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Lula não gastou R$ 300 bilhões na campanha para se eleger em 2022

Lula não gastou R$ 300 bilhões na campanha para se eleger em 2022

Durante a entrevista em que menciona esse valor, o presidente, na verdade, estava se referindo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e não a si

Publicado em 12 de agosto de 2024 às 09:26

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É enganoso vídeo que sugere que Lula admitiu gastar R$ 300 bilhões para se eleger
É enganoso vídeo que sugere que Lula admitiu gastar R$ 300 bilhões para se eleger. (Reprodução TikTok/Arte A Gazeta)

Conteúdo investigado: Em vídeo, o blogueiro e youtuber Allan dos Santos afirma que Lula admitiu em uma entrevista ter gasto R$ 300 bilhões para se eleger em 2022. O autor do vídeo questiona a origem desse dinheiro, afirmando que não se trata de desinformação, manipulação ou uso de inteligência artificial. Ele ainda adicionou a legenda: “60 bilhões de dólares para ganhar as eleições?”. Além disso, o homem sugere que as eleições de 2022 não aconteceram de forma legítima.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Um vídeo publicado no TikTok engana ao afirmar que o presidente Lula (PT) admitiu, durante uma entrevista concedida à rádio Sociedade, em Salvador (BA), ter gastado R$ 300 bilhões para se eleger em 2022. Na gravação original (minuto 50:00), é possível verificar que ele estava, na verdade, se referindo ao seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e não a si, ao mencionar a quantia gasta.

Também não é verdade que Bolsonaro tenha gastado esse valor durante a campanha eleitoral. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha dele acumulou despesas de R$ 89.060.761,35Lula, por outro lado, gastou R$ 131.313.037,45, de acordo com informações do órgão.

Lula não cita a fonte dos dados, mas o valor de R$ 300 bilhões que teriam sido gastos por Jair Bolsonaro já foi mencionado pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad em outras ocasiões. Segundo Haddad, este valor foi gasto pelo governo Bolsonaro no ano de 2022 em termos de renúncia de receita e aumento de despesa, consideradas as três esferas de governo (Lula também mencionou esse tipo de medida).

A entrevista foi realizada no dia 2 de julho de 2024. Durante a conversa, Lula abordou vários temas, incluindo seu carinho pela Bahia, seus mandatos anteriores e o desenvolvimento da região. Ele também discutiu a alta especulativa do dólar, fez críticas ao presidente do Banco Central e comentou sobre a reforma tributária, especialmente no que diz respeito ao imposto sobre a carne.

Na fala em que menciona o valor de R$ 300 bilhões, o presidente responde a uma pergunta da entrevistadora Silvana Oliveira sobre como via o crescimento dos candidatos de direita e se tinha receio de sofrer etarismo como Joe Biden, presidente dos Estados Unidos.

Durante sua resposta, Lula afirmou que decidiu disputar as eleições em 2022 por acreditar que sua candidatura era “a única chance de derrotar o fascismo”. Em seguida, Lula faz uma referência a Jair Bolsonaro, indicando que o adversário gastou essa quantia em campanha.

O presidente afirma: “Silvana, você sabe quanto de recurso foi colocado nos últimos dois anos pra tentar ganhar as eleições? O equivalente a 60 bilhões de dólares. Eu vou traduzir em reais: 300 bilhões de reais, pra tentar fazer ele não perder as eleições, comprando voto, dando dinheiro pra taxista, pra motorista, distribuindo dinheiro para todo mundo, fazendo isenção, fazendo desoneração. Perdeu. Perdeu as eleições, e eu vou contar uma coisa pra você: não volta mais, porque esse povo vai ter que aprender a gostar da democracia, vai ter que aprender a viver de forma civilizada, de forma educada, um respeitar o outro.”

O Comprova tentou contato com a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal em busca da fonte da alegação de Lula, mas não houve retorno até a publicação desta checagem. Também houve tentativa de contato com o autor do post enganoso, mas não tivemos retorno. Contatamos ainda a defesa de Allan dos Santos, o homem que aparece no vídeo investigado, mas não conseguimos contato com o próprio Allan dos Santos para obter um posicionamento.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de agosto, a publicação no TikTok tinha 201 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Assistimos à entrevista do presidente à rádio Sociedade na íntegra. Também procuramos a fonte dos dados do valor gasto nas campanhas eleitorais de 2022, a Secom e o responsável pela publicação investigada.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Esta mesma peça de desinformação foi checada por outras agências, como ReutersLupaEstadão Verifica e Boatos.org. O Comprova já checou vários conteúdos que manipulam discursos do presidente, e verificou ser falso que Lula tenha sido vaiado em evento e enganoso vídeo em que ele teria afirmado que universidades são para ricos.

*Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Investigação e verificação

Investigado por: Metrópoles e Residência Comprova
Texto verificado por: A Gazeta, Nexo, Correio Braziliense, Estadão, Folha, SBT, SBT News, O Popular e imirante.com   

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança. 

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