Luiz Inácio Lula da Silva, 77, líder do Partido dos Trabalhadores, foi eleito pela terceira vez presidente da República, neste domingo (30). Em um pleito acirrado e marcado por ineditismos e forte cisão social, Lula derrotou o presidente Jair Messias Bolsonaro, 67, do Partido Liberal, que concorria à reeleição.
O país sai dividido, com a menor diferença desde a redemocratização entre o vencedor e o derrotado (1,7 ponto). Com 99,2% das urnas apuradas, o petista obteve 50,84% dos votos válidos, ante 49,16% do rival.
A eleição, que marca a volta da esquerda ao poder depois de seis anos, registrou o recorde de votos depositados no candidato vitorioso. Lula teve ao menos 59,8 milhões de votos, superando a marca atingida por ele mesmo no segundo turno de 2006, quando conquistou 58,2 milhões de apoios.
Já Bolsonaro, com pelo menos 57,8 milhões, superou seu patamar em 2018 (57,7 milhões). Neste ano, 156,4 milhões de eleitores estavam aptos a votar. O percentual de nulos e brancos foi de 4,59%.
Até então, a menor distância entre concorrentes do segundo turno presidencial era a registrada em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) ficou 3,3 pontos à frente de Aécio Neves (PSDB).
A derrota de Bolsonaro, primeiro candidato à recondução a perder a disputa, foi confirmada pelo TSE. A corte foi atacada pelo atual presidente ao longo da campanha, com discursos contra o sistema eleitoral e alegações infundadas de fraudes nas urnas eletrônicas que contaminaram a base radical do mandatário.
As críticas a Bolsonaro pelo uso da máquina para influenciar o resultado se ampliaram neste domingo, com operações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) nas estradas que prejudicaram a chegada de eleitores aos locais de votação, principalmente em cidades do Nordeste, região onde o petista tinha vantagem.
A corrida ao Palácio do Planalto rachou o país, propiciando um nível de apreensão e violência jamais visto. O confronto entre os dois postulantes também se notabilizou pelo elevado grau de animosidade, com debates pautados mais pela troca de acusações e ofensas pessoais do que pela discussão de propostas.
O incumbente demonstrou força no primeiro turno, ficando a apenas cinco pontos percentuais do petista em votos válidos (48,4% a 43,2%), margem menor que a projetada por institutos de pesquisa. Ele se beneficiou da rejeição ao oponente e da série de medidas eleitoreiras de seu governo, com pagamento de benefícios sociais e manobras para controlar artificialmente os preços dos combustíveis e a inflação.
Com a vitória, Lula fecha um ciclo de reviravoltas para si e para a esquerda após encerrar seus dois mandatos no Executivo e passar a faixa a Dilma Rousseff em 2010. Nos anos seguintes, viu a aliada sofrer impeachment em 2016 em meio ao estrago que a Lava Jato deixou no PT. A operação também levou Lula a ser condenado em 2018 e a ficar preso por 580 dias, perdendo o direito de concorrer no pleito presidencial daquele ano.
O petista, porém, teve suas sentenças anuladas pelo STF em março de 2021, voltando com favoritismo à arena eleitoral, apesar da rejeição devido ao envolvimento de seu partido em escândalos de corrupção.
Para ampliar as chances, Lula rumou ao centro e atraiu para o posto de vice um ex-rival, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, fundador do PSDB que rompeu com a sigla e foi para o PSB. O discurso do agora presidente eleito para essa campanha se baseou na defesa de uma frente ampla de setores divergentes em nome da democracia e da superação do governo Bolsonaro.
Prometeu a retomada do crescimento econômico e da distribuição de renda, apostando na nostalgia de um tempo em que, segundo ele, as pessoas tomavam cerveja e comiam picanha. Também sofreu críticas por ter sido superficial sobre seu plano econômico, como se oferecesse um cheque em branco.
O petista terá como desafios acomodar partidos e segmentos que o apoiaram e administrar um país mais dividido e com ambiente econômico interno e externo menos favorável do que o encontrado por ele em 2003, ao assumir o país pela primeira vez. Sob a gestão atual, o Brasil passou da nona posição entre as maiores economias do mundo, em 2018, para a 13ª, em 2021, e teve aumento da miséria e da fome. Lula tem indicado que fará um governo de transição e abrirá mão de tentar a reeleição em 2026.
Já Bolsonaro sai do cargo, mas não da cena política. Fortalecido pela cristalização do bolsonarismo, com a eleição de extensa bancada de aliados no Congresso e em governos estaduais e municipais, o capitão reformado do Exército desponta desde já como pré-candidato à sucessão de Lula e porta-voz da oposição.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta