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Hemodiálise requer cuidados especiais em tempos de coronavírus

Hemodiálise requer cuidados especiais em tempos de coronavírus

Mais de 130 mil pacientes dependem de sessões de hemodiálise para prolongar a vida, segundo a ABCDT

Publicado em 22 de abril de 2020 às 09:51

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Hemoes já teme que comece a faltar bolsas de sangue para atender a demanda de hospitais do Estado
Hemodiálise é o procedimento através do qual uma máquina filtra e limpa o sangue . (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

As pessoas que precisam passar por sessões de hemodiálise ou que são transplantadas de rim enfrentam mais um desafio para a sobrevivência com a pandemia do novo coronavírus.

Segundo a Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), são mais de 130 mil pacientes que dependem de sessões de hemodiálise para prolongar a vida.

A entidade contabiliza que apenas 7% dos municípios brasileiros possuem clínicas que atendem pessoas que dependem desse tipo de tratamento.

Esse é o caso do micro-empresário Manoel Ferreira da Silva, 42 anos, que recebeu uma série de recomendações para evitar o contágio.

"Nossa situação é ainda mais complicada. Para quem faz hemodiálise, a nossa imunidade já é muito baixa. Qualquer gripe pode nos abater, Deus me livre pegar esse coronavírus", disse Ferreira.

As recomendações básicas para quem realiza a diálise seguem as mesmas para qualquer pessoa: higienização das mãos com álcool em gel ou água e sabão, evitar o contato com pessoas com sintomas da doença e, caso seja ela com suspeita da Covid-19, deve procurar orientação com o seu médico.

Porém, com a imunidade mais baixa, esses pacientes acabam ficando mais vulneráveis, confirma a nefrologista Andrea Pio de Abreu, diretora da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

"Esses pacientes não podem, em hipótese alguma, interromper as sessões de hemodiálise. Muitos ficam em situações ainda mais graves pois não conseguem ter o distanciamento social. Esses dependem de transporte público ou vans de prefeituras para irem às clínicas", conta a médica.

Segundo Andrea, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde ressaltam que os pacientes com doença renal crônica sofrem porque geralmente apresentam ao menos outro fator de risco: hipertensão e/ou diabetes. Essas são as duas maiores causas de doença renal no Brasil e no mundo, assim como idade avançada.

Após o surgimento dos primeiros casos de pessoas com o novo coronavírus no Brasil, a Fundação Pró-Rim criou uma comissão que elaborou uma série de procedimentos para pacientes e clínicas de hemodiálise.

No caso das clínicas, a entidade pede que sejam feitas triagens para identificar sintomas dos pacientes, os suspeitos devem fazer a hemodiálise em locais isolados e com máquinas exclusivas. As medidas têm o apoio da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante.

Diante dessa situação, a Sociedade Brasileira de Nefrologia enviou um documento ao Ministério da Saúde no qual alerta que se o novo coronavírus chegar às clínicas irá provocar o isolamento de pacientes e, caso não tenha investimento, pode provocar a falência do sistema.

Funcionário de um supermercado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Jair Cunha, 39 anos, passou por transplante de rim e não precisa mais realizar sessões de hemodiálise.

Segundo a médica Luciane Deboni, coordenadora de transplantes da Fundação Pró-Rim, pessoas como Jair estão no grupo de risco e devem ficar em casa.

"Os transplantados usam medicamentos que imunossupressores e isso diminui a imunidade. Dessa maneira, se eles pegarem o novo coronavírus, a defesa do organismo de lutar contra o vírus fica prejudicada", afirma.

Jair sabe que dos riscos, mas os seus patrões não entenderam dessa maneira. "Disseram que eu não estou na linha de risco. Eu preciso trabalhar, então tomo o meu medicamento direitinho e limpo as mãos com álcool em gel a todo instante. É uma pena que alguns empresários pensam desse jeito", lamentou Jair, que não quis citar o nome do estabelecimento.

Transplantada há mais de dez anos, a aposentada Regina Coelho, que mora em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro, é administradora da página no Facebook "Associação de Doentes Renais Crônicos, Transplantados e em Hemodiálise".

Regina contou que a sua página, que tem cerca de 3.500 seguidores, sempre foi um local para compartilhamento de informações, mas em tempos de coronavírus os acessos aumentaram.

"Lógico que estamos com medo, principalmente os que têm que sair de casa três vezes por semana. Quando eu fazia hemodiálise, eu peguei vírus cinco vezes por irresponsabilidade dos técnicos de enfermagem [do SUS]", lamenta.

A aposentada reforça a necessidade de que os transplantados têm que ficar em casa. "Eu não sou médica, mas estudei e estudo sobre a minha doença. Eu estou de quarentena. Tomamos remédios que deixam nossa imunidade bem baixa. Não vou sair para nada. Aqui [na página do Facebook] eu posto algumas informações, coloco uma palavra de conforto, mas se a pessoa tem uma dúvida sobre procedimento, a recomendação é procurar um médico de confiança."

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