O ministro Marcelo Queiroga (Saúde) irritou membros da CPI da Covid por evitar responder perguntas sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento da pandemia.
Queiroga depõe na comissão nesta quinta-feira (6), em uma sessão também marcada por atos de obstrução dos trabalhos por senadores governistas.
Os senadores próximos ao Planalto contestaram a atuação do relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), e reagiram a cada pergunta mais incisiva e direta, para tentar evitar respostas que pudessem contrariar os interesses do governo Bolsonaro.
Queiroga tentou driblar perguntas relativas ao posicionamento pessoal do presidente Bolsonaro, recusou-se a dar sua opinião sobre o uso da hidroxicloroquina (medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid) e não quis fazer uma avaliação das condições do ministério e das ações de enfrentamento à pandemia no momento em que assumiu o cargo.
Queiroga se tornou ministro da Saúde em março, em substituição ao general Eduardo Pazuello, que saiu bastante criticado por sua atuação, pelo atraso na contratação de vacinas e pelo colapso do sistema.
O atual ministro respondeu que não recebeu nenhuma orientação de Bolsonaro referente ao uso da hidroxicloroquina, mas se recusou a avaliar a posição do presidente em defesa do medicamento.
"Todos nós estamos aguardando a resposta. Não tem três palavras, só tem uma: 'sim' e 'não'", disse o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). "Até minha filha de 12 anos falaria 'sim' ou 'não'", completou.
Queiroga, que é médico, também se recusou a dar sua própria avaliação sobre o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.
Afirmou que a instância adequada para analisar essa questão seria a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), da qual faz parte, que está elaborando um protocolo.
"Segundo o decreto-lei que regulamenta a Conitec, eu sou instância final decisória. Então, eu posso ter que dar um posicionamento acerca desse protocolo, de tal sorte que eu gostaria de manter o meu posicionamento final acerca do mérito do protocolo quando o protocolo for elaborado", disse.
Posteriormente, ele reconheceu que a hidroxicloroquina pode causar arritmias cardíacas, embora ressalte que são seguros. "A instância própria é essa. Esta é a instância", reagiu o relator, Renan Calheiros.
O ministro da Saúde não soube dar certeza a respeito de ações de sua pasta para a distribuição de cloroquina para estados e municípios, apenas disse que não tinha conhecimento.
"Eu não autorizei distribuição de cloroquina na minha gestão. Eu não tenho conhecimento de que esteja havendo distribuição de cloroquina na nossa gestão", disse Queiroga, após ser questionado.
Em diversos momentos do depoimento, Queiroga disse que não faria "juízo de valor" e assim evitou responder diretamente a perguntas feitas pelos parlamentares.
O ministro deu essa resposta, por exemplo, quando perguntado se concordava com a declaração de Bolsonaro de que poderia editar decreto contra política de isolamento social.
Após a insistência na pergunta, apenas respondeu que o presidente pensa em preservar a liberdade das pessoas e com isso ele concordava. Por outro lado, reconheceu que não foi consultado pelo Palácio do Planalto a respeito de uma medida nesse sentido, apesar de sua pasta estar no centro das discussões.
Em uma rara opinião sobre falas do presidente Jair Bolsonaro, Queiroga disse que desconhece "indícios de guerra química na China". No dia anterior, o presidente havia levantado essa possibilidade.
"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano [que] ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?", disse o presidente em evento no Palácio do Planalto. "Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês."
O ministro da Saúde também foi questionado sobre a quantidade de vacinas contratadas pelo país e se confundiu ao dizer o número.
Inicialmente, ele falou que houve contratação de 563 milhões de doses de imunizantes, mas foi corrigido por um assessor e alterou para 430 milhões a quantidade. A diferença entre os números são referentes a doses que a Fiocruz produzirá.
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