O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca nesta quinta-feira (31) em Salvador com a missão de alavancar a pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues, secretário escolhido pelo governador Rui Costa (PT) para disputar sua sucessão ao Governo da Bahia. A escolha de Jerônimo aconteceu em meio a uma série de atritos internos na base aliada do governador Rui Costa (PT) que resultaram no rompimento do PP do vice-governador João Leão, um dos principais aliados do governo desde 2009.
Nas urnas, ele terá como desafio enfrentar o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), cujo grupo político aposta todas as fichas para retomar o governo baiano após quatro mandatos do PT. Também deve concorrer ao cargo o ministro da Cidadania, João Roma (PL).
Com 56 anos, Jerônimo Rodrigues nunca disputou cargos eletivos. Tem uma trajetória política ligada à universidade, aos movimentos sociais e à burocracia do governo. Seu principal desafio nos próximos meses será se tornar conhecido. Pesquisas internas apontam que cerca de 85% dos eleitores baianos não conhecem o pré-candidato a governador do PT.
Neste cenário, Jerônimo vive uma espécie de lulodependência: suas intenções de voto crescem apenas quando o seu nome é associado ao do ex-presidente. O apoio do governador Rui Costa, que tem popularidade alta, também é considerado determinante. Como em uma via de mão dupla, o desempenho do secretário nas urnas também é crucial para alavancar a votação de Lula na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país e fundamental para que o petista abra uma vantagem de votos para compensar possíveis revezes em outros estados.
Com formação em agronomia, Jerônimo é professor da Universidade Estadual de Feira de Santana e foi secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário no governo Dilma Rousseff (PT).
Em 2015, com a eleição de Rui Costa, ascendeu ao cargo de secretário de Desenvolvimento Rural, pasta em que ficou quatro anos. Em 2014, coordenou a elaboração do programa de governo de Rui Costa e em 2018 atuou na coordenação da campanha do governador. Com desempenho elogiado na pasta de Desenvolvimento Rural, onde firmou parcerias com entidades para atender as demandas da agricultura familiar, assumiu a secretaria de Educação no segundo mandato de Rui Costa.
A área é um dos principais calos das gestões petistas na Bahia. O estado tem o sexto pior desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para os anos iniciais do ensino fundamental, o segundo pior nos anos finais e o terceiro pior no ensino médio.
Na gestão de Rodrigues, a atuação do secretário foi criticada pela ausência de aulas virtuais durante o primeiro ano da pandemia e pelo fechamento de escolas tradicionais como o Colégio Odorico Tavares, em Salvador. O governo baiano, contudo, destaca que investiu cerca de R$ 3 bilhões em infraestrutura escolar e apostou em programas de assistência estudantil como o Bolsa Presença, o Mais Estudo e o Educar para Trabalhar.
Sua gestão também avançou na educação em tempo integral, a despeito de ter desempenho inferior ao de estados menores no Nordeste. A oferta de vagas em ensino integral chega a 75% da rede estadual em Pernambuco, e a 60% no Ceará, mas é apenas 23% na Bahia.
Antes mesmo da escolha de Jerônimo para a sucessão, a gestão da educação já vinha sendo atacada pelos principais adversários do PT baiano. Nas últimas semanas, as críticas se intensificaram. "Como um secretário que tem este desempenho vexatório pode ser governador de um estado? A educação da Bahia é uma vergonha", dispara o líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Sandro Régis (União Brasil).
Aliados do governador, por outro lado, defendem os avanços na gestão do secretário. Também minimizam o desconhecimento do eleitorado em relação a Jerônimo e lembram que o governador Rui Costa não era conhecido quando entrou na corrida eleitoral há oito anos. "A eleição de Rui em 2014 foi vista com desconfiança e Rui foi eleito no primeiro turno. Hoje, é considerado o melhor governador do Brasil", afirma o presidente estadual do PT, Éden Valadares.
O cenário, contudo, não é o mesmo. Além de ter o apoio da presidente Dilma Rousseff, Rui Costa ocupava uma posição de destaque no governo Jaques Wagner (2007-2014) como secretário da Casa Civil. Em 2010, já havia sido o deputado federal mais votado do PT da Bahia.
Neste ano, o plano A do PT para a sucessão era o senador Jaques Wagner, que desistiu da disputa em fevereiro. O plano B foi o senador Otto Alencar, que também declinou da missão. Só então Jerônimo Rodrigues foi escolhido candidato a governador.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em dezembro de 2020, quando o pré-candidato do partido ainda era Jaques Wagner, Rui Costa disse que o partido não tinha outro nome para concorrer ao governo baiano. "Você não constrói nomes novos por decreto. As coisas acontecem e os nomes vão se fixando conforme o cotidiano da política. Acho que temos nomes fortes. Mas não há um nome novo consolidado", afirmou na ocasião.
Nesta quarta-feira, em entrevista à rádio Metrópole, Rui Costa se disse confiante na vitória nas eleições em outubro mesmo com Jerônimo sendo um candidato improvável. "Pense uma alma do bem. Jerônimo nunca me pediu para ser candidato. Ele nunca tramou. Nunca pediu para ser candidato. Nunca ninguém chegou para dizer que Jerônimo está articulando", disse.
O desafio dos próximos seis meses será consolidar o nome do petista como candidato ao governo com a força do ex-presidente Lula e do grupo político que governa a Bahia há 15 anos. O ato desta quinta-feira com Lula será crucial para dar uma demonstração de unidade. São esperadas 3.000 pessoas para o evento de lançamento da pré-candidatura em uma casa de shows de Salvador, incluindo caravanas de eleitores que virão de cidades do interior.
O evento servirá para apresentar a chapa majoritária completa que terá Otto Alencar (PSD) como candidato ao Senado e o vereador Geraldo Júnior (MDB) como candidato a vice-governador.
A aliança com o MDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima foi selada nesta quarta-feira (30) e é vista como importante para mitigar a perda de aliados que migraram para a candidatura de ACM Neto.
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