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Governo Bolsonaro pediu propina para comprar vacinas, diz representante de empresa

Governo Bolsonaro pediu propina para comprar vacinas, diz representante de empresa

Negociação, de acordo com Luiz Paulo Dominguetti Pereira, foi proposta pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias

Publicado em 29 de junho de 2021 às 21:28

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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro em cerimônia do Palácio do Planalto. (Isac Nóbrega/PR)

O representante de uma empresa que vende vacinas afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina para que o governo federal adquirisse doses de um imunizante.

O pedido, de acordo com Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, ocorreu no dia 25 de fevereiro, durante jantar em um restaurante de Brasília. A reportagem é de Constança Rezende.

Dias não estava sozinho. Com o diretor de Logística, estavam, ainda de acordo com Dominguetti, um empresário de Brasília e um militar do Exército.

"Aí ele (Dias) me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não composse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo", afirmou à Folha o representante da empresa.

Dominguetti deu mais detalhes: "A eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: 'Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma".

A Folha perguntou então qual seria essa 'forma'. "Acrescentar 1 dólar", respondeu. Segundo ele, US$ 1 por dose.

A empresa Davati buscou a pasta para negociar 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca com uma proposta feita de US$ 3,5 por cada (depois disso passou a US$ 15,5).

Dominguetti contou ainda que o negócio não se concretizou pois não aceitou o pedido de propina. 

O CASO COVAXIN

O governo Bolsonaro já está às voltas com outro caso, o da compra da vacina indiana Covaxin, cujo contrato foi assinado por meio de uma empresa intermediária, a Precisa. 

Um servidor do Ministério da Saúde relatou ao Ministério Público Federal e à CPI da Covid a estranheza a respeito do valor de cada dose, o maior entre todas as vacinas compradas pelo governo Bolsonaro na pandemia de Covid-19, além do fato de haver uma empresa para intermediar a compra e ainda uma outra, localizada fora do país, que não era a fabricante e nem constava no contrato. 

Além disso, o contrato ainda previa pagamento antecipado. No total, o governo pagaria R$ 1,6 bilhão. E a vacina nem foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 

O deputado Luís Miranda (DEM-DF), irmão do servidor do Ministério da Saúde que apontou para as supostas irregularidades, disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi alertado pessoalmente sobre o esquema.

Como resposta, segundo Miranda, Bolsonaro disse que o próprio líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), poderia estar por trás do "rolo". O presidente comprometeu-se a pedir uma investigação sobre o caso, o que não aconteceu até que as suspeitas vieram a público.

O caso Covaxin tornou-se o principal alvo da CPI da Covid, que deve ser prorrogada. 

E Bolsonaro foi alvo de uma notícia-crime apresentada por senadores ao Supremo Tribunal Federal (STF) por prevaricação, ou seja, por deixar de agir quando soube do suposto esquema das vacinas. 

Um dia depois de o STF ser acionado, o Ministério da Saúde anunciou a suspensão do contrato para a compra da Covaxin.

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