A interrupção das aulas durante a pandemia do novo coronavírus pode reduzir o PIB (produto interno bruto) brasileiro de 5,3% a 23% pela perda de renda que os jovens sofrerão com o déficit de aprendizado desse período. O cálculo foi feito por economistas do Insper.
O estudo calculou o impacto da perda de aprendizado neste ano ao longo da vida dos estudantes. A projeção é de que os jovens podem perder R$ 42,5 mil de renda se os conteúdos não forem repostos e eles seguirem para o mercado de trabalho com esses déficits.
Com 34,8 milhões de estudantes na educação básica, a perda de renda dessa geração teria um impacto de R$ 1,48 trilhão na economia do país, o que representa 23% do PIB. A projeção faz parte do estudo "Estamos fechando escolas: essa é uma decisão sábia?", feito por professores da instituição.
"Nós tivemos o fechamento das escola e, ainda que se mantenha parte das aulas de forma remota, os alunos não estão aprendendo como deveriam. Não foi planejado, não houve transição para esse novo modelo. Então, houve perdas e precisamos olhar agora para elas", disse o economista Ricardo Paes de Barros, que elaborou o estudo.
Outro cenário calculado é do impacto financeiro caso os sistemas de ensino decidam ampliar o calendário letivo para repor as aulas perdidas, ou seja, o atraso em um ano para a conclusão da educação básica e a entrada dos alunos no mercado de trabalho. Segundo a projeção, o estudantes perderiam R$ 10 mil de renda ao longo da vida ao adiar o término dos estudos.
O atraso da entrada desses jovens no mercado de trabalho causaria um impacto de R$ 350 bilhões na economia brasileira, 5% do PIB nacional.
"Existem duas formas de lidar com a interrupção forçada das aulas: aprovar os alunos para que eles continuem a vida escolar como se tivessem aprendido o que deveriam ou atrasar sua trajetória em um ano e garantir que eles aprendam. Financeiramente, a primeira opção traz um custo 4 vezes maior", disse Barros.
O cálculo do impacto na renda foi feito considerando o rendimento médio dos brasileiros por ano de escolaridade. "A simulação que fizemos é considerando que o mercado vai olhar para essa geração e, ao invés de considerar que quem concluiu a educação básica estudou por 12 anos, enxergar como sendo 11 anos. Por saber que, por um ano, ele não aprendeu."
Para o economista, o estudo indica que medidas estudadas por alguns estados para a reposição das aulas, ainda que ampliem a jornada escolar, podem minimizar os impactos da pandemia. São Paulo e Maranhão, por exemplo, estudam lançar o 4º ano do ensino médio para recuperar o que foi perdido neste ano.
"A perda para esses alunos e para o país é tão grande, que não vale a pena fingir que ela não aconteceu. Temos que convencer os jovens de que estudar por mais um ano não é um atraso na vida", afirmou o economista.
Barros destacou que, caso as aulas presenciais possam ser retomadas em breve, ainda é possível a recuperação dos conteúdos escolares sem a ampliação de mais um ano escolar. Segundo ele, a ineficiência do sistema de ensino brasileiro joga a favor nesta situação.
"Os alunos brasileiros aprendem muito pouco em um ano letivo. Se a gente conseguir encontrar formas de o ensino ser mais eficiente, podemos ensinar o mesmo conteúdo em menos tempo. Nós temos espaço para isso. É diferente da situação de países como Singapura e Coreia do Sul, que atuam com alta eficácia".
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta