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Lula admite corrupção na Petrobras e aponta erros no governo Dilma

Lula admite corrupção na Petrobras e aponta erros no governo Dilma

Em entrevista ao Jornal Nacional, o candidato do PT prometeu combater corrupção, atacou Lava Jato e ironizou sigilos de Bolsonaro

Publicado em 25 de agosto de 2022 às 21:58

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O candidato à Presidência Lula (PT) no estúdio do Jornal Nacional, antes do início da entrevista
O candidato à Presidência Lula (PT) no estúdio do Jornal Nacional, antes do início da entrevista. (Marcos Serra Lima/g1)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, a investigação de "qualquer crime" de corrupção na máquina pública brasileira, caso seja eleito para um novo mandato. Ele admitiu casos corrupção na Petrobras nos governos do PT e apontou erros na condução da economia na gestão Dilma Rousseff.

"Qualquer hipótese de alguém cometer qualquer crime, por menor ou maior que seja, essa pessoa será investigada, será julgada e punida ou absolvida. Assim que você combate a corrupção no país. Corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada", disse Lula nesta quinta-feira (25), lembrando dos mecanismos que criou na sua gestão.

Confrontado pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos sobre escândalos de desvio de dinheiro público nas gestões petistas, Lula defendeu ter criado e fortalecido o aparato de combate à corrupção nos seus governos.

"Foi no meu governo que a gente criou o portal da transparência, a CGU, a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção, Lei contra Lavagem de Dinheiro, criamos o Coaf e colocamos o Cade para combater os cartéis. O Ministério Público era independente e a Polícia Federal recebeu mais independência que em toda história", descreveu.

Lula voltou a criticar a Lava Jato e disse que a operação errou ao "enveredar por um caminho político delicado". O petista também afirmou que o objetivo da força-tarefa foi condená-lo.

"Durante cinco anos, eu fui massacrado e tenho hoje a primeira oportunidade de falar sobre isso abertamente ao vivo. O que foi o equívoco da Lava Jato? Ela enveredou por um caminho político delicado, ultrapassou o limite da investigação e foi para um caminho político. Aconteceu exatamente o que eu previa. Objetivo da Lava Jato foi o Lula, condenar o Lula", criticou.

Lula admitiu corrupção na Petrobras, mas acusou o Ministério Público de "oficializar o roubo" com delações premiadas. "Não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram. O que é mais grave é que as pessoas confessaram e, por conta das pessoas confessaram, ficaram ricas. Você não só ganhava liberdade por falar o que queria o Ministério Público, como você ganhava metade do que roubou. O roubo foi oficializado pelo Ministério Público, o que eu acho uma insanidade e uma aberração para esse país. Lava Jato quase joga nome do MP na lama. MP é instituição séria que eu sempre valorizei, da mesma forma a PF."

Lula ainda ironizou os sigilos de 100 anos decretados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em informações públicas, sem citar o adversário.

"Eu poderia ter escolhido um procurador-geral engavetador, escolhi da lista tríplice. Poderia ter impedido que a Polícia Federal tivesse um delegado, que eu pudesse controlá-lo. Não fiz. Permiti que as coisas acontecessem do jeito que precisasse acontecer. Eu poderia fazer decreto de sigilo de 100 anos. Pro Pazuello, pros meus filhos, pros meus assessores. A corrupção só aparece quando você governa de forma republicana. Vamos continuar criando mecanismos para investigar qualquer delito que aconteça na máquina pública."

A jornalista Renata Vasconcellos insistiu no tema e questionou se Lula não teme que, ao não expor se vai cumprir a lista tríplice para a escolha do PGR, crie suspeição sobre o trabalho do MPF. "Não quero um procurador leal a mim. O procurador tem que ser leal ao povo brasileiro, à instituição", afirmou Lula, que disse ainda que "não quer amigos, quer pessoas sérias que falem em nome da instituição".

A jornalista questionou como Lula pretende impedir tentativas de interferências na Polícia Federal. "O Bolsonaro troca qualquer diretor a hora que ele quer. Basta que ele não goste. Eu nunca fiz isso e não vou fazer", assegurou.

O âncora William Bonner questionou como Lula pretende reequilibrar as contas públicas. O ex-presidente citou dados sobre a condução na economia durante os seus dois governos e afirmou que é necessário previsibilidade, credibilidade e estabilidade.

