O ex-presidente e pré-candidato ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou na noite de sexta-feira, 17, que intercedeu junto ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, pela libertação dos sequestradores do empresário Abílio Diniz. A declaração foi dada em evento do PT em Maceió, durante uma série de visitas do petista ao Nordeste.
Lula admitiu a participação no processo que culminou na extradição dos envolvidos, que eram estrangeiros, enquanto falava sobre sua amizade com o senador Renan Calheiros (MDB), um dos ministros da Justiça nos governos de FHC.
"Eles iam entrar em greve seca, que é ficar sem comer e sem beber, e aí é morte certa. Aí, eu então fui procurar o ministro da Justiça, Renan Calheiros, que depois de uma longa conversa me disse para falar com o presidente Fernando Henrique Cardoso, porque ele teria toda disposição de mandar soltar o pessoal", disse Lula.
Durante o relato, o petista recordou que à época do crime os sequestradores teriam afirmado que foram obrigados a vestir camisetas com a logomarca do PT, para que o partido fosse relacionado ao caso, fato nunca confirmado.
Lula seguiu a narrativa dizendo que, de fato, foi procurar o tucano: "Eu disse 'Fernando, você tem a chance de passar para história como um democrata ou como o presidente que permitiu que dez jovens que cometeram um erro morressem na cadeia, e isso não vai (se) apagar nunca'".
De acordo com Lula, FHC teria garantido que concederia a soltura se o petista convencesse os presos a encerrarem a greve de fome. Logo após, o ex-presidente diz que foi à cadeia onde estavam os detentos e pediu a palavra do grupo de que encerrariam a greve de fome para que fossem soltos. "Hoje não sei onde estão", finalizou.
Em abril de 1998, no último ano do primeiro mandato de FHC, o governo federal deu andamento ao processo de extradição dos sequestradores estrangeiros, mas nunca admitiu relação da decisão tomada com a ameaça de greve de fome.
A declaração sobre a amizade com Renan Calheiros não foi à toa. Durante o evento, antes do discurso de Lula, o senador subiu ao palco e também falou ao público. Cacique da política emedebista no Estado, ele reforçou o apoio do MDB alagoano à candidatura de Lula ao Planalto. Também aproveitou a ocasião para dar destaque à pré-candidatura do atual governador, Paulo Dantas (MDB), que assumiu mandato tampão após Renan Filho (MDB) deixar o cargo para correr ao Senado Federal.
Lula passou por três Estados durante a turnê. A primeira parada foi na quinta-feira, 16, em Natal, no Rio Grande do Norte, onde dividiu o palco com a pré-candidata à reeleição estadual, Fátima Bezerra (PT). Na ocasião, o vice da chapa encabeçada pelo PT à presidência, Geraldo Alckmin (PSB), foi vaiado por apoiadores petistas.
Além do encontro de Maceió, na noite passada, a excursão de Lula e Alckmin passou neste sábado, 18, por Aracaju. Assim como nos eventos anteriores, a dupla foi recepcionada pelo pré-candidato do partido ao governo estadual. Dessa vez foi o senador Rogério Carvalho (PT) quem fez as honras da casa aos pré-candidatos. A viagem termina em São Cristóvão, na região metropolitana de Sergipe, no final da tarde deste sábado, 18.
O empresário Abílio Diniz foi sequestrado em 11 de dezembro de 1989, em São Paulo, por um grupo de dez integrantes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). Dez pessoas foram presas por envolvimento no caso: cinco chilenos, dois canadenses, dois argentinos e um brasileiro. O grupo foi condenado a cumprir penas que variavam entre 26 e 28 anos de prisão.
Os sequestradores alegaram, à época, que a ação tinha fins políticos e que queriam dinheiro para financiar a guerrilha em El Salvador. O grupo de estrangeiros foi extraditado aos países de origem em 1998, e lá deveriam seguir cumprindo pena. Materiais da campanha de Lula à presidência foram, de fato, apresentados à imprensa como de posse dos sequestradores, mas o envolvimento do PT com o crime nunca foi comprovado.
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