Conteúdo investigado: Trecho de vídeo feito nos bastidores do debate presidencial de 16 de outubro em que é possível ver o candidato à Presidência e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passando por sua mulher, Janja, e dizendo, sem olhar para ela, algo inaudível seguido por “Você não sabe p**** nenhuma”. Em seguida, homem vestindo camiseta com o número 22, de Jair Bolsonaro (PL), diz que o petista falou “Que é? Você não sabe p* nenhuma” dirigindo-se a Janja. O homem, então, critica Lula, afirmando que ele a destratou e que, se fosse Bolsonaro falando com a primeira-dama, “o mundo tinha desabado”.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: Usando vídeo gravado nos bastidores do primeiro debate presidencial do 2º turno, em 16 de outubro, homem engana ao afirmar que Lula tratou mal sua mulher, Rosângela Lula da Silva, a Janja, ao dizer: “Que é? Você não sabe p*** nenhuma”. Na verdade, Lula falava com seu fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert, que havia acabado de lhe passar orientações sobre as câmeras e o uso da cadeira. Em vez de “que é?”, ele disse “Stuckinha”, apelido do profissional.
Segundo a jornalista Fabíola Cidral, que gravou a cena usada na peça de desinformação – o vídeo original está disponível no Canal UOL, no YouTube –, o que ela presenciou não parecia agressão, mas uma “brincadeira”. “Stuckert explicava sobre as câmeras e o uso da cadeira. E Lula brinca: ‘Stuckinha, você não sabe p***** nenhuma'”, tuitou a comunicadora após a viralização do vídeo enganoso. Inicialmente, circulou uma versão de que Lula estaria destratando uma assessora chamada Sofia, o que também não é verdade.
Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa de Lula confirmou que ele falava com o fotógrafo, com quem trabalha há 20 anos. “A própria repórter que fez o vídeo disse que eles estavam conversando em tom de brincadeira”, afirma a nota.
Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 18 de outubro, a publicação no TikTok teve 116,4 mil curtidas, 5,8 mil comentários e 77,9 mil compartilhamentos.
O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com o dono do perfil do post verificado, mas ele não respondeu até a publicação desse texto.
Como verificamos: Foram pesquisadas no Google palavras-chave e frases relacionadas ao conteúdo investigado, como “Lula xinga Janja” e “debate UOL”. A busca resultou em uma matéria do portal UOL com explicações sobre o caso, esclarecendo que o palavrão dito por Lula foi direcionado ao fotógrafo Ricardo Stuckert.
Outra pista foi encontrada no próprio TikTok. Logo abaixo do vídeo verificado, é possível ler “#costurar com @uol”. Ao clicar sobre “@uol”, a rede social redireciona o usuário para o vídeo original, sem cortes, publicado pelo portal de notícias. “Costurar” é uma ferramenta de criação do TikTok que permite ao usuário combinar um vídeo de outra pessoa com o que ele está criando.
Neste caso, houve uma mistura de um trecho da gravação publicada pelo UOL com outra em que um homem julga a cena tirando-a de contexto.
Também foi possível encontrar a versão completa do vídeo no perfil no Instagram da jornalista Fabíola Cidral, uma das apresentadoras do debate e autora da gravação. Outro resultado de publicação enganosa com o mesmo trecho, verificada pelo UOL Confere, afirma que a fala havia sido direcionada a uma suposta assessora da campanha do ex-presidente identificada como “Sofia”. Contudo, não há assessora com esse nome entre as que trabalham diretamente com Lula, como verificou o UOL.
Por WhatsApp, o Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa de Lula e com Stuckert. O fotógrafo não respondeu.
Na gravação original, Fabíola Cidral está entrevistando Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa de Lula, no estúdio onde ocorreu o primeiro debate do segundo turno, promovido por TV Cultura, Band, UOL e Folha de S.Paulo, em 16 de outubro, em São Paulo. Ela, então, anuncia a chegada do presidenciável ao estúdio. Lula passa pela deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e por outras pessoas, e caminha até o púlpito. Nesse momento, é possível ouvir Stuckert dizer: “Vamos só ajustar aqui, presidente, a altura do seu…”, e Lula diz algo. Em seguida, o fotógrafo aponta para diferentes direções.
Lula, então, sai do púlpito e é a partir daí que a gravação é usada no post enganoso. Ele passa ao lado de Janja no mesmo momento em que fala “Stuckinha, você não sabe p**** nenhuma”, e caminha para o centro do palco. O conteúdo verificado aqui exibe até esse momento, mas o vídeo original continua com Lula cumprimentando os jornalistas Adriana Araújo e Eduardo Oinegue.
No Canal UOL no YouTube, em que é possível ver o vídeo original, há outra gravação na sequência, mostrando a entrada de Jair Bolsonaro no estúdio.
O mesmo vídeo viralizou em outros contextos, igualmente enganosos. Em uma das versões, compartilhada pelo vereador de São Paulo Fernando Holiday (sem partido), Lula teria xingado um assessor, o que também não procede. Em outra, estaria se dirigindo de maneira grosseira a uma assessora chamada Sofia.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à presidência, como no post aqui verificado, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o UOL Confere fez checagem de conteúdo semelhante ao post verificado aqui. E em verificações anteriores que citam Lula, o Comprova mostrou que fala dele é tirada de contexto para sugerir deboche de quem crê na promessa de comer picanha, que é falso que a sigla em boné usado pelo presidenciável tem relação com facção criminosa; que são montagens as reproduções do Twitter e do G1 que atribuem ao petista declarações sobre desarmamento e que vídeo engana ao dizer que ele pode perder candidatura por conta da Lava Jato.
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