As críticas ao centrão e à velha política do "toma lá dá cá" que há três anos marcaram a convenção do PSL que oficializou o então deputado federal Jair Bolsonaro como candidato ao Planalto contrastam radicalmente com as falas do presidente e membros do governo nos últimos dias.
Depois de divulgar a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil, Bolsonaro defendeu na quinta-feira (22) o partido do líder do centrão -sigla cogitada por ele para a disputar a reeleição- e também o bloco, conhecido pela prática do fisiologismo.
"O centrão é um nome pejorativo. Eu sou do centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB, PPB. O PP, lá atrás, foi extinto. Depois, nasceu novamente da fusão do PDS com o PPB, se não me engano", afirmou. "Eu nasci de lá", completou.
Na convenção partidária em julho 2018, um dos momentos marcantes foi a crítica feita pelo general Augusto Heleno, hoje ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
"Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão", cantou Heleno, em cena filmada e postada nas redes sociais, fazendo uma paródia e cantando "centrão" no lugar de "ladrão", que consta na letra original de "Reunião de Bacanas", composta por Ary do Cavaco e Bebeto Di São João.
"Querem reunir todos aqueles que precisam escapar das barras da lei num só núcleo. Daí criou-se o centrão. O centrão é a materialização da impunidade", afirmou Heleno na ocasião.
Em maio deste ano, o ministro-chefe do GSI disse que mudou sua opinião sobre o bloco político que agora sustenta o governo.
"Sobre centrão: aquela brincadeira que eu fiz foi numa convenção do PSL, na época da campanha eleitoral. Naquela época existia, à disposição na mídia, várias críticas ao centrão. Não quer dizer que hoje exista centrão", disse.
"Eu não tenho hoje essa opinião e nem reconheço hoje a existência desse centrão. Então, naquela época é uma situação. A evolução de opinião faz parte da vida do ser humano", completou.
Formado por parlamentares, o centrão reúne cerca de 200 dos 513 deputados e, desde 2020, se tornou a base de sustentação do governo no Congresso. Com apoio do Planalto, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi eleito presidente da Câmara, cargo que tem a prerrogativa de colocar em pauta o impeachment do presidente.
"Eu duvido que, eu sentado na cadeira presidencial, vai aparecer o 'Seu' Renan Calheiros e vai falar: 'Eu quero o Banco do Nordeste pra mim.' Eu duvido que isso venha a acontecer: a forma de fazer política como foi feita até o momento. E toda a imprensa pergunta pra mim: 'Como você vai governar sem o 'toma lá, dá cá'?' Eu devolveria a pergunta a vocês: existe outra forma de governar, ou é só essa? Se é só essa, eu tô fora!"
"Se é para aceitar indicações políticas, a raiz da ineficiência do Estado e da corrupção, aí fica difícil você apresentar uma proposta que possa realmente proporcionar dias melhores para a nossa população (...) Geralmente os grupos políticos loteiam esses cargos para se beneficiar."
29 de novembro de 2017, durante entrevista ao Canal Livre, na Band
"A mensagem que quero dar para todos no Brasil, inclusive no Parlamento, é a seguinte: se o Brasil estiver bem, nós estaremos bem, e não o contrário. Não o meu grupo político estando bem, o Brasil vai estar bem. Nós estamos partindo para o caos. Não dá para continuar administrando o Brasil dessa forma: o Parlamento indicando, impondo os seus nomes!"
29 de novembro de 2017, durante entrevista ao Canal Livre, na Band
"Queremos conversar com os parlamentares de forma individual, tirar a negociação do jugo do líder partidário [...] Grande parte dos partidos não vale nada"
22 de maio de 2018, durante sabatina promovida pela rádio Jovem Pan
"Um governo sem toma lá dá cá, sem acordos espúrios. Um governo formado por pessoas que tenham compromisso com o Brasil e com os brasileiros. Que atenda aos anseios dos cidadãos e trabalhe pelo que realmente faz a diferença na vida de todos. Um governo que defenda e resgate o bem mais precioso de qualquer cidadão: a liberdade. Um governo que devolva o país aos seus verdadeiros donos: os brasileiros."
14 de agosto de 2018, em texto no qual divulgava o seu plano de governo
"A Justiça nasceu para todos e cada um responda pelos seus atos. O que levou a essa situação, pelo que parece, são os acordos políticos dizendo-se em nome da governabilidade. A governabilidade você não faz com esse tipo de acordo, no meu entender. Você faz indicando pessoas sérias e competentes para integrar o seu governo, é assim que eu fiz no meu governo, sem o acordo político, respeitando a Câmara e o Senado brasileiro."
21 de março de 2019, ao atender jornalistas no retorno de uma viagem ao Chile
"Acho que centrão virou um palavrão. Acaba a eleição, acaba o centrão. Acho que os líderes têm que trabalhar para desvincular-se disso daí. Agora, a melhor maneira de demonstrar que eles não têm nada a ver com esse dito centrão, que foi satanizado esse nome, é ajudar a votar aquilo que interessa para o Brasil."
"Eles falaram: 'Olha, esse rótulo não está pegando bem para nós'. E assim é a grande parte desse parlamentares. Uma parte considerável dos parlamentares não quer ser rotulado como centrão, grupo clientelista, ou aquele grupo que quer negociar alguma coisa para votar. Então o que falta é se libertar. É procurar o líder, discutir a pauta e tocar o barco".
27 de maio de 2019, em entrevista à TV Record
"Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós temos um novo Brasil pela frente."
"Temos um novo Brasil pela frente. Patriotas têm que acreditar e fazer sua parte para colocar o Brasil no destaque que ele merece. E acabar com essa patifaria. É o povo no poder. Para garantir a nossa democracia e aquilo que há de mais sagrado em nós, que é a nossa liberdade. Esses políticos têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro."
19 de abril de 2020, durante discurso a apoiadores em frente ao Planalto que pediam intervenção militar e o fim da quarentena
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