro, a Covid-19 paralisou o turismo e fechou a fronteira com a Bolívia. Depois, as queimadas devastaram a fauna e a flora, deixaram o ar enfumaçado por semanas e destruíram pastagens.
Neste ano, a Cidade Branca, como é conhecida, foi o município do país que mais registrou queimadas. Houve 7.985 focos de 1º de janeiro até 28 de outubro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Além do impacto ambiental, a pecuária do Pantanal foi duramente afetada. Muitos fazendeiros tiveram de retirar o gado para escapar do fogo. Houve grande perda de pastos e cercas. Corumbá tem 1,8 milhão de cabeças de gado - o equivalente a 16 bovinos para cada pessoa.
Para o vendedor Diego Taborda, 2020 é um ano para esquecer. Desde março, a epidemia esvaziou a loja de pesca onde trabalha, no centro da cidade e dois dos quatro funcionários foram demitidos.
"O pior é a queimada. A Covid-19 afeta o ser humano, mas a gente tem como se defender. A natureza, não. O Pantanal se desgastou muito", diz o jovem de 21 anos.
Apesar da tragédia ambiental e da Covid-19, a tônica na campanha tem sido a corrupção. O principal motivo é o escândalo em torno do prefeito Marcelo Iunes (PSDB).
Candidato a reeleição, ele comanda a cidade desde o final de 2017, após a morte do também tucano Ruiter Cunha, por problemas cardíacos.
Em 6 de outubro, a Polícia Federal realizou a Operação Offset, que investiga licitações da administração municipal. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, incluindo a prefeitura e a casa de Marcio Iunes, irmão de Marcelo. As diligências resultaram no confisco de R$ 44 mil em dinheiro. O prefeito nega as acusações.
A operação contra Iunes tem sido citada principalmente pelo vereador e candidato a prefeito Gabriel Alves (PSD). Recentemente, a Justiça Eleitoral negou a Iunes pedido de direito de resposta no programa eleitoral do adversário.
Mas Alves, que é médico, também tem um escândalo para chamar de seu. Em 13 de outubro, o site Campo Grande News revelou que ele sofreu censura pública do Conselho Regional de Medicina (CRM) por causa de um vídeo em que aparece ironizando um paciente inconsciente.
Durante um procedimento cirúrgico para retirada de um coco (a fruta) do reto, Alves e outro médico fazem piadas sobre o paciente. Um deles diz, rindo: "Você se lembra da sua infância, né?".
Outro candidato competitivo é o ex-prefeito Paulo Roberto Duarte (MDB). Economista, era filiado ao PT quando chefiou a Secretaria de Fazenda no governo de José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT.
Daquela época, ele responde a uma ação civil pública no Supremo Tribunal Federal (STF) por irregularidades no direcionamento do ICMS pago pela Petrobras ao governo estadual. O processo tramita desde 2004 em segredo de Justiça.
Para o professor de história corumbaense Ahmad Schabib Hany, 61, o tema da corrupção se limita a uma troca de acusações, sem plano de atuação.
Ele diz que ausência de temas ambientais e da área rural na campanha não surpreende. Segundo ele, apesar de o município ter uma área grande - comparável ao estado da Paraíba -, historicamente, os prefeitos só se preocupam com o casco urbano.
"Nenhum prefeito de Corumbá governou o município em pouco mais de cem anos de emancipação. Todos se limitaram a ser reles gestores do quadrilátero central do perímetro urbano", afirma Hany.
Indiretamente, o incêndio criou um dos principais temas da campanha, a internet precária. Por causa do fogo, que danifica os cabos de fibra óptica, os problemas de conexão se tornaram mais frequentes. Em outubro, a cidade chegou a ficar quase um dia sem internet banda larga.
Apesar da importância da pecuária, os fazendeiros têm participação de baixo perfil na política. A presença mais destacada é a do presidente do Sindicato Rural, Luciano Leite, que, na prefeitura, ocupa o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável.
Ao todo, são seis candidatos a prefeito. Além dos já citados, concorrem Anisio Guató (PSOL), Joseane Garcia (PRTB) e Elano Almeida (PSL).
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