Diante da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de impedir a expulsão de diplomatas chavistas do Brasil, o governo Jair Bolsonaro estuda oferecer vistos emergenciais aos representantes do ditador Nicolás Maduro que queiram permanecer no país durante a pandemia da Covid-19.
A opção é uma das saídas que têm sido estudadas por auxiliares de Bolsonaro após tanto o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, quanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) terem colocado obstáculos para a saída dos diplomatas.
Barroso concedeu liminar (decisão provisória) no fim de semana suspendendo por dez dias a determinação do governo e exigiu que o Itamaraty preste esclarecimentos sobre a ordem de expulsão.
A decisão foi considerada pelo Planalto uma nova ingerência do Supremo em assunto do Executivo.
Entre os argumentos levantados pelo ministro, estão a pandemia do novo coronavírus e os maiores riscos de contágio durante deslocamentos.
Um parecer do procurador-geral da República, Augusto Aras, foi no mesmo sentido.
Com a decisão judicial, auxiliares de Bolsonaro passaram a discutir como resolver o impasse.
Uma das opções colocadas sobre a mesa é que o Brasil comunique os chavistas de que eles poderão solicitar um visto humanitário ou de refúgio caso prefiram não voltar para a Venezuela durante a crise.
Nesse cenário, caso aceitem, eles deixariam de estar no Brasil como diplomatas e perderiam as imunidades e os privilégios inerentes a essa função. Mas não precisariam deixar o país em meio à emergência sanitária.
Nas discussões sobre o tema, membros do governo Bolsonaro destacaram que o oferecimento de vistos colocaria ainda sobre os chavistas o ônus de declarar que preferem passar pela crise do coronavírus no Brasil, e não na Venezuela.
Embora o país vizinho tenha menos pacientes de Covid-19 registrados, o caráter autoritário da ditadura e a falta de informações confiáveis levantam suspeitas na comunidade internacional de que pode haver subnotificação massiva de casos, além da falta de estrutura hospitalar para lidar com a pandemia.
O tema ainda está em análise no governo, e Bolsonaro se reuniu, nesta segunda-feira (4), com o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
Internamente, auxiliares do presidente rechaçam os argumentos de que haveria maiores riscos de transmissão no deslocamento para a Venezuela, sob o argumento de que o governo daria todas as condições para o regime de Maduro retirar seu pessoal do Brasil com segurança.
Eles citam como exemplo as tratativas com os chavistas para possibilitar a evacuação, em meados de abril, de diplomatas brasileiros da Venezuela.
A ideia de aliados do presidente, inclusive, era que a retirada dos corpos diplomáticos de ambos países fosse uma ação coordenada, o que evitaria que o Brasil precisasse, por exemplo, declarar os bolivarianos personae non gratae.
Bolsonaro ficou irritado no fim de semana com a decisão de Barroso, e o descontentamento do governo também foi manifestado, nesta segunda, pelo vice-presidente, Hamilton Mourão.
"Os casos mais recentes, que foram a nomeação do diretor-geral da Polícia Federal e a questão dos diplomatas venezuelanos, eram decisões que são do presidente da República. É responsabilidade dele, é decisão dele escolher seus auxiliares, assim como chefe de Estado ele é o responsável pela política externa do país", disse o vice-presidente, em entrevista à Rádio Gaúcha.
A primeira determinação de que os diplomatas bolivarianos deveriam deixar o Brasil é do início de março. Na ocasião, foram dados 60 dias para que a decisão fosse cumprida.
Na semana passada, o Itamaraty enviou documento à embaixada e aos consulados venezuelanos no país e listou 34 funcionários que deveriam sair do país - com seus dependentes - até o sábado passado (2).
A saída do corpo diplomático de Maduro do Brasil é um desejo antigo de Bolsonaro, desde que reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela.
Tanto que o governo considera a advogada María Teresa Belandria, enviada por Guaidó ao Brasil, como a embaixadora legítima do país vizinho.
O regime de Maduro reagiu à ordem de expulsão e, na quinta-feira (30), publicou um comunicado em que acusa o Brasil de "exercer pressões indevidas" para "forçar a saída intempestiva" do seu corpo diplomático do Brasil.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta