O ex-guerrilheiro chileno Maurício Hernández Norambuena, 62, um dos sequestradores do publicitário Washington Olivetto em 2001, está na lista das pessoas ligadas à facção criminosa PCC que tiveram a prisão decretada pela Justiça de Minas, dentro operação Caixa Forte 2, que investiga esquema de lavagem de dinheiro da facção.
A mulher (ou ex-mulher) de Norambuena, que não teve o nome divulgado, também teve a prisão decretada sob suspeita de ajudá-lo, quando ambos estavam no Brasil. Eles estão no Chile desde o ano passado, quando ele foi extraditado, a pedido do governo chileno, para cumprir o resto da pena de 30 anos pelo sequestro do publicitário.
Os mandados de prisão contra a dupla, segundo a reportagem apurou, ainda não foram cumpridos pela Interpol porque há uma análise da viabilidade de nova extradição do chileno ao Brasil. Os nomes de ambos já estão, porém, na divulgação vermelha e, assim, a mulher dele não conseguiria deixar o país se quisesse.
A megaoperação foi deflagrada na manhã desta segunda (31) por integrantes de uma força-tarefa instalada em Minas Gerais para combater a facção criminosa PCC, a Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), liderada pelos delegados da Polícia Civil Murillo Ribeiro de Lima e da Polícia Federal Alexsander Castro de Oliveira.
Ao todo, participaram da operação 1.100 policiais, em 19 estados e Distrito Federal. O alvo eram 422 pessoas, sendo 210 delas integrantes do PCC, e 202 mandados de busca e apreensão. Até a tarde desta terça (1), ao menos 305 pessoas tiveram a ordem de prisão cumprida (160 já estavam presas) e, nas buscas, foram apreendidas armas e dinheiro (aproximadamente R$ 2,2 milhões e US$ 730 mil, ou R$ 3,9 milhões).
A Justiça também bloqueou, segundo a polícia, até R$ 253 milhões de pessoas ligadas ao esquema de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
Essa segunda fase da operação teve como foco o setor de ajuda financeira que a cúpula da facção mantinha havia anos para integrantes que estivessem no sistema federal e enfrentassem dificuldades financeiras para se manterem. Com esse tipo de assistência, a facção gastava cerca de R$ 500 mil, segundo as investigações.
O período investigado pela polícia compreende os anos de 2018 e 2019. Para a polícia, o recebimento dessa ajuda configura lavagem de capitais.
"Há o dolo de ocultar, de dissimular esses recursos, dando a aparência de licitude. Porque todos eles simulavam como se fossem negócios legais, por intermédio de negociações falsas ou pela pulverização. Para fugir dos mecanismos de controle, iam depositando em pequenas quantias, até chegar o final do mês no total prometido pela facção", disse o delegado Ribeiro de Lima.
Segundo a polícia, havia três níveis de "mesada". Os presos menos importantes recebiam a menor faixa e, os mais importantes, as maiores. Norambuena estaria nesse terceiro grupo, como liderança importante da facção. Os valores repassados não foram divulgados.
Para integrantes do Ministério Público e policiais ouvidos pela reportagem, o chileno teve grande influência na estruturação do PCC como é hoje e, também, foi uma espécie de conselheiro do Marco Camacho, o Marcola, chefão máximo do grupo. O criminoso chileno teria ensinado a ele, na cadeia, táticas de terrorismo.
De acordo com a polícia, muitos detalhes da operação realizada nesta segunda não podem ser divulgados, porque há outras linhas de investigação em andamento. Ainda segundo a polícia, é uma demonstração de força do Estado.
"Há, sim, organizações criminosas que aterrorizam a população, mas o Estado e, principalmente, as forças policiais estão se movendo. E a bandeira da Ficco é exatamente essa: estamos trabalhando todo mundo junto em nome de um objetivo comum e os resultados estão aparecendo", disse Ribeiro de Lima.
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