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Irã vê Bolsonaro como 'homem pragmático', diz novo embaixador

Irã vê Bolsonaro como "homem pragmático", diz novo embaixador

Em entrevista, o novo embaixador do Irã em Brasília, Hossein Gharibi, diz acreditar "que dois países que trabalham juntos não precisam concordar 100%"

Publicado em 30 de junho de 2020 às 09:10

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O presidente da República, Jair Bolsonaro, faz Pronunciamento no Palácio do Planalto
O presidente da República, Jair Bolsonaro, faz Pronunciamento no Palácio do Planalto. (Marcello Casal JrAgência Brasil)

Para o novo embaixador do Irã em Brasília, Hossein Gharibi, 51, o alinhamento cada vez mais forte do Brasil com os Estados Unidos não é um impeditivo para que os dois países ampliem suas relações comerciais.

Gharibi, que assumiu o posto em abril, diz que seu país tem interesse em áreas como as indústrias automotiva e aeronáutica, por exemplo, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, e que as sanções impostas ao Irã pelos Estados Unidos não são um problema para os negócios com o Brasil.

"Já conversei com o presidente [Jair] Bolsonaro e encontrei um homem pragmático. Acredito que dois países que trabalham juntos não precisam concordar 100%. Países têm afinidades, mas também diferenças. Temos de priorizar as afinidades", disse o embaixador à reportagem.

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    Por um lado, você tem políticas para garantir a segurança e a saúde das pessoas. Por outro, a pressão econômica sobre as pessoas não é algo que o governo possa suportar. É difícil.

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No nosso caso, iniciamos as medidas de restrição em março para que terminassem em abril, mas continuaram em abril e maio. Para nós, não seria possível suportar mais porque nós estamos também sob sanções dos Estados Unidos.

O serviço de saúde no Irã é gratuito, mas não conseguimos estender mais a restrição, houve muita pressão sobre o governo. Então começamos um distanciamento inteligente, com medidas específicas para cada setor e para cada uma das 31 províncias.

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    Certamente. A indústria automotiva é muito importante. Vocês são um dos maiores fabricantes de avião no mundo, a indústria farmacêutica é importantíssima.

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Ouvi falar que as start-ups fazem bons negócios por aqui. Ônibus e caminhões... Em breve abriremos em São Paulo um escritório da Câmara de Comércio Irã-Brasil, já em atividade em Teerã.

Sobre aviões, praticamente em todos os países, a maior parte do transporte aéreo não está operando. Dizem que 90% das aeronaves estão no pátio e não creio que haja um mercado no mundo até ao menos 2022, 2023. Mas o Irã é um comprador.

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    Mesmo agora. Temos falta de aviões no Irã e, logo após o JCPOA [sigla em inglês para Plano de Ação Conjunto Global, acordo internacional acerca do programa nuclear iraniano firmado em 2015 entre Irã e União Europeia], nós tínhamos contratos com a Airbus e a Boeing para comprar 140 aeronaves.

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Recebemos algumas, mas, por causa das sanções, as outras não vieram. Então, precisamos de muitos aviões, especialmente os menores, para 100, 150 passageiros.

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    Não tenho como fazer essa comparação. Respeitamos a democracia aqui no Brasil, então qualquer governo eleito por seu povo é o parceiro certo para nós. Temos relações de mais de 117 anos.

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Governos chegam com diferentes perspectivas e orientações tanto no Irã como no Brasil. Trabalhamos em pontos comuns. Já conversei com o presidente Bolsonaro e encontrei um homem pragmático.

Acredito que dois países que trabalham juntos não precisam concordar 100%. Países têm afinidades, mas também diferenças. Temos de priorizar as afinidades.

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    As sanções são claras para todos: são injustas, unilaterais e violam resolução do Conselho de Segurança [das Nações Unidas], que todos os membros devem seguir. Infelizmente os Estados Unidos não seguem regras que eles mesmos criaram.

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Todos os países deveriam repensar a situação.

Hoje é o Irã [que está sob sanções], amanhã podem ser outros países, até mesmo o Brasil, se alguém nos Estados Unidos não gostar de alguma política brasileira.

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    Não vou falar sobre este caso, mas há algo que precisa ser dito: 2014 foi um ano muito sensível para a região. Se não fosse por ele [Suleimani] e pelos iranianos que sacrificaram suas vidas para impedir que o [grupo terrorista] Estado Islâmico conquistasse mais cidades, talvez hoje teríamos um país chamado Estado Islâmico de Qualquer Coisa.

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Sentimos na pele o que é o terrorismo, especialmente em relação a esse grupo.

Então, o general Suleimani e sua tropa foram fundamentais para nos garantir a segurança vital para a região. Devemos muito a ele e isso explica milhões de pessoas homenageando-o em suas cerimônias fúnebres em 48 grandes cidades da região.

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    Se você der uma olhada no mais recente Relatório Anual sobre Terrorismo do Departamento de Estado [dos EUA], há um certo método em como a situação do terrorismo é avaliada em cada país. Mas, quando se chega ao Irã, não se segue o padrão.

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Consideramos terrorismo apenas como uma etiqueta que pode ser usada pelo governo americano contra seus adversários, contra os países de que não gostam.

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    Infelizmente, a mídia tem um papel importante, nem todos são independentes. Lamentavelmente, as coisas não são retratadas de uma maneira independente.

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Quem viajou ao Irã, quem conhece as pessoas, quem falou com autoridades tem uma visão diferente.

Esperamos poder mostrar a real imagem do país. O Irã é um país paz e amor. Nos últimos 200 anos, não invadimos nenhum país, mas fomos alvo de ataques e invasões.

RAIO-X

Hossein Gharibi, 51 É embaixador da República Islâmica do Irã no Brasil desde abril. Ele está na chancelaria iraniana desde 1997, já tendo passado por países como Itália e Estados Unidos em funções como secretário e conselheiro.

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