O ex-ministro Sergio Moro concluiu seu depoimento no prédio da Polícia Federal em Curitiba neste sábado (2), no inquérito que apura as acusações que ele fez ao sair do governo Jair Bolsonaro. Ele chegou a ficar mais de 8 horas no prédio.
Durante a manhã, a entrada do prédio da PF virou palco de protestos, com grupos em apoio ao ex-juiz da Lava Jato e outros a favor do presidente Jair Bolsonaro.
Moro chegou por volta das 13h15, mas entrou pelos fundos, frustrando a expectativa dos manifestantes. A chegada inflamou ainda mais os ânimos dos militantes pró-Bolsonaro, que na maioria gritou palavras de ordem contra o ex-ministro. Antes das 22h, foram pedidas pizzas no prédio da PF para servir equipes em meio ao depoimento.
Por volta das 18h45, a maioria dos manifestantes que cercavam a área saiu do local. Um pouco mais cedo, o grupo pró-Bolsonaro queimou camisetas com as imagens de Moro. Eles cercaram o ato com bandeiras do Brasil, impedindo a imprensa de filmar ou fotografar. Do carro de som, uma mulher anunciou o fim da "República de Curitiba" e o início do "Império de Curitiba".
Desde a manhã, com alguns momentos de tensão entre os dois grupos e ataques contra a imprensa, cerca de 50 manifestantes se aglomeraram diante do prédio da PF, que também já abrigou a vigília em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto ele estava preso.
Moro foi prestar depoimento ao lado do advogado Rodrigo Sanchez Rios, que também defendeu alguns presos pela Lava Jato. Entre eles, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, além de ter trabalhado no escritório que defendeu Marcelo Odebrecht. A ligação foi ironizada por dois filhos do presidente Jair Bolsonaro em publicações em redes sociais.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escreveu "ué..." ao compartilhar publicação que dizia: "O advogado do Sergio Mentiroso é o mesmo advogado da Odebrecht". O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) também distribuiu a mesma mensagem, com o comentário "Sem novidades!".
Diante da PF de Curitiba, de um carro de som os militantes pró-governo, mais numerosos, cantavam o hino nacional e gritavam palavras de ordem contra Moro, chamado na maior parte do tempo de traidor. "Não fomos nós, foi você que sujou sua biografia", discursou Marisa Lobo, uma das manifestantes.
Os manifestantes não quiseram falar com a imprensa. Havia idosos e crianças entre os militantes, que na maioria carregava bandeiras do Brasil e usava camisetas pró-Bolsonaro. Alguns estavam sem máscara, equipamento de proteção obrigatório no Paraná para conter o novo coronavírus.
De outro lado, apoiadores da operação Lava Jato tentaram contrapor o discurso majoritário. "Vendiam camisetas do Moro, sobreviviam com a Lava Jato. E foram capazes de ir pra rua queimar a camiseta. Não têm mais moral essas pessoas", criticou a empresária Simone de Araújo. Menos de dez pessoas integravam o grupo que usava camisetas e carregava faixas a favor da Lava Jato.
Simone conta que já fez parte do Acampamento Lava Jato, grupo que agora mudou de nome para apoiar Bolsonaro. "Infelizmente a gente caiu na armadilha de novo. Se não fosse Moro, Bolsonaro não estaria na Presidência, o Lula estaria. Isso os bolsonarianos não reconhecem", diz a empresária.
Até mesmo um apoiador de Lula queria acompanhar a chegada de Moro à PF. "É a oportunidade de ver ele depor e prestar esclarecimentos ao país, não só em relação a esse episódio da saída do ministério. A divulgação o áudio da presidente Dilma com o Lula foi o estopim de tudo que a gente tá vivendo", afirma Álvaro Faria, servidor público do estado.
Com uma camiseta com o rosto de ex-presidente, ele foi hostilizado pelos demais manifestantes e acabou deixando o local.
A imprensa também foi atacada. Um dos manifestantes empurrou a câmera do cinegrafista da RIC, afiliada da rede a Record no Paraná, e iniciou uma confusão. Com um bandeira do Brasil, ele gritava palavras de ordem contra a Rede Globo. Ele foi contido por policiais e deixou o local.
Depois do episódio, a polícia resolveu separar o espaço em frente ao prédio da PF. De um lado, estão os apoiadores de Moro. De outro, de Bolsonaro. O espaço central ficou com a imprensa.
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