SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois diretores da Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, unidade conhecida como o presídio dos famosos, foram afastados dos cargos após o surgimento de suspeitas da participação de um integrante do PCC no controle da rotina da unidade, como a indicação de presos para postos de trabalho.
O complexo prisional ficou nacionalmente conhecido por abrigar presos chamados de midiáticos, como o médico Roger Abdelmassih, Alexandre Nardoni, irmãos Cravinhos e, mais recentemente, o jogador de futebol Robinho, o empresário Thiago Brennand e o suposto miliciano Ronnie Lessa.
As suspeitas da existência de um preso com tais poderes na unidade, conforme a Folha apurou, sugiram há cerca de dois meses. Elas foram levadas à juíza das execuções Sueli Zeraik de Oliveira Armani, por um dos presos do sistema, aproveitando uma inspeção de rotina realizada pela magistrada.
Procurada, a juíza não comentou o assunto. Por meio do Tribunal de Justiça, informou que "o expediente corre sob sigilo pela Corregedoria dos Presídios e, por essa razão, não é possível fornecer informações".
Conforme documentos obtidos pela reportagem, a magistrada acionou o Gaeco (grupo especial de combate ao crime organizado) para investigar o caso.
Esse preso delator teria relatado à magistrada a existência de um suposto esquema de corrupção. Com suposta conivência de funcionários, o integrante do PCC concedia empréstimos financeiros aos colegas e para familiares deles, com cobrança de juros.
Esse mesmo preso também teria poderes de controlar quais detentos podiam ou não trabalhar em uma empresa de produtos sanitários que funciona dentro da unidade, cujo proprietário seria parente do ex-diretor da unidade. Suspeita-se de que, para conseguir a vaga, era preciso ceder parte dos salários.
Geralmente, conforme ex-detentos de Tremembé ouvidos pela reportagem, os nomes de quem pode trabalhar nas fábricas existentes no interior do presídio vêm de uma lista de espera. De 20 a 30 pessoas trabalhariam na fábrica em questão, segundo ex-presos do local.
Pessoas ligadas ao comando da unidade afirmaram à Folha que o preso citado pelo colega declarou-se, de fato, ser integrante do PCC. Ele não teria, em tese, nenhuma posição importante dentro da facção, pelo menos até agora. Seria conhecido na unidade como matador de policiais.
Ainda segundo funcionários, a maioria dos reeducandos de Tremembé não integra facções, mas há no local alguns que fazem parte do PCC - como criminosos que delataram colegas, policiais informantes da quadrilha e, também, empresários que ajudaram a lavar dinheiro para o grupo.
O preso denunciante também teria reclamado com a juíza sobre suposta omissão de integrantes da direção da unidade, que não levavam adiante as denúncias feitas pela massa carcerária sobre o preso faccionado ou não puniam de forma adequada em apurações abertas.
Os funcionários do sistema penitenciário paulista relataram à Folha que o integrante do PCC ficava com parte do dinheiro destinado à chamada folha do pecúlio - usada para o pagamento das pessoas encarceradas que trabalham na unidade.
A retirada do dinheiro obtido no esquema, ainda conforme as suspeitas, era feito por meio de uma advogada do preso do PCC. A defensora está proibida de entrar em prisões.
Ela tentou reverter a decisão da Justiça, mas o pedido foi negado.
O que teria agravado a situação dos diretores da unidade, conforme relato de funcionários, seria um material encontrado nos pertences do preso do PCC. Teriam sido encontradas folhas sigilosas de depoimentos dados à juíza sobre esse caso, indicando ajuda externa.
Os relatos também indicam a retirada de mercadorias da prisão por meio de caminhões de empresa de produtos sanitários.
Meses atrás, funcionários relataram à Folha o desparecimento de toneladas de roupas falsificadas que estavam depositadas na unidade. Não é possível afirmar, porém, se os empregados da empresa estão envolvidos nesse desvio.
O preso ligado ao PCC estaria atualmente em uma ala separada, de seguro.
Procurada, a Secretaria da Administração Penitenciária informou que, ao identificar o caso, "afastou o diretor de educação e o diretor-geral da unidade de suas respectivas funções e instaurou um procedimento administrativo para apurar todos os fatos".
"A SAP não compactua com desvios de conduta de seus agentes e atua para coibir qualquer tipo de improbidade por meio do Programa Estadual de Integridade no serviço público. Se comprovadas as irregularidades citadas, os servidores envolvidos serão responsabilizados conforme previsto na lei".
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