GOVERNO DILMA

Bonner retomou o tema e questionou Lula sobre a recessão e a "explosão" da inflação nos governos Dilma Rousseff e perguntou se ele pretende implantar a política econômica dos dois primeiros mandatos ou de sua sucessora. O ex-presidente reconheceu que Dilma cometeu erros na condução da economia, mas defendeu a sua sucessora.

"Dilma cometeu equívocos na questão da gasolina, ao fazer R$ 540 bilhões de desonerações em isenção fiscal. Quando ela tentou mudar, ela tinha uma dupla dinâmica contra ela. O Eduardo (Cunha), presidente da Câmara, e o Aécio no Senado, que trabalharam o tempo inteiro para que ela não fizesse mudanças", lembrou.

Lula foi duro com as palavras ao falar do orçamento secreto. Ele chamou o mecanismo revelado pelo Estadão de "excrescência" e de um "escárnio". "(O orçamento secreto) não é moeda de troca, isso é usurpação de poder. Acabou o presidencialismo. Bolsonaro é refém do Congresso, ele sequer cuida do orçamento. Isso nunca aconteceu desde a proclamação da República", disse.

O petista ainda usou o orçamento secreto para minimizar o escândalo do mensalão. "Você acha que o mensalão que tanto se falou foi mais grave que o orçamento secreto?", questionou.

Lula também reforçou as críticas ao novo Auxílio Emergencial. "Ele acabou de aumentar o Auxílio Emergencial. Até quando? Até o dia 31 de dezembro, porque na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) não tem continuidade. Ele agora manda a LDO (ao Congresso) e mente dizendo que vai continuar", afirmou.

MILITÂNCIA 

Questionado sobre a recepção da base petista em relação à formação de campanha com 10 partidos, o ex-presidente defendeu a união com seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), seu adversário nas eleições presidenciais de 2006. "Alckmin já foi aceito pelo PT de corpo e alma. Alckmin é uma pessoa que vai me ajudar, tenho confiança que a experiência como governador de São Paulo vai me ajudar a consertar esse País", disse.

Questionado se o PT não foi um dos responsáveis pelo atual cenário de polarização na política, Lula afirmou que polarização é diferente de estímulo ao ódio e que o Brasil era "feliz" quando a disputa política era entre PT e PSDB.

"Feliz era o Brasil e a democracia brasileira quando a polarização deste país era entre PT e PSDB. A gente era adversário político, trocava farpas... Quando a gente se encontrava em um restaurante, eu não tinha problema em tomar uma cerveja com o Fernando Henrique Cardoso, com o José Serra ou com o Alckmin. A gente não se tratava como inimigo. A militância é como torcida organizada. Política é assim. Você tem divergência, você briga, mas você não é inimigo", afirmou.

Bonner citou o fato de Lula ter usado a narrativa do "nós contra eles" durante o seu governo e questionou se isso não estimula a polarização. "Polarização é saudável no mundo inteiro. Tem nos EUA, na Alemanha, na França, na Noruega, na Finlândia... Não tem polarização no Partido Comunista Chinês, no Partido Comunista Cubano. Quando se tem democracia, a polarização é saudável. É estimulante. Não podemos confundir polarização com o estímulo ao ódio", argumentou.

Lula foi o terceiro entrevistado da série de sabatinas do Jornal Nacional, que recebe os principais presidenciáveis ao longo da semana. O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro a ser ouvido, na segunda-feira, seguido por Ciro Gomes (PDT) na terça-feira. A senadora Simone Tebet (MDB) será a última a participar, na sexta-feira.

A última vez que Lula foi sabatinado como candidato pelo principal telejornal da Globo foi em 2006, quanto tinha seu atual vice, Geraldo Alckmin, como adversário na disputa pelo Palácio do Planalto. Como mostrou o Estadão, o ex-presidente passou por um intenso treinamento de preparação para o JN na última terça-feira em sala reservada do QG petista instalado na zona oeste de São Paulo.

Participaram do treinamento com Lula o coordenador de comunicação da campanha, Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, e o jornalista e ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República durante o segundo governo Lula, Franklin Martins, que trabalhou na Globo antes de integrar a equipe do petista.

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