Líderes mundiais condenaram a invasão a diferentes pontos da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na tarde deste domingo (8), por manifestantes golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um dos primeiros a se manifestar foi Gabriel Boric, presidente chileno. "O governo brasileiro tem todo o nosso apoio diante desse covarde e vil ataque à democracia", disse, por meio do Twitter.
Outro líder a demonstrar repúdio aos atos foi Alberto Fernández, presidente da Argentina, por meio de uma série de mensagens postadas no Twitter em que presta apoio ao presidente Lula e menciona uma "tentativa de golpe de Estado". "Quem tenta desrespeitar a vontade da maioria ameaça a democracia e merece não só a resposta legal adequada, mas também a condenação da comunidade internacional", diz uma das postagens.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, também classificou o episódio de tentativa de golpe em mensagem que condenava a invasão. Em visita à fronteira com o México, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que a situação no Brasil é ultrajante.
Gustavo Petro, presidente da Colômbia, também usou a rede social para dizer que uma reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos) seria urgente diante da situação. "Toda minha solidariedade a Lula e ao povo do Brasil. O fascismo decide atacar. A Direita não conseguiu manter o pacto de não-violência", completou.
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, chamou os atos de "ações de natureza fascista" por meio de sua conta de Twitter. "Condenamos o ataque às instituições em Brasília. Se trata de uma ação condenável e um ataque direto à democracia", afirmou também.
Ignacio Ybáñez, embaixador da União Europeia no Brasil, afirmou que estava "seguindo com grande preocupação os atos antidemocráticos e as ações violentas na Praça dos Três Poderes". Já a Embaixada dos EUA emitiu um alerta a cidadãos americanos em Brasília para evitar a região invadida.
O governo de Portugal, liderado pelo primeiro-ministro António Costa (Partido Socialista), repudiou os atos antidemocráticos. Em nota divulgada pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, o governo luso afirmou que "condena as ações de violência e desordem que hoje tiveram lugar em Brasília" e reiterou seu "apoio inequívoco às autoridades brasileiras na reposição da ordem e da legalidade".
"O Governo transmite a sua inteira solidariedade à Presidência da República do Brasil, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, cujos edifícios foram violados nas manifestações antidemocráticas que tiveram lugar esta tarde", diz o texto. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, também condenou o episódio. O chefe de Estado se manifestou ao vivo, por chamada telefônica, durante o telejornal da emissora SIC, uma das líderes de audiência do país.
Outros líderes europeus também se pronunciaram. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que "instituições democráticas devem ser respeitadas" e que "o Presidente Lula pode contar com o apoio incondicional da França". O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também ofereceu apoio ao presidente e "às instituições eleitas livre e democraticamente pelo povo brasileiro".
"Minha condenação completa do atentado às instituições democráticas do Brasil", afirmou Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.
Autoridades dos Estados Unidos também fizeram declarações de apoio. O presidente americano, Joe Biden, que neste domingo fez uma viagem a El Paso, afirmou que o ataque acontecido no Brasil é "ultrajante".
Jake Sullivan, assessor de segurança nacional dos EUA, afirmou que Biden estava "acompanhando a situação de perto". "Nosso apoio às instituições democráticas do Brasil é inabalável. A democracia brasileira não será estremecida pela violência", disse ele.
O secretário de Estado, Antony Blinken, afirmou que "usar violência para atacar instituições democráticas é sempre inaceitável".
Integrante da comissão que investiga a invasão do Capitólio, o deputado Jamie Raskin afirmou que países democráticos devem agir rapidamente e comparou a situação ao ocorrido nos EUA: "Esses fascistas que têm como modelo os manifestantes de 6 de janeiro [seguidores] de Trump e devem terminar no mesmo lugar: a prisão".
Os golpistas invadiram áreas do Congresso Nacional, do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal), espalharam atos de vandalismo e depredação e entraram em confronto com a PM.
Os atos guardam semelhanças com o evento acontecido nos Estados Unidos que, coincidentemente, completou dois anos nesta semana. Ocorrida em 6 de janeiro de 2021, a invasão ao Capitólio foi insuflada por um discurso do então presidente Donald Trump em Washington, levando manifestantes a invadirem o prédio do Legislativo americano, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória de Joe Biden na eleição de 2020 - o republicano e seus seguidores sustentam até hoje o discurso mentiroso de que o pleito foi fraudado.
O maior ataque recente à democracia americana foi classificado por muitos como uma tentativa de golpe de Estado e se tornou alvo de uma série de investigações, do Departamento de Justiça, do FBI e do próprio Congresso. O ataque resultou na morte de cinco pessoas, entre os quais um policial.
Desde então, a polícia federal americana prendeu mais de 950 pessoas - a investigação é considerada a maior da história do órgão -, tendo aberto processos contra 940, segundo o Programa sobre Extremismo, grupo da Universidade George Washington. Mais da metade dos réus, 482, confessou a culpa, e outros 44 foram assim considerados pela Justiça.
Já a ação promovida por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro neste domingo ocorre uma semana após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), antecedida por atos antidemocráticos insuflados pela retórica golpista do ex-presidente no período eleitoral.
O presidente Lula não está em Brasília neste final de semana, ele viajou para São Paulo e visitava Araraquara, no interior paulista, para acompanhar vítimas das chuvas.
Os responsáveis poderão ser punidos na Justiça com base na Lei Antiterrorismo, legislação que os próprios bolsonaristas tentaram endurecer visando punir manifestantes de esquerda.
(*) Colaboraram Giuliana Miranda, de Lisboa, e Thiago Amâncio, de Washington.
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