Levantamento do jornal "Folha de S.Paulo" com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou 368 cidades que no segundo turno de 2018 preferiram Jair Bolsonaro (PL). Com o avanço, o petista venceu neste domingo (30) em 3.123 municípios.
A análise comparou os resultados de 2022 com os das localidades conquistadas pelo atual chefe do Executivo, à época no PSL, e por Fernando Haddad (PT) na rodada final há quatro anos. Na eleição presidencial anterior, o ex-prefeito de São Paulo foi o substituto de Lula, barrado pela Justiça.
Apesar da derrota nacional, Bolsonaro venceu em 54 cidades onde perdeu em 2018. Já a alta mais forte de Lula foi em Itutinga (MG). Lá, teve 62,9%, salto de 18,4 pontos percentuais – há quatro anos, foram 44,5%.
O atual presidente não avançou em nenhuma nova capital neste ano, após levar 21 em 2018, e ainda viu cinco delas passarem para Lula: Belém, João Pessoa, Natal, Porto Alegre e São Paulo.
Na metrópole paulista, o petista teve sua votação mais expressiva numa capital onde o PT perdeu há quatro anos e terminou o domingo com 53,54% dos votos -no segundo turno da eleição anterior, Haddad teve 39,6%.
Porto Alegre, com 53,5%, registrou vantagem próxima da cifra da capital paulista –em 2018, foram 43,1%.
Foi nos municípios do Sudeste que Lula mais avançou -por se tratar de uma região populosa dominada por Bolsonaro, havia bastante margem para crescimento petista. Ainda assim, o atual presidente predominou: venceu em 969 cidades (58,1% da região), incluindo quatro onde havia perdido em 2018.
O petista, por sua vez, conquistou 263 municípios (15,8%) e manteve outros 435 (26,1%) que escolheram Haddad em 2018. As pesquisas ao longo do segundo turno apontavam uma disputa acirrada na região -com Lula estreitando a margem na última semana, segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta (27).
Minas Gerais foi um estado decisivo no cômputo das localidades conquistadas, já que é o que mais tem municípios do Brasil -e o único do Sudeste com vitória de Lula em ambas as rodadas. Lá, Bolsonaro teve apoio de Romeu Zema (Novo), reeleito governador no primeiro turno com 56,2% dos votos.
O palanque, entretanto, não foi suficiente para alavancar Bolsonaro em terras mineiras. A vantagem, ao final, foi petista, com 160 cidades abocanhadas (18,8%, o maior percentual em um estado), além da manutenção de 404 (47,4%) municípios conquistados no segundo turno de 2018.
Em Minas, o atual presidente segurou 285 municípios (33,4%) e avançou sobre outros quatro (0,5%).
O estado é considerado um espelho do país na eleição presidencial, refletindo o resultado nacional desde 1989. Segundo maior colégio eleitoral do Brasil (15,8 milhões), atrás apenas de São Paulo (33,1 milhões), Minas gerais tradicionalmente exibe resultados semelhantes aos de todo o Brasil.
Juiz de Fora, em geral um reduto eleitoral petista -o partido mantinha vitórias em série no município desde 1998-, optou pelo capitão reformado do Exército no pleito anterior. Foi lá que Bolsonaro levou a facada.
No primeiro turno deste ano, no entanto, o PT conseguiu retomar a cidade. Na ocasião, foram 52,6% dos votos para Lula, ante 38,4% para Bolsonaro. Neste domingo, o presidente eleito teve 56,1%.
O petista também conseguiu avanço expressivo no Rio de Janeiro. Bolsonaro liderou no estado e venceu em 72 cidades (78,3%), mas Lula agregou 17 cidades (18,5%) às três (3,3%) vencidas por Haddad em 2018.
Em São Paulo, o avanço petista sobre 83 cidades (12,9%) não foi suficiente para frear a vantagem de Bolsonaro. O atual presidente levou a grande maioria dos municípios, 547 (84,8%), mesmo sem ter conquistado nenhum dos 14 (2,2%) vencidos pelo PT em 2018.
Os avanços de Bolsonaro se concentraram mais na região Norte, onde levou 14 cidades (3,1% da região).
Uma delas foi Pacaraima (RR), que ele já havia conquistado no primeiro turno. Agora, 63,9% dos votos na cidade na fronteira com a Venezuela -ponto de chegada de imigrantes do país vizinho, que se deslocam por terra ao Brasil– foram para o atual presidente. Em 2018, Haddad venceu no município.
A análise da Folha de S.Paulo mostra ainda que as cidades conquistadas por Bolsonaro no segundo turno receberam mais verba per capita do orçamento federal ao longo do mandato em relação a aquelas que foram para o lado de Lula. Os recursos contemplam repasses obrigatórios e opcionais.
Em média, foram R$ 8.000 mensais por habitante nos locais vencidos por Bolsonaro, contra R$ 3.000 nos redutos conquistados por Lula. A disparidade contrasta com a proximidade na receita dos municípios: R$ 820 per capita mensais nas cidades que optaram pelo presidente e R$ 940 nas que escolheram o petista.
A informação do Orçamento federal é do Portal da Transparência, e os dados das cidades, do sistema de finanças dos municípios do Governo Federal (Finbra). Os valores consideram o início do mandato de Bolsonaro, em janeiro de 2019, e a cifra mais recente disponível, de agosto de 2022.
No primeiro turno, Lula já havia garantido a retomada de 226 redutos eleitorais petistas que debandaram para outros partidos em 2018 –em 156 deles, obteve mais da metade dos tentos. A análise avaliou as 357 cidades que votaram majoritariamente nos candidatos do PT no primeiro turno entre 2002 e 2014, mas optaram por Bolsonaro ou Ciro Gomes (PDT) em 2018.
Além dessa retomada, Lula já havia conseguido uma virada em 30 das 459 cidades onde o PT não venceu nenhum primeiro turno de pleitos presidenciais desde 2002. Nesses locais, o PSDB predominou até 2014.
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