A população do Espírito Santo é formada por 60,3% de pessoas que se autodeclaram negras, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE em 2017. Já os habitantes que se autodeclaram brancos representam 39,2%. Contudo, quando o recorte é feito entre os políticos eleitos em 2018 no Estado, esse aspecto social se inverte: 70,4% dos políticos eleitos se autodeclaram brancos e 29,6% negros.
Os dados mostram que das 44 pessoas que vão ocupar cargos eletivos em 2019, há apenas dois pretos e 11 pardos esses dois grupos formam a população negra. Os outros 31 políticos (70,4%) se autodeclaram brancos. Não há nenhum representante escolhido pelos capixabas que se autodeclarou indígena ou amarelo.
O levantamento do Gazeta Online foi realizado com base nas informações declaradas à Justiça Eleitoral no registro da candidatura. Faz parte dessa amostra todos os políticos que venceram a eleição para governador, senador, deputado federal e deputado estadual.
Para a socióloga e professora da UVV Maria Ângela Rosa Soares, os dados não mostram nenhuma novidade. "São traços culturais históricos que permanecem. A política é o espaço do poder que, historicamente é masculino, branco, hétero, cristão e de classe A", afirma.
MINORIAS
No entanto, ela acrescenta que propostas relacionadas às minorias podem ter dificuldade de serem discutidas e aprovadas na Assembleia, Câmara dos Deputados e Senado. "A falta de representatividade de grupos menores pode trazer problemas", disse.
Nessas eleições, o que se percebeu foi o aumento de partidos políticos representando o Estado: foram 21 neste ano contra 18 na eleição passada. No entanto, não conseguiram fazer com que esse crescimento aumentasse a representatividade por raça para o Legislativo e Executivo.
Neste ano, 70,4% dos eleitos são brancos, enquanto que na eleição passada eram 62,7%. Já o número de negros reduziu: neste ano são 29,6%, enquanto em 2014 eram 34,9%. Os outros 2,4% eram representados por um deputado que se autodeclarou indígena.
Nesta eleição, dos 30 deputados estaduais eleitos e dos 10 deputados federais, só o deputado Marcos Mansur (PSDB) se autodeclara preto. A outra pessoa que se considera preta é a vice-governadora eleita Jacqueline Moraes (PSB). É a primeira mulher e negra a ocupar o cargo no Espírito Santo.
Para Jacqueline, existe pouca representatividade de negros em cargos eletivos, havendo necessidade de mais incentivo para aumentar o número de pardos e pretos no poder. "O problema começa dentro de alguns partidos políticos, na preparação de seus quadros. Eles precisam aumentar a representatividade e dialogar com os movimentos sociais. Espero ser uma inspiração", afirma.
O coordenador do Círculo Palmarino, uma organização de combate ao racismo, Lula Rocha, acrescenta que a população negra é sub-representada nos espaços de poder. Isso ocorre devido ao racismo que historicamente estrutura a sociedade brasileira, impondo maiores dificuldades aos negros para ocupar determinados lugares.
Ele esclarece que na disputa dos cargos eletivos, por exemplo, as candidaturas negras geralmente são as que menos recebem recursos dos partidos. No Espírito Santo, a sub-representação ainda ocorre nos cargos de primeiro escalão do Poder Executivo, no Judiciário e no Ministério Público.
"Assim como as ações afirmativas estão gradativamente mudando a cara das universidades, precisamos adotar medidas semelhantes para garantir uma presença maior de pessoas negras ocupando espaços em todas as instituições e poderes", explica.
COMO OS ELEITOS SE DECLARARAM AO TSE
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