Cerca de 3 em cada 10 brasileiros poderão mudar sua intenção de voto até o dia das eleições, em 2 de outubro próximo, dependendo da evolução da inflação até lá, segundo pesquisa Datafolha. No total, 31% veem a possibilidade de alterar a escolha caso a inflação aumente (12% com grande possibilidade, 11% média e 8% pequena). Proporções parecidas de entrevistados avaliam que o aumento do desemprego e a piora da economia em geral poderão ter o mesmo efeito na escolha do voto.
Um dos principais obstáculos no caminho do projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), o comportamento da inflação será mais determinante (para cerca de 4 em cada 10 eleitores) entre os desempregados e moradores da região Norte. Entre os jovens de 16 a 24 anos, a relevância será ainda maior: mais da metade (51%) avalia mudar o voto dependendo da evolução dos preços.
Representando 14% do total dos eleitores na amostra do Datafolha, muitos jovens nessa faixa de idade estão vivendo pela primeira vez num contexto de disparada dos preços. Os mais velhos entre eles tinham cerca de 17 anos no último surto inflacionário no país, em 2015, quando o IPCA, índice oficial de preços, subiu 10,67%.
Entre os eleitores dos dois candidatos liderando a disputa até aqui, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 48% das intenções de voto no primeiro turno), e Bolsonaro (27%), são os simpatizantes do presidente os mais suscetíveis a mudar a intenção de voto por conta do comportamento da inflação: 33% se dizem dispostos a isso. Entre os que querem votar no petista, apenas 23%.
No acumulado em 12 meses até abril, o IPCA subiu 12,13%, maior nível desde outubro de 2003 (13,98%). Muitos analistas e consultorias estimam que a inflação seguirá na casa dos dois dígitos até perto da eleição. O Itaú, por exemplo, prevê queda para um dígito só em outubro. Mesmo assim, segundo o banco, a inflação encerraria 2022 em 8,5%, refletindo preços administrados (combustíveis principalmente) mais elevados e alguma queda nos valores de bens de consumo no segundo semestre.
A pesquisa Datafolha mostra que a chance de volatilidade dos eleitores levando em conta a inflação é parecida à relacionada ao comportamento do desemprego e à situação econômica em geral - tanto no total dos brasileiros quanto considerando, separadamente, apenas os eleitores de Lula e Bolsonaro.
Até por ser o incumbente e o responsável pela administração da economia, Bolsonaro tem, em relação à Lula, eleitores cerca de dez pontos percentuais mais suscetíveis a mudar seu voto até a eleição, dependendo do comportamento da inflação, do desemprego e da economia.
No caso de Lula, 78% de seus eleitores dizem que não alterarão o voto caso o desemprego suba. Entre os simpatizantes de Bolsonaro, uma desocupação maior até a eleição não alteraria a intenção de 67%. Assim como a inflação, a taxa de desemprego também está na casa dos dois dígitos e tem sido um dos principais problemas para Bolsonaro, comprometendo suas chances eleitorais.
No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desocupação no Brasil ficou estável em relação ao último trimestre de 2021, em 11,1%, segundo o IBGE, representando 11,9 milhões de brasileiros desempregados. Além do desemprego elevado, dados do IBGE mostram que o rendimento médio do brasileiro caiu quase 9% nos últimos 12 meses até março. Segundo o instituto, o valor médio cedeu de R$ 2.789 em março do ano passado para R$ 2.548 neste ano.
Para o levantamento, o Datafolha ouviu 2.556 pessoas acima de 16 anos em 181 municípios do país nos dias 25 e 26 de maio. Contratada pela Folha de S. Paulo, a pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos e está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-05166/2022.
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