O Ministério da Saúde deve pagar R$ 630 mil, em 2023, em cachês para artistas, esportistas e influenciadores que participaram de campanhas institucionais de vacinação e de prevenção às ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) no carnaval.
No caso da campanha de imunização, 17 personalidades devem receber R$ 30 mil cada, sendo que parte do grupo afirma que doará o valor. A médica Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz, e o influenciador digital Caio Braz abriram mão dos pagamentos.
Em nota, a Saúde afirma que o cachê está abaixo do que é pago pelo mercado e que o menor valor distribuído para cada participante das publicidades durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) foi seis vezes maior.
Além dos dois nomes que recusaram o cachê, participaram da campanha de vacinação os atores Caio Blat, Camila Pitanga, Beth Goulart, Mônica Martelli, Paulo Betti, Nívea Maria, Douglas Silva, Natália Lage, Sheron Menezzes, Leandra Leal e Camila Morgado.
Também aparecem nos vídeos defendendo a imunização o cantor Emicida, o influenciador Ivan Baron (um dos que entregaram a faixa presidencial a Lula na posse), a ex-atleta Daiane dos Santos e os esportistas Hebert Conceição, Vinicius Rodrigues e Raíssa Machado.
A atriz Camila Pitanga e o ator Caio Blat afirmam que vão doar os cachês. O boxeador Hebert Conceição afirma que aceitou receber o valor e os outros participantes não quiseram se manifestar ou não responderam à reportagem.
Integrantes do governo e pessoas que acompanharam a produção da peça dizem que mais personalidades doaram o valor, mas os nomes não foram divulgados.
Blat repassou os valores para o programa do próprio Ministério da Saúde na Terra Indígena Yanomami e à Atix (Associação Terra Indígena do Xingu), enquanto Pitanga afirma que o cachê será destinado para a ONG Redes da Maré.
Ele afirma também que desde o começo não se sentiu à vontade em receber o cachê, mas que "não vê nenhum problema" no pagamento.
A gestão Lula definiu a retomada das coberturas vacinais, além do reforço contra a Covid, como uma de suas metas. O enfrentamento à pandemia no governo Bolsonaro ficou marcado pelo desestímulo do próprio presidente à vacinação.
O governo federal costuma contratar personalidades para campanhas institucionais.
De 2019 a 2022, apenas a Secretaria de Comunicação de Bolsonaro pagou cerca de R$ 7 milhões em cachês.
Como revelou a Folha de S.Paulo, o apresentador Sikêra Jr., que já deu declarações homofóbicas no ar e era um defensor do ex-presidente, recebeu R$ 120 mil do governo Bolsonaro em sete campanhas publicitárias.
O Ministério da Saúde forneceu à reportagem os valores dos cachês das campanhas do SUS de 2023 via Lei de Acesso à Informação. Os dados não mostram se os pagamentos já foram feitos.
Ao menos duas figuras que participaram da campanha de vacinação compareceram, em fevereiro, à reunião da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com influenciadores: Blat e o influenciador Ivan Baron.
Blat diz que a participação na campanha não foi discutida na ocasião.
Na publicidade sobre prevenção de ISTs no Carnaval o governo pagou R$ 120 mil para quatro influenciadores digitais. Os cachês foram de R$ 15 mil a R$ 50 mil para publicações no Instagram estimulando o uso da camisinha.
O maior valor foi repassado a Esse Menino, influenciador que ganhou projeção nas redes sociais em 2021 com sátira sobre a demora do governo Bolsonaro em fechar a compra da vacina contra a Covid fabricada pela Pfizer.
O Ministério da Saúde diz que historicamente convida personalidades para campanhas publicitárias para ampliar o alcance e a conexão com o público-alvo.
A pasta afirma que todos os participantes da campanha de vacinação receberam o mesmo valor. "Considerado abaixo do que geralmente é pago a essas personalidades em trabalhos semelhantes. No governo anterior, por exemplo, o menor valor pago a uma personalidade por vídeos de campanha foi seis vezes maior."
A assessoria de imprensa do boxeador Hebert Conceição afirma que ele aceitou da Saúde valor inferior ao que cobra para campanhas publicitárias.
Camila Pitanga diz que aceitou participar da publicidade sob a condição de que todo o valor do cachê fosse doado.
Em nota, Pitanga afirma que "não haveria problema algum se o destino dado ao cachê fosse outro visto que é um trabalho -e não se pode criminalizar a atividade artística e a cultura".
Procurados via assessoria de imprensa, a ex-atleta Daiane dos Santos, o ator Douglas Silva e os esportistas Raíssa Machado e Vinicius Rodrigues não quiseram comentar sobre os cachês. Os demais participantes da campanha de vacinação não responderam à reportagem.
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