A vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) na Câmara dos Deputados reforçou a percepção no grupo mais próximo a Luciano Huck de que é necessário construir uma estrutura partidária consistente para viabilizar o projeto presidencial do apresentador e empresário.
No cálculo são levados em conta fusões de legendas e um arranjo que sustente a proposta de um centro liberal e democrático, capaz de se contrapor à polarização entre bolsonaristas e petistas. Desde o ano passado, ao menos quatro partidos já sondaram Huck e, com o DEM fragmentado e mais governista, uma opção que passou a ser avaliada é o PSB.
As conversas com o partido ocorrem desde o ano passado e têm sido estimuladas pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), e por sua namorada, a deputada federal Tabata Amaral (SP), que está rompida com seu partido, o PDT. Tabata tem relação próxima com Huck e foi a ponte entre ele e Campos. Os dois jovens políticos integram o RenovaBR, grupo de renovação e formação política que tem o apoio do apresentador.
O filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos (que morreu em um acidente aéreo na campanha de 2014) e Huck também estreitaram a relação quando João Campos assumiu, aos 27 anos, o mandato de deputado federal e adotou uma agenda ambientalista e progressista. No Congresso, o atual prefeito da capital pernambucana foi relator da CPI do Óleo e presidiu a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica.
O DEM, que flertava com o apresentador, mergulhou em uma crise interna após a eleição da presidência da Câmara, quando a bancada liberou seus deputados para votarem em Lira - líder do Centrão e candidato do presidente Jair Bolsonaro. A aproximação da legenda com o Palácio do Planalto e a iminente desfiliação do deputado Rodrigo Maia (RJ) têm o potencial de esfriar as conversas do DEM com Huck.
A alternativa PSB tem como pano de fundo uma possível fusão entre a sigla socialista e o PCdoB, o que resultaria na criação de uma legenda de centro esquerda. Apesar de ainda embrionária, a tese tem sido bem recebida por quadros dos dois partidos. De acordo com interlocutores de Campos, há consenso de que é preciso construir pontes no campo da esquerda além do PT.
"A fusão do PSB com o PCdoB é uma possibilidade. Há conversas entre os líderes dos dois partidos", disse o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). "Assim como em 2018, a eleição de 2022 também não será convencional. A ideia é buscar uma pessoa da sociedade e acima dos partidos, mas ainda não aconteceu nenhuma conversa da direção do PSB com o Huck", afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Em conversas reservadas, Huck tem revelado ter admiração pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), com quem tem mantido conversas regulares nos últimos dois anos. O governador fez duas visitas ao apresentador, no Rio, antes da pandemia da covid-19. Durante a pandemia, organizaram pelo menos cinco reuniões virtuais com públicos diferentes, entre empresários, políticos e ativistas.
Dino vê em Huck um quadro "liberal progressista", que, uma vez eleito, não adotaria uma agenda de esquerda "puro sangue", mas faria um governo associado à pauta de proteção social e ambiental. Em uma das conversas que tiveram, Huck chegou a perguntar a Dino, que era juiz, sobre sua experiência de deixar um "porto seguro" para se aventurar na política.
Uma outra hipótese de união partidária - entre Cidadania, PV e Rede - poderia servir de guarida a uma candidatura de Huck. A ex-ministra Marina Silva mantém interlocução com o apresentador, mas a Rede resiste à ideia de fusão. "Essa conversa já foi feita com eles (Rede) e a decisão que tomaram foi negativa. Não tenho informação de que isso tenha mudado", afirmou o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire.
Ele reconheceu que há um alinhamento com o PV e que, no futuro, isso pode caminhar para uma proposta formal. "Mas não é pauta ainda." O Cidadania era considerado um destino confortável para o apresentador e abrigou diversos quadros dos movimentos de renovação política. Mas a avaliação corrente entre aliados de Huck é a de que o partido ainda carece de capilaridade e recursos para uma disputa presidencial.
Na articulação político-partidária, o projeto de Huck concorre com o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que também tenta formar uma rede de apoios com partidos da centro direita e passou a fazer acenos à centro esquerda na busca por uma frente anti-Bolsonaro.
O apresentador abriu um leque amplo de interlocutores. Nas conversas, porém, é econômico e geralmente escuta mais do que fala. Segundo aliados, entre os partidos que já o sondaram ou fizeram convites para filiação, está o Podemos, que costuma ser identificado com a defesa da Lava Jato. Huck se reuniu com o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro no fim de outubro do ano passado.
O encontro não foi bem recebido por boa parte dos seus apoiadores. A avaliação é de que o ex-magistrado de Curitiba contamina o seu projeto, trazendo para dentro dele a polarização PT x Bolsonaro. Além disso, Moro afasta da articulação de Huck as forças políticas da esquerda.
Uma possível filiação de Huck é algo tratado num horizonte ainda distante. Conforme a legislação, a data-limite é o início de abril do ano que vem, seis meses antes das eleições. Por enquanto, o apresentador continuará se colocando "à disposição" do País em manifestações pontuais. Aos poucos, pretende definir sua questão profissional na TV Globo (ele é cotado como possível substituto de Fausto Silva nas tardes de domingo, em 2022).
Procurados, Huck, Campos, Tabata Amaral e Renata Abreu, presidente do Podemos, não quiseram se manifestar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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