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Marcha para Jesus: o crescimento de evento que acontece há três décadas no Brasil

Marcha para Jesus: o crescimento de evento que acontece há três décadas no Brasil

Celebração surgiu em 1987 em Londres, no Reino Unido.

Publicado em 8 de junho de 2023 às 16:37

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Imagem BBC Brasil
No Brasil, a primeira Marcha para Jesus aconteceu em 1993. (Getty Images)

Chegada ao Brasil em 1993, a Marcha para Jesus, um evento que congrega diferentes igrejas cristãs, acontece nesta quinta-feira (8/6), em São Paulo, pelo 31º ano consecutivo.

Há três décadas, a primeira edição acontecia na mesma cidade. Um grupo de 350 mil pessoas partiu da Avenida Paulista, passando pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio e chegando ao Vale do Anhangabaú para adoração de Jesus Cristo e comunhão por meio de músicas.

Já em 2022, a estimativa dos organizadores mostra que o público cresceu exponencialmente: dois milhões de pessoas participaram do ato na mesma cidade, um aumento de 471%.

“A avaliação do crescimento é simples: o crescimento desse grupo tem continuado ao longo dos anos, o Brasil já tem 70 milhões de evangélicos”, diz o historiador e antropólogo Juliano Spyer, autor de O Povo de Deus: Quem são os evangélicos e por que eles importam (Geração Editorial, 2020).

O cálculo de Spyer tem como base uma pesquisa Datafolha de 2019 que aponta que 31,8% da população brasileira (composta por 214,3 milhões de pessoas) são adeptas à religião.

Imagem BBC Brasil
Marcha para Jesus, que acontece há três décadas no Brasil. (Getty Images)

O evento surgiu em 1987 na cidade de Londres, no Reino Unido.

A Marcha foi criada por um grupo de líderes religiosos, incluindo o pastor Roger Forster, da Ichthus Christian Fellowship, o cantor e compositor Graham Kendrick, e Gerald Coates e Lynn Green, participantes de movimentos cristãos.

Em 1990, a Marcha já tinha alcançado 49 cidades em todo o Reino Unido, além de Belfast, capital da Irlanda do Norte, onde 6 mil católicos e protestantes se reuniram. A estimativa era de que cerca de 200 mil religiosos participassem do evento. A Marcha rapidamente se expandiu para outros continentes.

No Brasil, a Marcha para Jesus foi oficialmente incorporada ao calendário em 2009, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu segundo mandato, sancionou a Lei Federal 12.025.

De acordo com o apóstolo Estevam Hernandes, presidente do evento no Brasil, a Marcha representa a união das pessoas, a comunhão de todos que acreditam em Jesus Cristo. “Ele é o nosso resgatador, pois deu sua vida por nós na cruz. Saímos às ruas para marcar e honrar essa entrega, expressando nossa fé”, explica.

Ele defende que a Marcha "se transformou no evento cristão mais importante do Brasil e até da América Latina e tem abençoado a vida de pessoas de várias gerações ao longo dos anos".

"A Marcha cresceu muito e se consolidou, não só pela quantidade de pessoas, mas pela constância. Nos últimos 30 anos, realizamos o mesmo evento com o mesmo empenho e propósito. Hoje temos cerca de 2 milhões de pessoas participando do evento, com um número grande de denominações e também de cristãos em geral.”

Para a edição de 2023, além da abertura da Marcha Para Jesus em São Paulo, no dia 8 de junho, outros oito municípios devem receber o evento até o mês de outubro.

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(Getty Images)

Embora o evento tenha como público principal os cristãos evangélicos, Spyer aponta que o grupo é descentralizado.

“Às vezes falamos como um tema só, mas não são exatamente como os católicos, que têm uma igreja, um papa. Dentro das milhões de igrejas evangélicas, há diferentes práticas, tradições e regras. Vão desde igrejas mais conservadoras do ponto de vista de costumes até as ultraliberais, que abraçam, por exemplo, a comunidade LGBT.”

Em resposta à BBC News Brasil, Hernandes afirma que um aumento na diversidade e participação de denominações cristãs foi notado, além de um "reconhecimento internacional, como referência em termos de manifestação de fé."

A influência política dos evangélicos

Spyer aponta que o tamanho da Marcha Para Jesus hoje no Brasil é apenas uma das representações de força dos brasileiros evangélicos, que, para ele, representam o fenômeno social mais importante do país atualmente.

O antropólogo diz que os evangélicos são ignorados por determinados grupos da sociedade — menciona “surpreendente falta de interesse e desconhecimento da elite brasileira e econômica e cultural sobre o tema”. Apesar disso, diz que eles conhecem sua força — em especial, influência política — no país.

"Converso com evangélicos de vários lugares do Brasil e o que percebo é que ganharam consciência [como comunidade]. Eles dizem: ‘A política é um mal necessário e, se não escolhermos, alguém vai escolher por nós’.”

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O ex-presidente Jair Bolsonaro discursando na Marcha para Jesus em 21 de maio de 2022, em Curitiba, Paraná. (Clauber Cleber Caetano/PR)

Spyer lembra que, em 2022, Jair Bolsonaro (PL), derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, conquistou mais que o dobro dos votos de evangélicos em relação ao adversário — mas avalia que o cenário não deve se repetir.

“Lula é o último presidente a ser aceito sem o apoio majoritário desta população, porque ela é crescente e deve representar uma parcela ainda mais decisiva na próxima eleição. No âmbito do legislativo, isso já aconteceu há muito tempo. A bancada dos evangélicos é o exemplo, e a comunidade religiosa tem consciência disso.”

Ao longo dos anos, políticos da direita e da esquerda têm participado do evento. Em 2022, Bolsonaro, então presidente, discursou em Curitiba, no Paraná.

Neste ano, Lula recusou o convite, avaliado por ele como “honroso”, e afirmando que será representado pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e pelo ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias.

"Sempre admirei e respeitei a Marcha para Jesus, que considero uma das mais extraordinárias expressões da fé de nosso povo", disse em carta ao apóstolo Estevam Hernandes.

Hernandes disse que a organização do evento convida as autoridades constituídas, como prefeito, governador e presidente da República. “O intuito é incluir e abençoar pessoas que trabalham diretamente com o destino do município, do estado e do país”, afirma Hernandes.

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