Enquanto o presidente Jair Bolsonaro diz haver "histeria" em relação à crise do novo coronavírus, inclusive confirmando que fará "festinha tradicional para celebrar seus 65 anos", governadores aliados dele têm tratado a pandemia com bastante preocupação.
Eles têm feito reuniões diárias com secretariado e equipes técnicas para atualizar medidas de contenção já tomadas e chamar a atenção da população para o risco do avanço da doença.
Por estarem no mesmo campo ideológico, as declarações de alerta dos governadores bolsonaristas e as ações preventivas anunciadas expõem ainda mais o presidente politicamente em relação à maneira como vem tratando o caso no Brasil.
No domingo (15), mesmo dia em que Bolsonaro ignorou recomendações sanitárias e cumprimentou manifestantes com apertos de mão, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), saiu de casa para tentar encerrar ato que ocorria em frente à sede do governo goiano.
"Vocês têm que entender uma coisa só, que eu sou médico antes de ser governador. Vocês precisam ter responsabilidade de não fazer com que as aglomerações provoquem a disseminação do coronavírus", disse, no microfone.
Mesmo vaiado por apoiadores do presidente, ele prosseguiu. "Embora reconheça o direito de protestar do cidadão, o momento é de se evitar aglomerações de qualquer tipo. Hoje, estamos todos em risco de contaminação pelo Covid-19", completou Caiado, aliado de Bolsonaro.
Em seguida, nas redes sociais, o governador goiano reforçou que os setores de saúde do mundo estão em colapso. Caiado destacou que não se pode fazer vista grossa. "Não podemos colocar a vida das pessoas em risco. Vamos pensar na saúde da população como um todo."
O governador pediu ao Ministério da Infraestrutura o fechamento por 15 dias do aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, suspendeu aulas e mandou fechar lojas de comércio popular no centro de Goiânia.
Já Bolsonaro, em entrevista à rádio Super Tupi nesta terça-feira (17), além de anunciar que realizará um evento para o seu aniversário, afirmou que medidas adotadas por governadores para conter a Covid-19 vão prejudicar muito a economia.
"Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia", declarou.
No Tocantins, o governador Mauro Carlesse (DEM), que adotou neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais de 2018 e agora está próximo a Bolsonaro, fez alertas sobre a gravidade da situação. Mesmo sem casos confirmados no estado, ele ressaltou que não se pode perder tempo.
"Sabemos que a disseminação do vírus já é realidade no país e que ações destinadas a seu enfrentamento devem ser prontamente executadas."
Em decreto, suspendeu a realização de eventos por 30 dias para evitar aglomeração de pessoas e modificou toda a agenda para priorizar o enfrentamento à doença.
O governador mudou os horários de trabalho dos servidores. O expediente, agora, é das 8h às 14h. As aulas foram suspensas no estado até o dia 20, e estão proibidas visitas ao palácio do governo.
No estado de Roraima, governado por Antonio Denarium, que já anunciou sua saída do PSL para ingressar na Aliança pelo Brasil, sigla que o presidente quer criar, a maior preocupação é com a fronteira.
Denarium encaminhou ofício ao governo federal pedindo fechamento da fronteira do estado com a Guiana e a Venezuela -o presidente anunciou o fechamento da fronteira com os venezuelanos nesta terça.
O governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha (PSL), chegou a declarar seu apoio às manifestações de domingo (15), mas pediu que as pessoas adiassem o protesto. Mesmo sem casos confirmados no estado, Rocha suspendeu aulas nas escolas, reuniões, treinamentos do funcionalismo e eventos com mais cem pessoas.
"Prefiro que me chamem de exagerado, mas [prefiro] salvar vidas, que não adotar providências sérias e ocorrer uma grande infecção na população", publicou no seu perfil, após o anúncio das medidas na última segunda-feira (16).
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), alterou sua agenda, cancelando a presença em locais com muitas pessoas, em função do risco de contágio. A opção foi feita mesmo sem nenhum caso confirmado no estado pelo Ministério da Saúde até a última segunda-feira.
"Vou evitar muitas agendas com grande aglomeração porque se o governo assim está recomendando, e eu [sou] governo, não vou fazer diferente daquilo que estamos recomendando", disse Mendes em coletiva de imprensa na segunda-feira, ao ser questionado sobre a atitude de Bolsonaro de encontrar manifestantes, mesmo devendo estar isolado.
O governador criou um gabinete de situação para monitorar a doença e suspendeu aulas. Mendes cancelou sua presença na abertura de um grande evento de agronegócio em Lucas do Rio Verde.
No Sul, o governador catarinense, Carlos Moisés (PSL), também está sintonizado com a postura preventiva para evitar a propagação do vírus. Santa Catarina tinha, até segunda-feira, sete casos confirmados da doença.
Moisés suspendeu aulas, visitas a presídios e eventos com mais de cem pessoas. O governador cumpre o decreto do governo que determina evitar reuniões presenciais, e por isso "adiou viagens, cancelou compromissos e alterou a agenda para priorizar assuntos referentes à Covid-19", informou sua assessoria.
Ele deixou de ir à comemoração dos 20 anos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, no último domingo (15). A escola catarinense do Bolshoi é a única fora da Rússia.
O governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), também aliado do presidente Bolsonaro, anunciou nesta segunda-feira medidas para evitar o alastramento de casos do novo coronavírus no estado.
Apesar de ter reunido imprensa e secretários num mesmo ambiente em uma coletiva de imprensa, o que não é recomendado, o governador demonstrou preocupação com a doença. Ele mandou suspender aulas na rede estadual, dispensou servidores que fazem parte de grupos de risco e proibiu visitas a hospitais, penitenciárias e centros de socioeducação.
Durante a coletiva de imprensa desta segunda, Ratinho afirmou que é preciso adiar ao máximo o contágio comunitário no estado e destacou que, por se tratar de uma área em que o frio é mais rigoroso nas estações de outono e inverno, é preciso ter mais cuidados preliminares.
"Não é para as pessoas ficarem desesperadas, não é [motivo] para pânico. As medidas adotadas têm como objetivo amenizar a proliferação do vírus. Queremos evitar que o contágio evolua para uma escala em que não tenhamos controle", afirmou.
Na noite desta terça-feira, Jair Bolsonaro, após receber várias críticas pela maneira como tem lidado com o avanço da doença no país, decidiu que vai solicitar ao Congresso o reconhecimento do estado de calamidade pública no Brasil em decorrência do coronavírus.
A medida, com validade até 31 de dezembro de 2020, será adotada em razão da necessidade de elevar gastos públicos.
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