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Mandetta avalia ‘submergir’ para sair do foco de crise do coronavírus

Mandetta avalia ‘submergir’ para sair do foco de crise do coronavírus

Auxiliares avaliam que ministro errou ao evidenciar divergências com Bolsonaro sobre estratégias de combate a pandemia

Publicado em 14 de abril de 2020 às 18:25

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Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta
Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta defende isolamento social e outras medidas baseadas em evidências científicas para combater o coronavírus e entra em conflito com o presidente Jair Bolsonaro. (Jose Dias/PR)

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, avalia mudar sua conduta em relação ao presidente Jair Bolsonaro e deve submergir nos próximos dias para sair do foco da crise. Integrantes do Ministério da Saúde consideram que, embora tenha defendido orientações de órgãos internacionais de saúde, o ministro errou ao evidenciar as divergências com o presidente sobre a melhor estratégia de combate ao coronavírus no fim de semana.

O sentimento na pasta, de acordo com seus interlocutores, é de arrependimento após a entrevista concedida ao “Fantástico”, da TV Globo, que fragilizou o apoio de militares e de seus pares na Esplanada dos Ministérios.

Auxiliares de Bolsonaro, no entanto, veem com descrença o voto de silêncio do ministro. Isto porque, nas últimas semanas, Mandetta seguiu dobrando a aposta ao contrariar o presidente sobre temas como isolamento social e uso da cloroquina em pacientes do coronavírus mesmo após conversas que pretendiam apaziguar a relação.

Neste momento, segundo pessoas com acesso ao gabinete presidencial, a situação de Mandetta segue indefinida. Ou seja, Bolsonaro continua insatisfeito com o ministro, mas ainda calcula a data e conveniência de uma demissão.

Em entrevista ao Estadão Live Talks na manhã desta terça-feira (14) o vice-presidente Hamilton Mourão criticou o ministro da Saúde, dizendo que ele “cruzou a linha da bola” quando disse na entrevista que a população não sabe se deve acreditar nele ou no presidente. “Ele fez uma falta. Merecia um cartão”, disse Mourão, afirmando que julga que “o presidente não deve mudar o ministro neste momento.”

BOLSONARO ACHA QUE AMBIENTE ESTÁ MAIS FAVORÁVEL

De acordo com interlocutores do Planalto, Bolsonaro tem observando um ambiente mais favorável a ele, enquanto as críticas sobre a atuação de Mandetta começam a surgir com mais ênfase internamente.

Na avaliação de um aliado, o presidente e o ministro, neste momento da crise, trocaram de papéis. Bolsonaro diminui o tom, enquanto Mandetta dobrou a aposta e “ficou falando sozinho.” Questionado sobre a entrevista ao Fantástico, o chefe do Executivo disse que não assiste à Rede Globo.

Enquanto Bolsonaro defende flexibilizar medidas como fechamento de escolas e do comércio para mitigar os efeitos na economia do País, permitindo que jovens voltem ao trabalho, o ministro tem mantido a orientação da pasta para as pessoas ficarem em casa. A recomendação do titular da Saúde segue o que dizem especialistas e a Organização Mundial de Saúde (OMS), que consideram o isolamento social a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.

Ministro e presidente também têm se desentendido sobre o uso da cloroquina em pacientes da covid-19. Bolsonaro é um entusiasta do medicamento indicado para tratar a malária, mas que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus. Mandetta, por sua vez, tem pedido cautela na prescrição do remédio, uma vez que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o vírus.

A participação de Mandetta nas entrevistas coletivas de imprensa, que ocorrem diariamente no Planalto com um balanço sobre o novo coronavírus no País, ainda estão sob suspense e serão decididas dia a dia. O ministro da Saúde aguarda orientações do Ministério da Casa Civil para saber se participará. Nesta terça-feira, a presença dele só foi confirmada minutos antes das declarações aos jornalistas. Na segunda-feira, o ministro foi representado por técnicos. Ele também tem sido orientado por auxiliares a não conceder entrevistas a jornalistas ao longo da semana. A ideia, de acordo com um aliado, é "dar uma mergulhada por enquanto".

Alguns membros do DEM, partido de Mandetta, já vinham alertando o ministro a moderar o tom. Na visão desse grupo, mesmo sendo contrário às medidas defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, é difícil tolerar insubordinação em qualquer esfera.

Na semana passada, Mandetta descumpriu orientação do Planalto de evitar questionamentos da imprensa durante balanço sobre o novo coronavírus. Após o aviso de que perguntas não seriam permitidas, o ministro da Saúde quebrou o protocolo e permitiu que os jornalistas se manifestassem. A primeira questão levantada foi justamente sobre a relação com o presidente após os recentes desentendimentos, assunto que o Planalto queria evitar.

ENTREVISTA AO FANTÁSTICO FOI ESTOPIM

O estopim da nova crise foi a entrevista dada por Mandetta ao Fantástico na noite de domingo. O tom adotado pelo ministro foi considerado por militares do governo e até mesmo por secretários estaduais da Saúde como uma “provocação” ao presidente.

Na ocasião, Mandetta afirmou que o governo carece de um discurso unificado sobre o enfrentamento à pandemia e dirigiu cobranças a Bolsonaro, que tem ignorado recomendações de isolamento social e defendido o retorno ao trabalho. O presidente e outros integrantes do governo não foram avisados da entrevista e foram pegos de surpresa.

A entrevista à TV Globo foi uma decisão individual de Mandetta. No fim de março, o Planalto resolveu unificar a comunicação sobre a crise do coronavírus. Com isso, as entrevistas de todos os ministros passaram a ser concedidas na sede do Executivo. Na semana passada, diante de rumores de uma demissão e após uma reunião tensa com o presidente, Mandetta também decidiu dar uma entrevista no Ministério da Saúde sem o conhecimento do Planalto.

Na ocasião, admitiu que seus auxiliares na pasta chegaram a limpar suas gavetas. Em um pronunciamento à imprensa, Mandetta pediu “paz” para trabalhar e reclamou de críticas que, em sua visão, criam dificuldades para o seu trabalho. A interlocutores, o ministro tem confidenciado que gostaria que Bolsonaro o demitisse, mas mantém a posição de não tomar a iniciativa de deixar o governo com receio de ficar com o ônus de ter abandonado “o barco” no momento de crise e assumir uma nova linha de combate à covid-19.

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