O governo Jair Bolsonaro teme que os planos da Índia de priorizar a exportação de vacinas contra a Covid-19 para países vizinhos gere um novo atraso no lote de 2 milhões de doses de imunizantes contratados pelo Brasil.
De acordo com a imprensa indiana, o país quer priorizar seu entorno geográfico na chamada "diplomacia da vacina". Os primeiros atendidos seriam Nepal, Butão, Bangladesh e Myanmar, entre outros. A expectativa de Nova Déli, de acordo com o jornal The Times of India, é que as primeiras exportações ocorram "nas próximas semanas".
Pessoas no governo Bolsonaro que acompanham a negociação receberam com preocupação os informes da Índia, que podem sinalizar uma demora ainda maior na chegada das doses da Oxford/AstraZeneca ao Brasil. O material estava previsto para ser entregue pelo Serum Institute, um dos centros de produção da vacina vinculados à AstraZeneca.
A aeronave que transportará a carga chegou a ficar pronta para decolar do aeroporto do Recife (PE), mas a falta de autorização dos indianos frustrou os planos do Palácio do Planalto de ter o lote no Brasil ainda no domingo (17). No mesmo dia, a vacina teve o seu uso emergencial liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Com o fracasso da operação, Bolsonaro viu consolidada uma vitória política de seu provável rival em 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Fiador da Coronavac -desenvolvida por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan-, Doria liderou o ato da primeira vacinação no Brasil.
Até o desembaraço da importação da Índia, o Ministério da Saúde só terá à disposição a Coronavac para imunizar os brasileiros.
Em 8 de janeiro, o presidente enviou uma carta ao premiê indiano, Narendra Modi, pedindo urgência nos trâmites para o envio das vacinas. Dias depois, Araújo fez novas gestões junto ao chanceler do país, Subrahmanyam Jaishankar, mas tampouco conseguiu êxito.
Nesta segunda (18), Bolsonaro recebeu em audiência no Palácio do Planalto o embaixador indiano em Brasília, Suresh Reddy. Horas depois do encontro, o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) foi questionado sobre o tema, mas não deu prazo para o envio da carga.
"O fuso horário é muito complicado. Estamos recebendo a sinalização de que isso deverá ser resolvido nos próximos dias desta semana", afirmou.
Interlocutores destacam que existe um problema político que dificulta o aval. Grande polo produtor de vacinas, a Índia começou sua campanha de vacinação no sábado (16) e considera que o envio de imunizantes para o exterior pode ser percebido como uma falta de compromisso com a própria população.
Pessoas que acompanham as negociações dizem trabalhar hoje com a expectativa de que a carga receba sinal verde de Nova Déli até o final do mês. A informação é de que o material está pronto e falta apenas a licença governamental para o embarque.
Um dos pontos que os indianos têm pedido ao governo brasileiro é que haja mais discrição nas negociações, justamente para não acirrar os ânimos nacionalistas no país.
A preocupação da Índia, no entanto, é difícil de ser cumprida, uma vez que as tentativas de compra das vacinas tiveram ampla divulgação pelo Palácio do Planalto.
Além do mais, a aeronave da Azul destacada para a missão foi adesivada pelo Ministério da Saúde, e a intenção do Brasil de buscar os imunizantes ainda no final de semana recebeu destaque na imprensa da Índia.
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