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Lula não assumiu ser comunista, diferentemente do que afirma post

Lula não assumiu ser comunista, diferentemente do que afirma post

O presidente, na verdade, diz que seu partido tem “forte relação” com o Partido Comunista chinês. Ele também afirma que, para políticos progressistas e de esquerda, não se trata de uma ofensa ser chamado de "comunista" ou "socialista", mas um orgulho

Publicado em 27 de setembro de 2024 às 09:37

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Lula não assumiu ser comunista, diferentemente do que afirma post. (Reprodução TikTok | Arte A Gazeta)

Conteúdo investigado: Montagem com dois vídeos do presidente Lula em situações distintas. Sobreposto às imagens, na parte superior, um texto diz: “Só pra quem duvidava! Atenção! Urgente. O Lula assume o comunismo”. Já na parte inferior, outro texto diz: “E agora? Meu povo? Quem poderá nos defender?”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não assumiu ser comunista, ao contrário do que afirma publicação no TikTok. Os vídeos utilizados em montagem viral são de 2023 e se referem a dois momentos distintos.

O primeiro vídeo é de 22 de setembro daquele ano. A fala foi feita durante encontro no Palácio do Planalto entre o petista e Li Xi, membro do Comitê Permanente do Politburo e secretário da Comissão Central de Inspeção Disciplinar do Comitê do Partido Comunista da China. Na ocasião, eles trataram das relações econômicas entre os países, em comemoração aos 30 anos de parceria estratégica.

No canal do YouTube do presidente, há um vídeo que mostra oito minutos da conversa com Li Xi. Nele, Lula começa dizendo:

“Bem, meu caro Li Xi, membro da delegação chinesa, embaixador. Para nós, brasileiros, é sempre uma alegria poder receber um país-irmão, com quem mantemos uma relação extraordinária não apenas do ponto de vista comercial, mas também do ponto de vista político. O meu partido tem uma forte relação com o Partido Comunista Chinês”.

Em seguida, o chefe do Executivo brasileiro afirma que já foi à China como dirigente partidário, antes de assumir a presidência. Lula ainda cita que quer transmitir a boa vontade do governo em estabelecer relações cada vez mais fortes com a China, em âmbito comercial, político e cultural.

O segundo vídeo também tem mais de um ano. A gravação foi feita no dia 29 de julho de 2023, no evento da Cerimônia de Abertura do XXVI Encontro do Foro de São Paulo, que aconteceu em Brasília. Segundo o PT, que publicou o discurso de abertura na íntegra no YouTube, o evento foi uma articulação internacionalista (princípio que defende uma maior cooperação econômica e política entre nações e estados) de partidos e movimentos de esquerda de 27 países da América Latina e Caribe.

Em nota ao Comprova, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal disse que Lula não declarou ser comunista.

“No primeiro vídeo, o presidente Lula lembrou que o PT tem uma forte relação com o Partido Comunista Chinês e destacou a importância da relação entre os dois países em diversas áreas, como é possível confirmar no vídeo original”, diz trecho do comunicado.

“Já no segundo, Lula pondera que ser chamado de comunista é motivo de orgulho e que, entretanto, seria uma ofensa ser nomeado como nazista, neofascista ou terrorista. O discurso está disponível na íntegra aqui. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República repudia a divulgação de boatos falsos para fins políticos”, finaliza o texto.

Segundo o dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, o comunismo é uma “doutrina econômica, política e social baseada no sistema de propriedade coletiva e na distribuição de renda conforme as necessidades individuais”. Embora o comunismo tenha sofrido diversas interpretações ao longo do tempo, Karl Marx e Friedrich Engels são considerados os principais idealizadores dessa corrente política e ideológica. Ultimamente, o termo tem sido vulgarizado nas redes sociais, sendo associado a qualquer posicionamento progressista ou de esquerda.

Lula não se define como comunista e Fernando Morais, autor da biografia do político publicada em 2021 e intitulada “Lula”, também não o considera. Em 2017, o escritor perguntou a Lula se ele era ou não um “comunista de coração”, e o atual presidente respondeu o seguinte: “Em 1980, eu tinha meio milhão de trabalhadores atrás de mim, e impedi uma greve. Se eu fosse comunista, teria então iniciado uma revolução. Mas o que é que eu fiz? Em vez disso, comecei uma festa e uma central sindical”. O conteúdo foi publicado em texto pelo site de notícias da Deutsche Welle (DW) Brasil.

Atualmente, cientistas políticos analisam o terceiro mandato de Lula como centro-esquerda e até centro-direita – posicionamentos que estão distantes do comunismo.

A reportagem tentou contatar o autor do post, mas as configurações do seu perfil não permitem o envio de mensagens de desconhecidos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de setembro, o vídeo alcançou mais de 68 mil visualizações no TikTok.

Fontes que consultamos: Verificamos os vídeos originais na íntegra e solicitamos posicionamento da Secom.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Lula é alvo frequente de desinformação. O Comprova já mostrou, por exemplo, que é falsa a frase atribuída ao presidente com ameaça ao Supremo Tribunal Federal, e que vídeo engana ao tirar de contexto fala dele sobre “universidade ser para ricos”.

Investigação e verificação

Investigado por: Nexo, NSC e Metrópoles
Texto verificado por: CNN Brasil, O POVO, UOL, Estadão e Folha


O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança. 

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