O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, testou o seu capital político durante pronunciamento que foi transmitido ao vivo nas redes sociais na noite desta segunda-feira (6) no qual pediu "paz" para continuar o trabalho de combate ao novo coronavírus. Era uma entrevista, mas ele não respondeu a perguntas da imprensa, deixou isso para técnicos da pasta.
Além das milhares de pessoas que acompanharam a transmissão, Mandetta contou com o apoio presencial de secretários, servidores e parlamentares para defender os seus posicionamentos e fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Ao chegar, o ministro foi aplaudido de pé. "Não é hora de aplaudir ninguém, porque não terminou nada", reagiu, na entrada. Pouco antes, Mandetta passou cerca de três horas reunido com Bolsonaro e outros ministros no Palácio do Planalto, em momentos decisivos para saber se permaneceria ou não na função.
Mandetta contou que estava apreensivo e que parte dos funcionários chegou a limpar a sua gaveta considerando que ele seria demitido ainda nesta segunda.
Durante o pronunciamento, Mandetta repetiu frases como "lavoro, lavoro (trabalho, em italiano)", que usou como resposta às críticas de Bolsonaro na semana passada. Ele também voltou a dizer que permanecerá no cargo porque "um médico não abandona o paciente".
Mandetta chegou a mencionar a sua participação em transmissões nas redes sociais feitas por cantores e bandas ao longo do final de semana como alternativa para a proibição de shows durante a quarentena. Para os ministros, os artistas reforçaram a orientação da pasta de que o "show não pode parar", mas que a aglomeração de pessoas não pode ocorrer neste momento.
No fim de semana, Bolsonaro reclamou de integrantes do governo que "viraram estrelas" e disse que a hora deles ia chegar.
No pronunciamento, Mandetta reclamou de críticas e interferências que, na visão dele, trazem "dificuldade" ao ambiente da equipe. "Começamos a semana com mais um solavanco, esperamos que possamos seguir em paz", disse, sem citar Bolsonaro.
"Temos dificuldade quando, em determinadas situações, por determinadas impressões, críticas não vêm para construir, mas para trazer dificuldade no ambiente de trabalho. E isso vem uma constante, o Ministério da Saúde adotar determinada linha, situação e termos que voltar, fazermos determinados contrapontos para poder reorganizar a equipe", afirmou em outro momento.
Mandetta afirmou, ainda, que esta segunda foi pouco produtiva no Ministério da Saúde por causa dos boatos de que poderia ser demitido. Ele sinalizou que, caso isso acontecesse, toda a equipe também pediria para sair. Em outros momentos, no entanto, pontuou que pretende "colaborar muito com qualquer equipe que venha".
"Aqui nós entramos juntos, nós estamos juntos e, quando eu deixar o Ministério, nós vamos colaborar muito para qualquer equipe que aqui venha, mas vamos sair juntos do ministério da Saúde", declarou.
O governo federal elabora um decreto para permitir que profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) e pacientes infectados com Covid-19 e que estejam em estado grave possam fazer uso do medicamento hidroxicloroquina para o tratamento da doença. Porém, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se recusou a assinar o decreto após a reunião no Palácio do Planalto.
"Me levaram, depois da reunião lá, para uma sala com dois médicos que queriam fazer protocolo de hidroxicloquina por decreto. Eu disse a eles que é super bem-vindo, os estudos são ótimos. É um anestesiologista e uma imunologista que lá estavam. (Eu disse) que eles devem se reportar a você (referindo ao secretário Denizar Vianna, de Ciência e Tecnologia da pasta) e que eles devem, nas sociedades brasileiras de imunologia e anestesia, fazerem o debate entre os seus pares. Chegando a um consenso entre seu pares, o Conselho Federal de Medicina e nós aqui do Ministério da Saúde, a gente entra. A gente tem feito isso constantemente", contou Mandetta.
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