Laboratórios privados brasileiros já criaram e disponibilizaram seus próprios testes diagnósticos para o Sars-CoV-2, o novo coronavírus que eclodiu na China e que já matou quase 2.800 pessoas em todo o mundo até esta quarta (26). O Brasil acaba de registrar seu primeiro caso.
A rede Dasa e o laboratório Fleury prometem resultados rápidos, em até três horas. Apesar disso, a recomendação atual é que eles sejam empregados com cautela, apenas em pessoas com grande chance de estarem infectadas.
Os exames só podem ser realizados em hospitais parceiros. Por ser tratar de uma situação crítica, o preço cobrado é o de custo (cerca de R$ 150) e pode variar de acordo com a instituição onde o material é coletado.
No setor público, quatro laboratórios de referência realizam os testes: Instituto Adolfo Lutz (SP), Instituto Evandro Chagas (PA), Fiocruz (RJ) e Laboratório Central de Goiás. O primeiro teste é realizado pelos hospitais de referência de cada estado e o material coletado é então enviado para um dos quatro laboratórios para checagem.
Os testes do setor privado ainda não são cobertos pelos planos de saúde porque não constam no rol de procedimentos obrigatórios da Agência Nacional de Saúde, que regula o setor. A expectativa é que a inclusão aconteça nas próximas semanas, já que se trata de uma emergência de saúde.
Segundo Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Fleury, há casos abundantes de pessoas com sintomas respiratórios no laboratório mas que têm gripe influenza A e B, um cenário atípico para os meses de janeiro e fevereiro.
"Na maior parte dos casos, a melhor estratégia pode ser fazer primeiro os testes de influenza. Se o paciente fizer o teste para o coronavírus sem necessidade, pode perder um tempo importante", diz o infectologista, já que essa deve ser a patologia mais provável.
Recomenda-se que sejam testados os pacientes com sintomas respiratórios e que tenham tido contato com alguém infectado ou que tenha viajado para uma região onde há transmissão da doença.
João Renato Rebello Pinho, patologista clínico da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial), conta que o desenvolvimento dos testes brasileiros para detecção do coronavírus se deu em meio a uma grande colaboração entre laboratórios públicos e privados. "Era algo importante."
Um dos entraves foi a obtenção de controles positivos, já que não havia até anteontem nenhum caso no Brasil. As amostras tiveram que vir da Europa. "Laboratórios nos EUA, na Europa, na China, em Hong Kong, no Leste Asiático e na Oceania desenvolveram métodos para detecção de onde derivam as técnicas empregadas no setores público e privado no Brasil", conta Pinho.
Com o diagnóstico correto, é possível tomar as medidas de contenção adequadas.
Antes dos novos testes, outra técnica, conhecida como Viroma, era usada. Ela faz uma pesquisa de todos os vírus presentes em uma amostra humana e permite o diagnóstico diferencial, ou seja, saber qual vírus está em ação. A desvantagem é o preço: R$ 1.200, valor oito vezes maior que o do teste específico.
Os novos exames são baseados em uma técnica conhecida como RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), que amplifica uma determinada sequência genética (no caso, aquelas do próprio vírus) a partir de uma espécie de isca molecular.
Essa isca (ou sonda) se gruda ao material genético do vírus, permitindo, na presença de um coquetel de reagentes e em temperaturas controladas, que novas cópias dessa sequência sejam produzidas. Se essa amplificação acontece, o resultado é considerado positivo.
É importante que a sonda seja específica o suficiente para não amplificar o material de outros coronavírus aparentados, como o vírus da síndrome respiratória do Mas nem tudo são flores no mundo dos diagnósticos. Um estudo chinês publicado neste mês na revista Radiology aponta que, mesmo apresentando alterações pulmonares detectadas em exames de tomografia computadorizada, alguns pacientes tiveram testes de RT-PCR negativo para o novo coronavírus.
Entre as possíveis explicações estão a demora para a proliferação do vírus, a falta de sensibilidade do teste e a origem do material coletado.
Esse teste pode ser feito com amostras como saliva, sangue e até mesmo urina, mas, segundo Granato, do Fleury, até onde se sabe a região em que há maior proliferação viral é a nasofaringe, região localizada no fundo do nariz.
"Com apenas um caso no Brasil, ainda estamos num estágio de bloqueio da disseminação. Não se pode ter um paciente com suspeita no meio de uma aglomeração com pessoas com doenças crônicas. Caso haja um crescimento da transmissão, a estratégia muda para a de diagnóstico rápido, com um protocolo mais adequado de segurança tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde responsáveis pelo exame", conta Gustavo Campana, diretor médico da Dasa.
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