O governo Jair Bolsonaro (PL) promoveu mais uma mudança no alto escalão do Inep, órgão responsável pelo Enem. Foi exonerado nesta quarta-feira (19) o diretor de Gestão e Planejamento, Alexandre Avelino Pereira.
A demissão tem relação com a crise que eclodiu no órgão em novembro passado, segundo relatos colhidos pela reportagem. A avaliação das lideranças do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) é de que Pereira fez parte de resistências dentro do órgão para atender planos do governo, como a tentativa de terceirizar o banco de itens das avaliações.
A diretoria de Gestão e Planejamento é responsável, entre outras coisas, pela logística de exames, como o Enem. A demissão ocorre após o fim da aplicação da edição de 2021, cuja reaplicação da prova acabou no último domingo (16).
A exoneração de Pereira foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta. Ele havia chegado ao cargo após Danilo Dupas Ribeiro assumir a presidência do Inep e ficou apenas oito meses. A mesma portaria já nomeou para o cargo o auditor da CGU (Controladoria-Geral da União) Jofran Lima Roseno.
Às vésperas do Enem de 2021, o Inep passou por uma crise histórica, com a debandada de servidores de postos-chave, denúncias de interferência no conteúdo do exame e de assédio moral.
Questionado, o Inep, que é ligado ao MEC (Ministério da Educação), não se pronunciou.
Dentro do órgão há expectativa de que ocorram novas demissões como retaliação à crise. As mudanças devem ocorrer após o fim do processo de correção das provas.
O embate ideológico é a principal marca do governo Bolsonaro na educação. A intenção de interferir no conteúdo da prova foi relatada por funcionários no ano passado.
As equipes envolvidas na elaboração da prova buscaram equilíbrio entre essa pressão, o atendimento à matriz de conteúdos do Enem e a coerência estatística da prova. Apesar da intenção do governo, o Enem 2021 foi considerado equilibrado.
Por outro lado, não caiu nada, pelo terceiro ano consecutivo, sobre a ditadura militar (1964-1985), período elogiado pelo presidente da República.
O jornal Folha de S.Paulo revelou que Bolsonaro chegou a pedir para o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, questões que tratassem o golpe de 1964 por revolução, em consonância com o revisionismo histórico que ele e seus apoiadores defendem.
A escassez de itens disponíveis para prova, entretanto, foi uma das travas para que a interferência não fosse atendida de modo mais intenso. Não há produção de novas questões desde 2019.
Em junho deste ano, a Folha de S.Paulo revelou que uma portaria do Inep estabelecia uma espécie de "tribunal ideológico", com a criação de uma nova instância permanente de análise dos itens das avaliações da educação básica.
O documento, contrário ao posicionamento técnico do próprio Inep, falava em não permitir "questões subjetivas" e pedia atenção a "valores morais".
Após má repercussão, o Inep engavetou o plano. O Ministério Público Federal ainda recomendou que o governo se abstivesse de fazer filtro ideológico na prova.
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