O número de pedestres internados na rede pública de saúde do país por causa de atropelamentos cresceu 13% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Segundo o levantamento feito pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), nos primeiros seis meses deste ano, 18.798 pessoas atropeladas precisaram de internação no SUS (Sistema Único de Saúde), contra 16.654 vítimas em 2022.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira (8), a partir de informações do Ministério da Saúde.
A volta do ritmo da atividade das pessoas nas ruas, após o pico da pandemia de Covid-19, é apontada como um dos fatores para a alta.
"A população está ansiosa porque saiu de uma pandemia" diz Flávio Adura, diretor científico da Abramet. "Ela também está tomando mais remédios [por causa da própria ansiedade, por exemplo] e sai de casa com efeitos da sedação, distraída."
O médico aponta o uso de celular, tanto por motoristas quanto por pedestres sem atenção ao trânsito, como outro motivo para o crescimento da estatísticas de traumas provocados por atropelamento.
Ele cita ainda o maior quantidade de motociclistas nas ruas por causa das vendas on-line e dos aplicativos de entrega como fator de risco -em São Paulo, por exemplo, o número de motos novas nas ruas neste ano é recorde, segundo o Detran-SP (Departamento de Trânsito) paulista.
"Essas motos nos corredores entre os carros surpreendem os pedestres", afirma Adura.
O aumento nas internações indica que as condições para pedestres no Brasil podem estar se deteriorando, segundo a associação.
"A necessidade de melhorar a segurança no trânsito e proteger os pedestres é urgente, especialmente em regiões que apresentaram aumento significativo de casos, como Sudeste, Sul e Centro-Oeste", destaca o Antonio Meira, presidente da entidade.
"O pedestre é a parte mais vulnerável na via, não tem proteção nenhuma", alerta Adura.
De acordo com os dados compilados do SUS, a quantidade de atropelados que precisaram de internação subiu em 12 estados no primeiro semestre de 2023.
Goiás teve o maior aumento em termos absolutos, com 1.124 internações a mais entre os períodos comparados. A frota goiana tinha em junho 4,6 milhões de veículos registrados em junho, de acordo com o Ministério dos Transportes.
Questionado por meio de assessoria de imprensa sobre ações para diminuir o número de atropelamentos, o governo de Goiás, não respondeu até a publicação desta reportagem.
Percentualmente, Mato Grosso teve a maior queda nas internações, com diminuição de 41,2% nos casos.
São Paulo, que soma a maior frota do país, com 32,7 milhões de veículos registrados em junho, teve 3.077 internações em 2023, 25,4% a mais que no semestre inicial de 2022, quando foram hospitalizados 2.454 pacientes.
Nesta terça-feira, o Detran de São Paulo divulgou que acidentes fatais com pedestres caíram 10,81% nos últimos cinco anos no estado, comparando os primeiros semestres de 2019 a 2023.
Segundo o Departamento de Trânsito, a partir de dados do Infosiga, sistema de monitoramento de acidentes de trânsito do governo estadual, de janeiro a junho de 2019, ou seja, antes da pandemia, foram registrados 638 mortes envolvendo pedestres. Já nos primeiros seis meses de 2023, o número caiu para 569 óbitos.
A quantidade de atropelados mortos em São Paulo, porém, é maior neste ano que no primeiro semestre de 2022, com 606 vítimas nos últimos seis meses, também segundo divulgado pelo Detran.
O Infosiga não informa número de pessoas internadas por causa de acidentes de trânsito, o tema da pesquisa sobre atropelamentos da Abramet.
"A atual gestão do Detran-SP tem feito diversas campanhas educativas para alertar todos os tipos de condutores para a importância de obedecer às leis e aumentar os cuidados no trânsito", afirma trecho de nota do órgão de trânsito.
Em números absolutos, a faixa etária de 40 a 49 anos, economicamente ativa, foi a que mais teve atropelados internados de janeiro a junho deste ano no país, com 3.053 hospitalizações no sistema público.
Percentualmente, a faixa que mais cresceu foi a de idosos acima de 80 anos, que passou de 672 para 902 internações entre os períodos comparados --alta de 34,2%.
"Os idosos estão vivendo mais, aumentou a qualidade da vida e, por isso, estão mais nas ruas", afirma Adura. "O problema é a fragilidade deles", completa o médico, citando ainda que as pessoas mais velhas podem se locomover mais devagar. Por isso, orienta, precisam estar sempre acompanhadas e, preferencialmente, com roupas claras, para serem vistas.
No caso de crianças e adolescentes até 14 anos, o número de internações caiu. "As crianças já não brincam mais na rua", diz o diretor científico da Abramet.
Pedestre
Motorista
Fontes: Detran-SP e Abramet
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta