Além da alegada defesa do presidente Jair Bolsonaro, militantes bolsonaristas passaram a usar os protestos semanais em Brasília para impulsionar suas pré-candidaturas nas próximas eleições.
São ativistas que, ao discursarem nos caminhões de som ou com transmissões nas redes, buscam repetir agora o mesmo fenômeno que levou à eleição de deputados como Carla Zambelli (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB).
A Folha de S.Paulo identificou, dentre os militantes mais ativos nos protestos, pré-candidatos em diversas cidades do país -ou que são assim apontados pela imprensa local.
São nomes que pretendem concorrer para prefeito ou obter vaga nas Câmaras Municipais em cidades como Corumbá (MS), Sinop (MT), Luziânia (GO), Criciúma (SC), Uberlândia (MG), Volta Redonda (RJ), Belo Horizonte (MG) e Anápolis (GO), entre outras.
Eles, no entanto, afirmam que a participação nos atos têm o único objetivo de apoiar Bolsonaro. O ganho de popularidade seria um efeito colateral, do qual não reclamam.
O empresário Marcelo Stachin, 34, tornou-se figura conhecida. O loiro alto, que frequentemente veste roupas de aspecto militar, chegou a ficar quase um mês na capital federal, marcando presença nas manifestações.
Stachin relata que registrou um aumento de 40% a 50% no número de seguidores nas redes sociais. Seu nome foi incluído em pesquisas de intenção de voto em sua cidade, Sinop (MT). Sites noticiosos da região também o apontam como provável nome nas urnas.
Ele diz não ser pré-candidato a prefeito. "Até a presente data, não há interesse algum de ser. Colocar-se como candidato neste momento, algumas pessoas entenderiam que estou usando esta construção da pátria e de valores para uma conquista individual."
"Agora, se acontecer de haver uma necessidade de uma representatividade no município de Sinop, eu estou à disposição", conclui ele, que é o presidente na sua região do PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão.
Stachin foi um dos alvos da operação deflagrada no âmbito do inquérito das fake news do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele não estava em sua residência no momento da ação de busca e apreensão, mas depois apresentou-se à unidade da PF em Cuiabá e se disse "tranquilo".
O ativista goiano Téo Gomes é um dos membros do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil, que chegou a ter um acampamento em Brasília para treinar militantes para a defesa do governo.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, a líder do movimento, a ex-feminista Sara Winter, reconheceu que alguns membros estavam armados, embora tenha dito que as armas eram apenas para defesa do grupo e não para atividades de militância. Ela também foi alvo da operação contra fake news.
Em Luziânia (GO), Gomes é apontado como pré-candidato a uma vaga no Legislativo municipal. No entanto, ele afirma que não usa os protestos para promoção pessoal.
"Eu sou pré-candidato em Luziânia, mas não tem relação entre as manifestações e a minha pré-candidatura", disse em entrevista por telefone, para em seguida afirmar que não queria ver seu nome publicado e ameaçou processar a reportagem.
Dias depois, Gomes pediu que a entrevista fosse por escrito. "Quero deixar claro que não sou líder dos 300 do Brasil, até então, não sou candidato a nada, apenas comungo com algumas ideias das manifestações, dentre elas, a soberania nacional, a defesa da família, o cristianismo, a tripartição dos Poderes e a democracia. Sou um cidadão comum exercendo meus direitos."
"Até então, não sou candidato, mas o que ficou em meu coração foi um discurso do papa Francisco no sentido de que os católicos devem se posicionar, contribuindo direta ou indiretamente na política para uma sociedade melhor", acrescentou.
Em Corumbá (MS), Elano Holanda de Almeida parte para a sua terceira eleição municipal, mas apenas a primeira ligada ao movimento bolsonarista - as outras candidaturas malsucedidas foram pelo PPS. Almeida também está em Brasília, atuando em um acampamento de militantes.
Sites noticiosos de sua cidade destacaram fotografia em que ele aparece junto com o militante acusado de agredir profissionais de enfermagem, durante ato na praça dos Três Poderes. "Estou focado aqui no apoio ao presidente Bolsonaro, de forma incondicional. Só isso", disse Almeida, recusando-se a responder outras perguntas.
O cientista político Carlos Melo, do Insper, afirma que é legítimo que líderes de protestos busquem espaço na política, fenômeno presente ao longo da história do Brasil.
Melo diz que a polarização a nível nacional tem potencial para beneficiar apoiadores do presidente.
O professor acrescenta que uma provável estratégia desses futuros candidatos seja abordar na campanha as políticas de distanciamento social, que promoveram ampla divisão na sociedade.
"Manifestar-se contra o distanciamento social significa falar em nome do presidente, mas também falar contra o prefeito que adotou essa regra. Com certeza esse discurso atinge uma parte insatisfeita da população."
Wagner Cunha, líder do MDC (Movimento Direita Conservadora), é apontado como pré-candidato a prefeito de Uberlândia (MG).
Assim como Bolsonaro, ele defende o que chamam de isolamento vertical -que preserva idosos e pessoas em grupos de risco, mas libera os demais para trabalhar. Além disso, considera essencial o retorno gradual da economia.
Em relação aos protestos, Cunha afirma que a participação é um "direito e um dever de todo patriota no exercício da sua cidadania".
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