A falta de testes e de equipamentos para enfrentar a Covid-19 são para os médicos os principais problemas no combate à pandemia, aponta pesquisa divulgada pela Associação Paulista de Medicina (APM). A entidade ouviu 2.312 médicos de todo o país entre os dias 9 e 17 de abril.
Em uma resposta com possibilidade de mais de uma escolha, 66% dos médicos disseram que a falta de testes é a principal deficiência encontrada. O restante se dividiu entre os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs): falta de máscaras (50%), proteção facial (38,5%), aventais (31%) e óculos (26%), entre outros.
O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, alerta que a ausência de testes impossibilita a realização de medidas de acompanhamento da pandemia. Isso quer dizer que identificar quem está com coronavírus, além de facilitar o tratamento, ajuda também a rastrear quem pode estar infectado. "Testar os pacientes e profissionais da saúde, saber quem está ou não com o vírus é o primeiro passo para conseguirmos a flexibilização do isolamento social."
O infectologista do Hospital São Paulo Gerson Salvador complementa. "Só se colhe exame atualmente para pessoas com síndrome respiratório aguda grave e a gente sabe que 80% da população que contrair o coronavírus terá sintomas leves, sem evolução para infecção pulmonar, por exemplo. Isso significa que trabalhamos com subnotificação. Sem testes em massa fica impossível saber a real dimensão da pandemia e fica mais difícil de combatê-la."
No grupo de risco pela idade e por ter diabetes, o anestesiologista João Eduardo Charles, 66 anos, está afastado do trabalho e receoso por ter de voltar em 15 dias ao Hospital Vila Cachoeirinha, na zona norte. "Tentei fazer o teste, mas não consegui. É uma questão de segurança saber se estou contaminado ou não, se sou assintomático ou não." Ele está dentro do grupo de 90,5% de médicos que não conseguiram fazer o teste.
A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é uma reclamação constante dos médicos. "No Samu o fornecimento não está sendo adequado. As equipes precisam interromper o trabalho por esgotamento da quantidade fornecida para o dia. Muitas vezes os profissionais ficam pressionados para atender ser equipamento adequado e aumenta o risco de contágio", destacou um médico que pediu para não se identificar e que trabalha há mais de 20 anos na saúde pública. "Espero que a pandemia sirva ao menos para mudar de um vez por todas o futuro político desta área", complementou.
Apenas 15,5% dos médicos disseram ter sido capacitados para atender casos suspeitos e confirmados em qualquer fase da doença. Os casos mais graves necessitam de intubação e ventilação mecânica e podem causar problemas cardíaco, renal, abdominal e cerebral. "São diversos sistemas, por isso é necessário ter experiência e traquejo com emergências clínicas para atender esse grupo de pacientes", afirma Salvador.
O infectologista do Hospital São Paulo recomenda que essa menor porcentagem que está apta para qualquer atendimento fique responsável pelos casos mais graves. "Os demais devem atender casos de representação mais leve, fazer triagem e orientações, o que é muito importante também", prosseguiu.
O aumento progressivo de infectados e a falta de informação deixam os profissionais de saúde pessimistas: 74,5% acham que provavelmente faltarão médicos no decorrer dessa pandemia, 23,2% acham pouco provável e somente 2,3% acreditam que o contingente atual dará conta do problema.
A pesquisa da APM foi realizada na gestão de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde. A avaliação do ex-titular da pasta entre os participantes tem 72% de ótimo e bom. No período do levantamento, 65% dos médicos trabalhavam em hospitais e prontos-socorros que recebem pacientes com Covid-19. "Vale destacar que os números dessa pandemia mudam muito rapidamente. O número de médicos que trabalham com a Covid hoje deve ser bem maior", finalizou Amaral.
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