O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse nesta segunda-feira (4) que as Forças Armadas defendem a independência entre Poderes e consideram agressão a jornalistas inaceitável.
A manifestação ocorre na esteira de críticas que têm partido do governo sobre decisões recentes do STF (Supremo Tribunal Federal) e um dia após uma manifestação em que houve agressões a jornalistas e em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse estar junto com as Forças Armadas "ao lado do povo" e deu recados intimidatórios.
"As Forças Armadas cumprem a sua missão Constitucional. Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do País", diz nota de Azevedo e Silva.
Ele afirma que a liberdade de expressão é "requisito fundamental" em um país democrático, mas continua dizendo que "no entanto, qualquer agressão a profissionais de imprensa é inaceitável".
"As Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade. Este é o nosso compromisso", encerra o ministro da Defesa.
A ala fardada do governo, embora costume atuar como bombeira diante de atitudes mais extremadas de Bolsonaro, deu sinais de incômodo com decisões do Supremo.
Não há uma unanimidade, e o comandante do Exército, Edson Pujol, tem se mostrado refratário às atitudes do presidente.
Mas outros generais da alta cúpula ainda mantêm um maior alinhamento ao Planalto e têm maior proximidade com o antecessor de Pujol, general Eduardo Villas Bôas, conselheiro de Bolsonaro.
Nas últimas semanas, o tribunal conferiu uma série de derrotas ao Planalto, a maior delas a liminar do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que impediu que um amigo da família, o delegado Alexandre Ramagem, assumisse o comando da Polícia Federal.
Também incomodou o presidente a redução de prazo dada pelo ministro Celso de Mello, decano do STF, de 60 para 5 dias para que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro fosse ouvido sobre acusações feitas contra Bolsonaro. O depoimento à Polícia Federal ocorreu neste sábado (2).
Militares endossam a visão do chefe do Poder Executivo de que há um exagero na corte e que as visões políticas de alguns ministros, como Celso de Mello, não podem comprometer suas decisões.
Neste sábado (2), Bolsonaro ficou especialmente irritado com uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF. O magistrado barrou a ordem do governo brasileiro para expulsar diplomatas venezuelanos aliados a Nicolás Maduro do Brasil.
"A questão da decisão do ministro Alexandre de Moraes, grande parte dela baseada na decisão do ministro Celso de Mello em relação ao inquérito que está correndo aí por solicitação da Procuradoria-Geral da República. Na minha visão, julgo que, volto a dizer, é responsabilidade do presidente da República escolher seus auxiliares. Quer a gente goste ou não", afirmou.
Nesta segunda, Bolsonaro nomeou Rolando Alexandre de Souza para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, posto que seria ocupado por Ramagem, amigo da família Bolsonaro.
Mais cedo, em entrevista à Rádio Gaúcha, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, disse que o STF ultrapassou limites ao tomar decisões como a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal e ao barrar a ordem do governo brasileiro para expulsar diplomatas venezuelanos aliados a Nicolás Maduro do Brasil.
"Julgo que cada um tem que navegar dentro dos limites da sua responsabilidade", afirmou Mourão em entrevista à Rádio Gaúcha.
"Os casos mais recentes, que foi da nomeação do diretor-geral da Polícia Federal, a questão dos diplomatas venezuelanos eram decisões que são do presidente da República. É responsabilidade dele, é decisão dele escolher seus auxiliares, assim como chefe de Estado ele é o responsável pela política externa do país", disse o general.
Para Mourão, "os Poderes têm que buscar se harmonizar mais e entender o limite da responsabilidade da cada um". Ele disse também entender que "hoje existe uma questão de disputa de poder entre os diferentes Poderes, existe uma pressão muito grande em cima do Poder Executivo".
Na manifestação de domingo, manifestantes pró-governo Jair Bolsonaro agrediram, ameaçaram e expulsaram jornalistas que cobriam o ato na rampa do Palácio do Planalto com a presença do presidente da República.
Enquanto o presidente acenava para apoiadores, o grupo passou a dirigir ofensas ao repórter fotográfico Dida Sampaio, de O Estado de S. Paulo, que registrava o momento.
Um grupo se formou ao redor do fotógrafo, que foi derrubado por duas vezes e chutado pelas costas, além de tomar um soco no estômago. Além dele, o motorista do jornal, Marcos Pereira, também foi agredido.
Outros repórteres e profissionais de imprensa foram então empurrados e ofendidos verbalmente. Um repórter do site Poder360 também foi agredido pelos manifestantes.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro foi alertado, segundo imagens transmitidas pela live de sua rede social, da confusão envolvendo jornalistas.
Ele prestigiou pessoalmente a manifestação de apoiadores a ele e com críticas ao STF e ao Congresso. "Expulsaram os repórteres da Globo, expulsaram os repórteres", disse uma pessoa ao presidente.
Na manhã desta segunda, Bolsonaro atribuiu a "alguns possíveis infiltrados" as agressões a jornalistas no ato.
Bolsonaro então respondeu: "Pessoal da Globo vem aqui falar besteira. Essa TV foi longe demais", disse, sem repudiar as agressões aos repórteres.
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