Dois dos três tuítes que mais circularam entre os usuários de direita do Twitter no dia 24 de março enalteciam que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, havia dispensando seus motoristas. Era época de apoio irrestrito dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ao ministro - demitido nesta quinta (16).
"Ministro @lhmandetta se supera. Dessa vez ele dispensou os motoristas do ministério. A maioria tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco. Só de pensar que nós já tivemos Humberto Costa na Saúde, fico eternamente grato ao presidente Bolsonaro pelo timaço que escolheu", escreveu à época o usuário Carmelo Neto.
Naquele momento, o nome de Mandetta era ligado aos termos "qualificado" e "técnico", mostra levantamento da Folha de S.Paulo dos quase um milhão de tuítes, dos usuários de direita, que continham o nome do ministro desde 17 de março.
No dia 20, o tuíte mais popular na direita chamava o ministro de "grande exemplo". Por ironia, era uma mensagem do embaixador da China no Brasil; o país asiático havia sido criticado pelo deputado Eduardo Bolsonaro, um dia antes.
Nos bastidores, já se sabia desde março que o clima não era bom entre Bolsonaro e Mandetta. O primeiro defendia um isolamento brando da população e queria força extra para o uso da cloroquina como combate à doença.
Mandetta defendia isolamento mais forte da população para evitar a propagação do vírus. E dizia que a cloroquina carecia de muitos mais testes para ser elevada à política prioritária.
Uma primeira rusga pública entre os dois ocorreu na metade de março. Bolsonaro foi se encontrar com um grupo de apoiadores em Brasília, que integravam manifestações pelo país de apoio ao presidente e de críticas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.
Mandetta desaprovou o contato de Bolsonaro com o grupo, pois feria o princípio de isolamento social.
Àquela altura, porém, o apoio da direita no Twitter seguia firme com o ministro. Mas os desentendimentos entre chefe e subordinado iam ficando cada vez mais explícitos.
A estratégia dos usuários de direita era encontrar na mídia a culpada pela situação.
Essa estratégia, porém, sofreu um golpe no dia 2 de abril. Em entrevista à rádio Jovem Pan, o próprio presidente disse que estava faltando humildade ao subordinado.
A partir daí, o apoio irrestrito da direita ao ministro ruiu.
Mandetta passou a ser ligado a um suposto golpe em curso para derrubar Bolsonaro, capitaneado pelo DEM, partido do ministro.
Um exemplo é esse tuíte de 3 de abril, o sexto mais popular do dia entre os usuários de direita, que critica também Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás, antigo apoiador de Bolsonaro, que rompeu com o presidente por discordar da sua forma de conduzir a crise.
Ainda que com um clima pior para o ministro, ainda havia uma tentativa de mostrar alguma normalidade no governo, dizendo que é normal haver discordâncias numa gestão.
Qualquer possibilidade de defesa a Mandetta na direita parou após a entrevista que ele deu à TV Globo, no domingo (12), dizendo que as pessoas não sabem se seguem o que fala Bolsonaro ou o Ministério da Saúde.
Desde então, entre os dez tuítes mais populares diários nesse espectro, todos são de ataques ao ministro. Com um tom beligerante.
Há ironias sobre ele dizer que vai sair com a equipe toda do ministério.
A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha de S.Paulo que categorizou 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.
Para esta análise, os quase 2 milhões de perfis foram divididos em três grupos: 33% mais à direita, 33% mais ao centro e 33% mais à esquerda.
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