Dados apresentados nesta quarta-feira (7) pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) apontam que mais de 90% da área do Pantanal está nas mãos da iniciativa privada.
Os números foram expostos pelo chefe-Geral da Embrapa Pantanal, Jorge Ferreira de Lara, durante audiência remota da comissão externa criada para acompanhar as queimadas no Pantanal. Segundo o Lara, apesar da extensão em posse da iniciativa privada, 85% da sua área ainda está conservada.
"O Pantanal todo tem mais de 90% de propriedades privadas. Isso é uma coisa muito interessante. É muito diferente da Amazônia, que não é bem assim", disse Lara.
Desde 1º de janeiro até o último sábado (3), as queimadas varreram a fauna e a flora de 3.977.000 hectares da região, uma área pouco menor à do estado do Rio de Janeiro. O tamanho destruído corresponde a 26,5% do Pantanal, de 15 milhões de hectares.
Os números, publicados às terças-feiras, são do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e foram repassados pelo Ibama.
O Pantanal atravessa a sua pior seca em décadas. A chuva abaixo da média não foi suficiente para provocar cheia sazonal. Com isso, muitos cursos d'água, como lagoas e corixos, secaram.
Segundo analistas, a maioria dos fogos é provocada pela ação humana. Fazendeiros e agricultores da região usam a queima para manejo de pastagem, para desmatar e para o plantio de roças.
"A vocação da região é para a pecuária. A agricultura tem muitas limitações de solo. A pecuária se instala, de fato, na região há muitos séculos. Essa pecuária se desenvolveu e faz parte hoje da realidade do ambiente", disse Lara aos senadores.
Para o chefe da Embrapa, a pecuária na região é importante para a manutenção da economia do país.
"A pecuária existe e vai continuar existindo na região. Ela é importante para a economia do país, principalmente como fornecedora de bezerros para as áreas de engorda", disse. "Acho que a pergunta que nós temos de fazer é: até quanto podemos avançar com a pecuária, até que ponto nós conseguimos explorar economicamente o Pantanal, inclusive para garantir a conservação dele, através da ocupação?", questionou.
Presidente da Comissão, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) defendeu que o estatuto do Pantanal, em elaboração pelo colegiado, permita a certificação ambiental das atividades sustentáveis desenvolvidas na região da bacia do rio Paraguai, unindo a produção com redução dos danos ambientais.
O senador ainda ressaltou que é preciso que haja linhas de créditos voltadas para os proprietários da região, o que poderia auxiliar na preservação do bioma.
"Nós não temos uma linha de crédito específica, nós não temos um programa para o desenvolvimento sustentável do Pantanal. As cabeceiras estão hoje sendo destruídas, principalmente com o esgoto e o lixo que está indo para o Pantanal."
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que integra a comissão, defendeu a produção pantaneira, mas afirmou que é necessário encontrar formas para que sejam reduzidas as queimadas na área. Segundo ela, alguns detalhamentos sobre esse aspecto podem ser incluídos também no texto do estatuto, que ainda está em produção.
"Um dos biomas mais protegidos do mundo, mas até que forma essa exploração é possível sem prejudicar esse bioma", disse.
Os senadores também discutiram a possibilidade de criação de uma indenização específica paga pelo governo a famílias que tiveram perdas de produtividade na região devido às queimadas. A sugestão deve ser levada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na semana do dia 20 de outubro, quando os parlamentares estarão em Brasília para sessões semi-presenciais.
Além de Tebet e Fagundes, o grupo é formado pelos senadores Nelson Trad (PSD-MS), que é relator, e Soraya Thronicke (PSL-MS). Todos são de estados cobertos pelo bioma do Pantanal.
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