A Polícia Civil investiga um influencer defensor de animais por suspeita de furtar um cachorro de uma família que reside em uma comunidade no Campo Belo, bairro da zona sul de São Paulo. A apuração, a pedido do Ministério Público, tenta confirmar se o homem se passou por policial para ter a guarda do cão. A Promotoria também pretende saber se houve o crime de estelionato.
O cachorro, sem raça definida e de nome Billy, era a companhia diária de um menino autista de 4 anos. Segundo a família, a criança sente falta do cão e toda vez que se lembra dele repete que o animal fugiu ou que o homem mau levou ele.
O influencer é Fábio França, 47, que possui mais de 321 mil seguidores no Instagram e se identifica nas redes sociais como Fábio França do Depa. O Depa é a sigla usada pela Polícia Civil para se referir a (Delegacia Eletrônica de Proteção Animal).
Em nota, a Polícia Civil confirmou que o suspeito não integra o quadro de funcionários da Delegacia Eletrônica de Proteção Animal.
Em boletim de ocorrência, França declarou ter ido até o endereço da família após ter recebido denúncia de uma vizinha de Billy sobre maus-tratos sofridos pelo animal. Procurado pela reportagem, ele afirmou ter sido orientado por um advogado a se manifestar apenas no processo.
Segundo o dono do cão, o estagiário de compliance Josué dos Santos Pinto, 22, o influencer chegou em sua casa na tarde de 28 de junho do ano passado pedindo para que seus familiares chamassem o animal. Na sequência, ele teria dito: "Vocês deram sorte que não peguei no flagrante", e deixou o local.
"Depois que ele foi embora, eu sai para passear com o cachorro. Foi nisso que ele me abordou dizendo que era policial civil, que queria levar o cachorro porque ele tinha denúncia. Ele me intimidou, me coagiu e eu acabei entregando o cachorro. Para mim ele se apresentou como policial civil", afirmou o dono do animal.
De acordo com ele, já era de noite e estava escuro, e ele pode perceber que França utilizava um objeto no pescoço semelhante ao usado por policiais civis.
"Ele estava com um distintivo, mas depois eu descobri que era um distintivo que não era verdadeiro. Só que estava para dentro da camisa. Só dava para ver a ponta do distintivo. Diversas vezes ele fez gestos indicando que estava armado. Não vi a arma, mas direto ele colocava a mão na cintura. Fazia gestos que estava portando algum tipo de arma", conta.
Para o estagiário, como o protetor de animais não tinha provas para levar Billy, ele agiu para intimidá-lo. "Falou que iria me levar para a cadeia se eu não entregasse. Que ia levar minha mãe presa. Fiquei com medo e acabei entregando o cachorro."
Após a confusão, ainda no mesmo dia, ambos seguiram para o 27º DP (Campo Belo). Pinto contou sua versão e foi elaborado um boletim de ocorrência por furto. Horas depois, França abriu um registro sob a alegação da prática de abuso a animais.
França declarou à polícia ser fiscal de maus-tratos de animais e ter sido solicitado para averiguar uma denúncia de crime. Segundo ele, no local flagrou Billy preso em um espaço muito pequeno, sem ver o sol, num local insalubre, sem água e com uma corda para deixá-lo preso. De acordo com sua versão, configurado o crime, pediu o cão para Pinto, que o entregou.
Na delegacia, França relatou que o cão havia sido levado para o imóvel de uma protetora na região e depois seria encaminhado para uma ONG em Campinas e posto para adoção.
Em setembro daquele ano França realizou um novo boletim de ocorrência, em que acrescentou informações de um laudo veterinário que apontou possível desidratação no cachorro.
Um relatório das investigações seguiu para o Ministério Público. Em abril deste ano o promotor Fabiano Pavan Severiano apontou não ter encontrado indícios de maus-tratos contra Billy e solicitou à Justiça o arquivamento da ação contra o dono do cão.
O mesmo promotor pediu novas investigações sobre Fábio França. "Ainda pendendo dúvidas a respeito da licitude de seu comportamento, ou seja, da forma como obteve a posse do animal, requeiro tornem os autos à delegacia de polícia de origem para que realize diligências complementares".
Durante as apurações, os investigadores descobriram que França realmente usa um distintivo, o qual possui a inscrição "Proteção Animal". Em suas redes sociais, o homem possui fotos ao lado de viaturas e fachadas de delegacias espalhadas pela capital.
O inquérito policial ainda não foi finalizado, mas as buscas da Polícia Civil encontraram um outro caso envolvendo França. No dia 26 de setembro deste ano um homem procurou o 51º DP (Butantã), na zona oeste de São Paulo, para relatar uma ação do protetor de animais em seu imóvel.
Segundo o homem, França compareceu em seu endereço sob a alegação de verificar maus-tratos a dois cães de sua propriedade.
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