BRASÍLIA - A primeira-dama Michelle Bolsonaro se encontrou nesta segunda-feira (17) com duas venezuelanas ligadas à família citada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em vídeo que circulou nas redes sociais no fim de semana.
O encontro ocorreu no Lago Sul, área nobre de Brasília, e foi viabilizado por integrantes da Presidência da República e da Embaixada da Venezuela no Brasil.
A equipe da primeira-dama foi quem ofereceu o encontro, segundo relatos de pessoas envolvidas. O plano inicial era que a conversa tivesse ocorrido na noite de domingo (16), em São Sebastião (DF).
Num primeiro momento, houve resistência da família venezuelana, que estava assustada com a repercussão do caso.
O encontro, no entanto, aconteceu nesta segunda (17) após a família decidir que gostaria de ser ouvida pela Michelle e dar a oportunidade da primeira-dama pedir desculpas pela exposição indevida das menores de idade.
O principal problema, segundo os relatos, foi com a insinuação que o presidente fez de que as meninas fossem prostitutas — o que é negado pelos venezuelanos e pela Cáritas Arquidiocesana de Brasília, que acompanha os refugiados em São Sebastião.
Com a exposição da família, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e a Defensoria Pública da União passaram a acompanhar as venezuelanas.
Michelle Bolsonaro e a ex-ministra Damares Alves foram convocadas no domingo (16) pela campanha de Bolsonaro para conversar com a família venezuelana e arrefecer a crise causada pela fala do presidente.
Em entrevista ao podcast Paparazzo Rubro-Negro na sexta (14), Bolsonaro disse que, enquanto dirigia por São Sebastião, a cerca de 30 km do centro de Brasília, ele encontrou adolescentes venezuelanas quando "pintou um clima".
"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade", disse o presidente durante a entrevista.
"Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando — todas venezuelanas. Meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Quer isso para a tua filha? E como chegou a este ponto? Escolhas erradas."
No domingo, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) enviou equipes à comunidade Morro da Cruz, em São Sebastião, para encontrar os venezuelanos e propor um encontro com Michelle e Damares.
O objetivo inicial era gravar um vídeo com a família e contar, em detalhes, o que ocorreu no dia em que o presidente a visitou.
A família venezuelana não quis gravar o vídeo, para evitar a exposição do caso.
Em 10 de abril de 2021, um sábado, Bolsonaro fez um passeio por São Sebastião e entrou numa casa em que viviam mulheres venezuelanas que fugiram da crise político-econômica no país vizinho. Na ocasião, ele fez uma live na qual criticou as medidas sanitárias então adotadas por governadores contra a Covid.
As garotas venezuelanas recebiam, naquele dia, uma ação social com foco em questões estéticas e de bem-estar, como maquiagem e massagem.
Durante a entrevista ao podcast, Bolsonaro insinuou que as adolescentes estavam bem vestidas e "arrumadas" na tarde de sábado para "ganhar a vida", em referência a exploração sexual.
Na entrevista que originou as críticas a Bolsonaro, o objetivo do presidente era reforçar o mote de um suposto risco de o Brasil "virar uma Venezuela" caso Lula vença o segundo turno do pleito presidencial.
A fala do mandatário também foi criticada por sugerir que ele não tomou providências diante de uma situação de exploração sexual de menores. Ainda que a campanha admita a repercussão negativa do caso, o episódio não é visto como definidor na disputa pelo Planalto, segundo o entorno do mandatário.
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