O ex-presidente Lula afirmou em um programa de debates que se arrependeu de ter defendido o ex-terrorista Cesare Battisti. No último dia de seu mandato, o petista concedeu asilo ao italiano, que foi preso na Bolívia em janeiro de 2019 e extraditado para a Itália, onde cumpre prisão perpétua.
"Hoje, acho que, assim como eu, todo mundo da esquerda brasileira que defendeu Cesare Battisti aqui ficou frustrado, ficou decepcionado. Eu não teria nenhum problema de pedir desculpas à esquerda italiana e às famílias do Battisti", disse Lula em um programa de debates da TV Democracia divulgado na quinta-feira (20) por um canal do YouTube.
O ex-presidente alegou que seu então ministro da Justiça, Tarso Genro, assim como outros líderes da esquerda brasileira, estavam convencidos da inocência de Battisti, acrescentando que o italiano enganou "muita gente no Brasil".
"Não sei se enganou muita gente na França, mas na verdade muita gente achava que ele era inocente. Nós cometemos esse erro, pediremos desculpas", declarou Lula, que lamentou que o caso tenha "comprometido" suas boas relações com o governo italiano e "com toda a esquerda italiana e a esquerda europeia".
Genro já havia cobrado uma autocrítica do Brasil depois que Battisti admitiu em março de 2019 a participação em quatro homicídios cometidos no final dos anos 1970, quando era expoente de um dos tantos grupos armados da esquerda (havia também os de direita) que se insurgiram contra o Estado.
Após a prisão do ex-terrorista, Lula foi alvo de um aliado histórico, o ex-presidente italiano Giorgio Napolitano, ícone da centro-esquerda e que conhece o petista desde os anos 1980.
Battisti driblou a Justiça de seu país de 1981 até 14 de janeiro de 2019, quando retornou preso após viver no México, na França e no Brasil. Aos 65, ele está isolado num presídio de segurança máxima na ilha da Sardenha.
Luta armada
Na década de 1970, envolve-se com grupos de luta armada de extrema esquerda. Entre 1977 e 1979, o grupo PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), ao qual ele era ligado, comete os assassinatos do agente penitenciário Antonio Santoro, do joalheiro Pierluigi Torregiani, do açougueiro Lino Sabadin e do agente policial Andrea Campagna. Battisti é condenado pelos crimes.
Na década de 1980, foge da Itália e passa a maior parte do tempo no México. É condenado à prisão perpétua pela Justiça italiana, acusado de quatro homicídios.
França
Na década de 1990, exila-se em Paris (França), protegido por legislação do governo Mitterrand.
Chegada ao Brasil
Chega ao Brasil em 2004, fugido da França, onde morava. Em 2007, é detido no Rio.
Em 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, lhe concede refúgio político
Anulação
Em novembro de 2009, STF anula o status de refugiado
Lula
Em dezembro de 2010, no último dia de mandato como presidente, Lula garante a permanência de Battisti no Brasil
Fronteira
Em 2017, o italiano é preso por evasão de divisas em Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia, ao transportar cerca de R$ 23 mil não declarados
Temer
Em 2018, presidente Michel Temer revoga a condição de refugiado, mas aguarda decisão do STF sobre habeas corpus preventivo para extraditá-lo
Fuga 2
Em dezembro do mesmo ano, STF determina a prisão. Temer autoriza a extradição para a Itália, mas Battisti não é encontrado pela PF
Extradição
Italiano é preso na Bolívia, em 12 de janeiro de 2019, e extraditado para a Itália no dia seguinte
Confissão
Em março de 2019, preso na Itália, Battisti admite pela primeira vez ter atuado como mandante de dois assassinatos e como perpetrador dos outros dois
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