Celso Pinto, um dos mais influentes jornalistas de economia do país e criador do jornal Valor Econômico, morreu na tarde desta terça-feira (3) em São Paulo.
Afastado das redações desde maio de 2003, quando sofreu uma parada cardiorrespiratória, Celso foi internado com pneumonia há duas semanas e não resistiu a complicações decorrentes da doença. Ele tinha 67 anos.
Nascido em São Paulo, formado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, Celso começou na profissão em 1974, contratado pela Folha de S.Paulo como repórter de economia.
Tinha 22 anos de idade e apenas cinco meses de experiência como jornalista quando foi destacado para cobrir uma reunião da Organização Internacional do Café, em Londres.
Saiu-se tão bem que foi recompensado na volta ao Brasil com o primeiro aumento de salário, como lembrou tempos depois o jornalista Matías Molina, que editava a seção de economia da Folha de S.Paulo na época.
Após alguns meses, Celso foi convidado para trabalhar na Gazeta Mercantil, então o principal diário econômico do país. Ele foi editor de finanças e assuntos nacionais, trabalhou em Brasília e como correspondente em Londres. O jornal deixou de circular em 2009.
Em 1996, Celso voltou à Folha de S.Paulo como colunista, a convite do publisher do jornal, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007). Escrevia quatro vezes por semana, e seus artigos, publicados no primeiro caderno, tornaram-se leitura obrigatória para ministros, banqueiros e empresários.
Celso foi um dos primeiros jornalistas a apontar os riscos criados pela política de valorização cambial adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso para conter a inflação na década de 90, abandonada em meio a uma crise no início do segundo mandato do tucano na Presidência.
Nos almoços para discussão de editoriais da Folha de S.Paulo, Celso marcava presença defendendo com veemência suas posições, sempre alicerçadas pelas informações que recolhia com suas fontes. Costumava polemizar com o jornalista Clóvis Rossi (1943-2019), com quem discutia até quando o assunto era a temperatura do ar condicionado da sala dos editorialistas.
Em 2000, quando os grupos Folha e Globo se uniram para lançar um jornal especializado em economia, Celso foi chamado para liderar o projeto. Ele o desenvolveu com uma equipe que chegou a reunir 160 jornalistas, incluindo vários colegas que tinham trabalhado com ele na Gazeta e na Folha de S.Paulo.
O Valor chegou às bancas em maio de 2000 e logo se tornou a publicação mais relevante do país em sua especialidade. Celso foi seu diretor de Redação e manteve uma coluna semanal no jornal até 2003, quando passou mal durante uma partida de tênis e teve a carreira interrompida abruptamente.
Em 2016, o grupo Globo comprou a parte da Folha no Valor e passou a controlar o jornal sozinho. Celso foi membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo até 2019.
Uma amostra representativa do trabalho do jornalista foi reunida numa coletânea de 90 artigos editada pela Publifolha em 2007, "Os Desafios do Crescimento: dos militares a Lula". Seus textos eram precisos, didáticos e desprovidos de adornos estilísticos.
Como o economista Persio Arida contou no prefácio do livro, Celso chegou a ser convidado para trabalhar com a equipe que formulou o Plano Real, em 1994. A ideia era que acompanhasse as discussões do grupo para depois documentar num livro o processo de construção do plano econômico.
Celso, que trabalhava para a Gazeta Mercantil em Londres nessa época, disse que achava a proposta fascinante, mas recusou o convite. Argumentou que sua credibilidade como jornalista dependia de sua independência e temia perdê-la associando-se a um projeto do governo.
Tocava piano, usava suspensórios e tinha um humor que os leitores de seus artigos sóbrios ficariam surpresos em conhecer.
Semanas antes do lançamento do Valor, ao receber da gráfica os primeiros exemplares do número zero numa reunião, passou os olhos pela edição e atirou os jornais para o alto com alegria. A cena foi registrada por um fotógrafo e publicada pelo Valor em 2010, na edição de seu décimo aniversário.
Casado com a jornalista Célia de Gouvêa Franco, editora-executiva do Valor, Celso deixa dois filhos, Pedro e Luis.
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