SÃO PAULO - O registro da primeira morte por varíola dos macacos no Brasil nesta sexta-feira (29) é um indicativo de que é importante aumentar os esforços para conter a alta disseminação do vírus monkeypox no país, afirmam especialistas.
Para Julio Croda, médico infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o anúncio acende um alerta importante. "Até o momento não tínhamos paciente grave. Agora, inclusive, temos um óbito."
A morte foi de um homem de 41 anos imunossuprimido e com histórico de comorbidades, incluindo câncer. Segundo o Ministério da Saúde, o paciente "ficou hospitalizado em hospital público em Belo Horizonte, sendo depois direcionado ao CTI [terapia intensiva]. A causa do óbito foi choque séptico, agravada pela monkeypox". A Secretaria da Saúde de Minas Gerais também confirma que o paciente já estava em acompanhamento para "outras condições clínicas graves".
Clarissa Damaso, virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessora do comitê da OMS (Organização Mundial da Saúde) para pesquisa com vírus da varíola, diz que pessoas imunossuprimidas têm maior risco para quadros graves da doença.
"Essa morte é algo que já prevíamos que poderia acontecer. Sabemos que grupos de gestantes, crianças e pessoas com imunossupressão são aqueles que devemos prestar maior atenção porque pode haver complicações muito graves da infecção por monkeypox."
O óbito também eleva a preocupação para o grau de disseminação que a doença apresentou nos últimos dias. Informações do Ministério da Saúde desta sexta apontam 1.066 casos da doença. Em 9 de julho, havia 218 diagnósticos confirmados no país.
"Temos que intensificar os esforços para conter essa doença", afirma Damaso.
Em todo o mundo, os casos estão concentrados em homens que fazem sexo com outros homens com múltiplos parceiros sexuais. No entanto, o vírus pode infectar qualquer pessoa e, desse modo, atingir grupos com maior risco.
"Nós sabemos que a transmissão deve se expandir para outros grupos e para contato domiciliares. Já temos casos confirmados em crianças", diz Croda.
O infectologista ainda diz que a morte é um sinal de alerta para um melhor preparo do Brasil no que diz respeito à vacinação contra a varíola dos macacos. "É importante entender qual seria o grupo prioritário da vacina. Em relação à gravidade, talvez sejam as pessoas imunossuprimidas", diz.
O país não conta com imunizantes e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta segunda (25) que a vacinação deve ser restrita a grupos prioritários, como profissionais da saúde.
A pequena capacidade de fabricação das vacinas contra a varíola dos macacos é outro problema apontado pelos especialistas. "Há muito poucos fabricantes no mundo e eles não têm uma produção nessa escala que precisamos atualmente", explica Damaso.
Ela também ressalta que não existem indicações para a vacinação em massa. As recomendações normalmente apontam para profissionais de saúde. Pessoas que tiveram contato com infectados também podem receber o imunizante porque ele consegue barrar a evolução da infecção mesmo após a exposição ao vírus.
A vacina Jynneos, da farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, é o único imunizante licenciado no mundo para a varíola dos macacos. Ela já foi aprovada para prevenção da doença por importantes agências internacionais, como o FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA) e a Comissão Europeia.
Outra possibilidade é a utilização de vacinas que foram desenvolvidas para prevenção da varíola comum. Um desses casos é a ACAM2000, que está sendo utilizada contra monkeypox nos Estados Unidos.
Nesta sexta (29), a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgaram recomendações para evitar a infecção por monkeypox. As organizações explicam que os sintomas comuns à varíola dos macacos, como as lesões na pele dos pacientes, podem ser confundidos por outras doenças.
"A SBU e a SBI recomendam que, diante de suspeita, que se acione a vigilância epidemiológica de cada região para orientações quanto à coleta de amostra e análise laboratorial, e, sempre que possível, seja feito um registro fotográfico das lesões", afirmam as sociedades em nota.
Medidas para prevenção também devem ser tomadas, como higienização constante das mãos com álcool 70% ou água e sabão, diminuir o número de parceiros sexuais e isolamento em caso de suspeita da infecção.
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